Caroline Tuttman
COPPEAD E-Gov
Published in
4 min readJul 6, 2020

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A corrida pela transformação digital no setor público

Pressionado pelas inovações digitais promovidas pelo setor privado, o setor público tenta se estruturar. Ninguém quer ficar para trás na corrida pelo espaço digital.

Especialmente agora, em tempos de distanciamento social, há uma tendência pela lamentação em relação ao que poderia já ter sido implantado e conquistado em termos de inovações tecnológicas. Teríamos agora melhor qualidade de serviço público e de trabalho remoto. Mas por que, afinal, o setor público não consegue ser mais ágil na execução da transformação digital?

Independente de setor público ou privado, podemos definir brevemente a transformação digital como o ganho de valor obtido na alteração de processos organizacionais através de novas tecnologias. No entanto, o que precisa ser observado é que há na verdade 3 dimensões que compõem a transformação digital: Tecnologia, Processos e Pessoas. Sim, Pessoas! É para atender às necessidades de pessoas que implantamos novos processos mais ágeis e eficientes. E é apenas através de pessoas que conseguimos realizar essa transformação.

Muito se tem debatido sobre as novas tecnologias disponíveis (Inteligência Artificial, Machine Learning, Analytics, Blockchain, BigData entre outros), como fazer para implantá-las ou para que realmente servem. E apesar dos acalorados debates que acontecem nas organizações, sejam em reuniões estratégicas ou em rodas de cafezinho, no fim do dia continua pairando a dúvida: quem vai se debruçar a entender e implantar as tão almejadas mudanças? Porque, afinal, cada membro da organização está ali dando seu melhor para que o operacional do dia a dia continue funcionando a pleno vapor.

Não se pode esperar que uma equipe consiga manter o nível de excelência operacional e ao mesmo tempo promover uma mudança substancial no processo organizacional. Fazer isso resultará em um processo digital incompleto que apenas refletirá o anterior processo analógico, não tendo assim tirado proveito do real potencial das novas ferramentas, ou então, por falta de foco na inovação a ser promovida e dúvidas existenciais sobre os perigos que a abordagem traz, a transformação se arrastará por tempo suficiente até ninguém mais acreditar no projeto.

Aliás, esta é a palavra-chave: Projeto. Tratemos a transformação digital como projeto que é: fundamental para a sobrevivência da organização. Vale lembrar que se define projeto como “um esforço temporário com início, meio e fim”.

É, portanto, imperioso criar a equipe multidisciplinar conforme necessidade de cada projeto, assim como prevê a tradicional gestão de projetos, sem nem precisar entrar em detalhes pormenorizados de metodologias tradicional ou ágeis. E aqui que está o pulo do gato para o sucesso da empreitada no setor público: a integração de membros tem fórmula certa. É necessário destacar pelo menos um membro técnico da área de negócios para a equipe do projeto. Destacar de verdade. Tirar da equipe operacional. Deixar o setor de TIC trabalhar com os setores de atividade fim apenas como clientes é um tiro no pé no setor público, diferente do setor privado. Explico: como a organização privada tem como objetivo final o lucro, não será problema algum se a equipe de transformação digital acabar inovando um processo a ponto de criar um serviço novo, contanto que este seja lucrativo. Será um spin-off da empresa e todos ganham.

Já no público, o objetivo não é o lucro, mas sim a prestação de um serviço específico. Transformá-lo a ponto de criar um serviço novo não é o desejável, a priori. O que se pretende é atender melhor aos anseios dos cidadãos. Então, de forma a garantir a especificidade do serviço a ser prestado, um especialista da área de negócios fará o papel de guardião das especificidades do serviço dentro da equipe de transformação digital. Este técnico não pode estar em posição de se preocupar com as minucias do operacional do dia a dia e tem que poder dar um passo para trás para visualizar e analisar o processo organizacional como um todo. Portanto, junto com a equipe multidisciplinar que entende as oportunidades que as novas tecnologias proporcionam, poderão criar novos processos organizacionais sem perder o foco nem as amarras legislativas e técnicas. Ainda cabe a esta pessoa técnica destacada fazer a gestão da mudança, promover o diálogo entre as duas equipes para reduzir o abismo entre a forma de operar o hoje e o que será amanhã. Será um elo de conexão fundamental para o sucesso do projeto.

Em suma, não se pode mais pensar em TIC como objeto terceirizável. Essa outra forma de organização de trabalho é peça chave para ganhar a necessária agilidade e pragmatismo. Dessa forma o setor público terá mais chances de tirar o atraso e conquistar o espaço digital.

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