Trump apontando seu dedo curtinho durante um comício em Portland, no Maine: a guerra está declarada. (Foto: reprodução de vídeo)

Partido Republicano (finalmente) declara guerra à candidatura de Donald Trump

Mais do que impedir que o Super Franja vença a indicação, a legenda luta para salvar sua história e sua própria imagem

3 min readMar 4, 2016

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Os primeiros sinais de que o establishment republicano ia se mexer surgiram no debate da semana anterior. Naquela quinta (25/02), pela primeira vez, Marco Rubio e Ted Cruz partiram para cima de Donald Trump. Não ficava claro se era um movimento do partido, porque os dois são os únicos pré-candidatos ainda com alguma chance de derrotar o magnata. A Super-terça (01/03), porém, parece ter despertado o G.O.P* do sono letárgico que o fez deixar Trump sair da jaula no início das primárias.

Ontem (03/03), dois dias depois das vitórias preocupantes do Super Franja em sete estados, Mitt Romney, ex-governador de Massachussets e ex-candidato a presidente em 2012, convocou uma conferência de imprensa. Única e exclusivamente para atacar Trump, a quem acusou de ser “falso, manipulador, uma fraude que vai levar a economia americana à recessão e criar ainda mais inimigos externos para os Estados Unidos” com sua xenofobia e intolerância.

– Desonestidade é a marca registrada de Donald Trump — disparou Romney (vídeo acima, em inglês). — Qualquer outro entre os concorrentes seria melhor, e ele não terá o meu apoio se for o candidato republicano.

Trump reagiu minutos depois, num evento de campanha no estado do Maine (vídeo ao lado, em inglês).

– Ele é um candidato fracassado, que em 2012 ele estava disposto a fazer qualquer coisa pelo meu apoio — respondeu Trump, antes de continuar com sua habitual falta de sutileza: — Se eu dissesse, “Mitt, de joelhos!”, ele se ajoelharia na mesma hora.

Guerra Suja — A guerra está declarada e a primeira prova de que ela não será limpa foi dada algumas horas depois, no debate promovido pela Fox News. Trump iniciou o encontro defendendo o tamanho de sua genitália. Não não, você não se enganou. É isso mesmo, ele queria dizer aos eleitores que “não há nada de errado com o tamanho das minhas mãos, ou dos meus dedos, nem de nada mais no meu corpo”.

Super Franja estava incomodado porque, durante a semana, Marco Rubio havia desenterrado uma velha piada criada pelo jornalista canadense Graydon Carter há mais de 25 anos para irritá-lo. Carter, hoje editor da Vanity Fair, classificou Trump como um “short-fingered vulgarian”.

– Vocês já viram as mãos deles? — perguntou Rubio a uma plateia de apoiadores durante um comício na Virginia — Sabem o que dizem de homens com mãos pequenas? Não se pode confiar neles.

Próximos passos — O pronunciamento de Romney escancarou a crise interna do Partido Republicano. Enquanto a base de eleitores conservadores vota entusiasmada no Super Franja, a direção enxerga nele uma ameaça ao futuro da legenda, por seu potencial de arruinar a economia e as relações internacionais dos Estados Unidos. Ao ponto de uma parte do establishment preferir perder a eleição para os democratas, se o preço da vitória for colocar o magnata dentro do Salão Oval.

O grande dilema é como manobrar o processo para evitar que o Super Franja conquiste nas urnas os delegados necessários para ser indicado. Ao contrário do que acontece no partido democrata, os superdelegados republicanos não podem mudar o voto. Devem acompanhar a decisão dos eleitores do estado que representam.

Uma saída seria cacifar um nome novo, com força para roubar delegados nas primárias que restam até a convenção. Seria Mitt Romney? Ainda não está claro. Os caucasus de amanhã (05/03), que está sendo chamado de Super-Sábado, nos estados do Kansas, Kentucky, Lousiania e Maine, ajudarão a definir as próximos frentes de batalha dessa guerra.

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Jornalista e escritor, autor de "Jornal da Tarde", vencedor do Prêmio Livro-Reportagem Amazon 2019