Caravana DF rumo ao 4° ELLA : Um caminho tecido pela coletividade

ELLA
ELLA 2018 | ESPAÑOL
4 min readDec 9, 2018

Madu Krasny e Tainá Aragão| Cobertura Colaborativa ELLA

Todas e todes a bordo! Nós vamos pra Argentina, construir uma América Latina toda feminista!

O caminho nunca é um trajeto de uma única via, principalmente, quando se trata de uma caravana. A caravana DF para o Encontro Latinoamericano de Feminismos representa o encontro de vários caminhos, histórias de mulheres com diferentes trajetórias que se dispuseram a fazer juntas uma caminhada de dois dias rumo a La Plata- Argentina. Esse texto também percorre dois caminhos distintos -em uma proposta experimental- o primeiro de uma travesti negra e periférica, e outro de uma migrante nortista, igualmente periférica. O que nos une, além da comunicação, é o feminismo em diferentes vertentes e a luta pela defesa dos nossos corpos diversos.

Madu Krasny

Quando veio o convite, numa manhã de quinta, há dois meses atrás, o coração faltou sair pela boca!

O desejo de participar do ELLA já existia desde 2017, quando conheci através de uma reunião do pré-ELLA, no Jovem de Expressão, na Ceilândia, periferia do Distrito Federal. Entretanto, naquele ano não conseguimos uma caravana para levar mais manas, diferentemente deste ano, em que 40 mulheres, em sua diversidade, têm a oportunidade de levantar suas bandeiras na luta feminista latino-americana.

Enquanto travesti, negra e periférica minhas bandeiras são o transfeminismo e o feminismo negro e o periférico! Interseccioná-los é necessário. Na resistência, na trincheira e no pajubá, eu vim pra somar!

Olha ELLAs!

Algumas das companheiras que fazem parte da caravana, anteriormente, fizeram outros caminhos para chegar até Brasília. Esse é o caso de Geraci Aicuna, indígena Tikuna , de Tabatinga, terra indígena localizada na tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil. Aicuna estuda nutrição na Universidade de Brasília, faz parte Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB, e compartilha durante a travessia até La Plata, o que é ser uma mulher indígena no espaço urbano, e os desdobramentos do feminismo indígena a partir da sua vivência.

“Eu fui a filha prometida, casei com 13 anos, acredito que isso era muito cultural, por exemplo, pra eu estudar, meu pai nunca permitiu, eles não aceitavam porque eu era mulher. Eles não aceitam que mulheres saiam sozinha da aldeia, percebe-se que durante muito tempo deixamos os homens passar, mas esse cenário mudou, as meninas estão se tocando que não devemos ser representadas o tempo todo, nos também podemos próprias nos representar.”, inicia Geraci.

O povo Tikuna tem uma população de aproximadamente 46 mil pessoas no Brasil, divididas em 18 comunidades. Por meio do processo seletivo diferenciado para indígenas, alguns deles se deslocam para Brasília e ingressam na UnB. Atualmente a Universidade possui 72 dois estudantes indígenas diferentes cursos e etnias.

“Em Brasília somos várias etnias e apenas uma luta. A questão da união do movimento indígena é muito forte, dentro disso, a gente não aceita ser representadas mais por homem, hoje em dia eles sabem que se não for uma mulher para a representação é problema dentro da comunidade.”

Geraci conta que o trajeto até a cidade de Brasília também esta sendo problemático, principalmente pela falta de conhecimento de não-indígenas sobre a realidade contemporânea dos indígenas no Brasil. “Eu estava vendo os memes mais cedo e acredito que é bem representativo da minha vida em Brasília, dizia — Você é índia de verdade? E a índia respondia- sou só uma miragem, Você é branca de verdade?. As pessoas pensam que ficamos no passado, um grande ilusão”

Com a perspectiva de debater as questões indígenas no território brasileiro, e dialogar sobre as estratégias de enfrentamento as violações de direitos de indígenas em contexto urbano, é que a presença de Geraci se faz necessária.

Thamires Cursino , participante do coletivo Jovem de Expressão , está saindo do Brasil primeira vez, inaugurando sua andança justamente no ELLA, numa caravana que representa uma pluralidade de mulheres, é grandioso!

“Representar o Jovem de Expressão no encontro é especial! Sou totalmente grata, pois foi e é meu local de formação. As mulheres do espaço, que ajudam a construir diariamente um local de acolhimento e formação para a juventude da Ceilândia e do Distrito Federal estão representadas na caravana DF! Nossa construção é coletiva e ultrapassa fronteiras”, enfatiza.

Enquanto professora e educadora, ela levanta as bandeiras da educação e dos movimentos sociais.

“Em tempos de retrocesso e graves ataques aos direitos, se é fundamental para a resistência que sempre tivemos, mas que será indispensável nos próximos anos”, finaliza Cursino.

Construir o 4° ELLA através da nossa participação é buscar estratégias para que nossa voz ecoe, é o nosso espaço para isso, estamos em um tensionamento expansivo. Aqui o feminismo no nosso continente se fortalecerá em diferentes formatos e discussões, essa experiência com a luta das mulheres de outras partes da América Latina será o impulso necessário para enfrentarmos o que está por vir. Seguiremos juntas e juntes construindo essa caravana libertária e feminista- resistindo- seguiremos!

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