O senador Ted Cruz com a família: representante das ideias do Tea Party largou na frente na corrida pelas primárias republicanas. Foto: Divulgação de campanha

Ufa, Trump perde no Iowa. Mas dá para comemorar a vitória de Ted Cruz?

A derrota do bilionário é um alento; mas a ascensão do senador pelo Texas que promete erguer um muro na fronteira dos Estados Unidos com México não chega a ser um alívio

3 min readFeb 2, 2016

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A primeira vista, o fato de os eleitores republicanos do Iowa terem rejeitado o discurso racista, xenófobo e sexista de Donald Trump pode soar como um alento. Trump terminou as primárias no Iowa, na noite de segunda-feira, com 24.3% dos votos, depois de ter liderado as preferências em quase todas as pesquisas. A notícia só não é mais empolgante porque o vencedor da noite, o senador Ted Cruz, defende ideias muito semelhantes às de seu principal oponente até aqui. A única diferença é o tom, mais comedido, típico de alguém acostumado aos palanques.

Filho de um exilado cubano que lutou nas fileiras de Fidel Castro no início da Revolução de Sierra Maestra, Ted Cruz renega seu passado latino. Ele se recusa a falar espanhol, por exemplo, e uma de suas principais plataformas é “reformar as leis de imigração para defender os trabalhadores americanos”. Não deixa de ser irônico, para alguém que nasceu no Canadá e quer apenas o emprego mais importante do país.

Entre as medidas na área de imigração que Ted Cruz defende está a construção de um muro físico na fronteira dos Estados Unidos com o México. Ele também prega a manutenção da liberdade ampla de compra de armas por qualquer lunático, o casamento exclusivamente entre homem e mulher como pilar sagrado da sociedade, é contra o planejamento familiar — leia-se, aborto — e promete rasgar o acordo nuclear assinado com o Irã e empregar força militar para derrotar o Isis.

Esse cara, que trás lágrimas aos olhos dos velhinhos do Tea Party, venceu a primária no Iowa com 27,6% dos votos e larga na frente na disputa pela indicação do partido.

O senador pela Flórida Marco Rubio. Foto: divulgação de campanha

Terceira via — O outro resultado digno de nota foi o bom desempenho do senador pela Flórida Marco Rubio, que terminou a disputa em terceiro lugar com 23,1% dos votos. Rubio, que também é filho de imigrantes cubanos, parece despontar como a opção moderada do partido, o nome a ocupar o vazio deixado por Jeb Bush, primeira escolha do establishment, mas que não conseguiu chegar aos 3% na votação de ontem.

Não se deixem iludir, porém, pelo fundo encarnado da foto acima. Rubio é só um pouquinho mais ponderado, mas também defende extradição de imigrantes, muro na fronteira, casamento exclusivamente entre homens e mulheres e combate ao comunismo em Cuba. Este último, claramente, de olho nos votos dos milhares de cubanos residentes na Flórida que, por alguma razão que me foge, não apóiam o filho ilustre.

Ele se vende como o único conservador capaz de derrotar Hillary Clinton — como se ela já estivesse escolhida como candidata democrata. E se acha um predestinado, que vai liderar a nação mais especial do planeta…

Como se vê, a situação não está nada boa para os lados da turma do pork ribs com barbecue sauce.*

*Diante da inexistência de coxinhas e de catupiry nos Estados Unidos, tomei a liberdade de adaptar a figura de linguagem ao cardápio local.

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Jornalista e escritor, autor de "Jornal da Tarde", vencedor do Prêmio Livro-Reportagem Amazon 2019