Joana D’Arc: A Bruxa que virou Santa

Um pouco mais sobre a camponesa que se transformou em mártir da nação francesa, e também um símbolo da bruxaria para o clérigo inglês

Denise Maliska
Espaço livre do oculto
7 min readApr 4, 2019

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Colagem por Deni Maliska

Provavelmente, muitos já ouviram falar desta santa da igreja católica, a guerreira que lutou na Guerra dos Cem Anos. Porém, pouco se fala sobre sua vida e desmitificação à cerca de alguns fatos importantes.
Podemos começar, falando sobre um dos principais mitos a respeito de
Joana D’arc:

Que ela lutou em todas as batalhas francesas.

Isto é um fato que não é real, visto que Joana D’arc era de origem camponesa, e por assim sendo, não tinha nenhum tipo de experiência de guerra, muito menos era valorizada pelos generais a ponto de participar ativamente dentro de um campo de batalha. Sua figura participava de todos os confrontos militares, porém era um ícone. Servia como símbolo de esperança para os soldados, e ela mesma fazia questão de participar como motivadora, já que sua fé cristã em Deus a fez se tornar a heroína da França, como ela mesma alegava, sua missão de vida.

Podemos resumir sua vida em quatro importantes fatos:

  1. Sua busca até o Delfim da França
  2. Conquista Territorial
  3. Ascensão Como Nobre
  4. Inquisição

Podemos começar contando melhor sobre como Joana D’arc chegou a fama e ganhou a confiança do Delfim da França, podendo realizar seu intento.

Nascida em 6 de janeiro, no ano de 1412, Joana veio de uma família de camponeses no vilarejo Dómremy, na província de Lorena. Na época, fazia parte do Ducado da Borgonha. Os Darc — posteriormente escrito d’Arc — eram uma família de camponeses com poucas posses. Em geral a população de Domrémy era humilde. (MADDOX, 2012, p. 418).

Aos 13 anos de idade, ela alegou ter tido sua primeira visão com São Miguel Arcanjo, em um dia que havia trabalhado no campo e sentou-se embaixo de uma árvore. Também alegava ter tido aparições com Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida da Antioquia. (BANFIELD, 1988, p. 12).
Ela alegava ouvir as vozes dos anjos desde a infância, e aos 16 anos ter sido convocada pelo São Miguel para buscar ao delfim, e para que isso fosse possível, necessitaria do apoio de um nobre e por isso mesmo ela foi em busca de Robert de Baudricourt (c. 1400–1454).

Assim, foi até a cidade do nobre, Vaucouleurs, na tentativa de conseguir apoio. Porém, foi completamente ignorada, retornando para seu vilarejo.
Em 1429, retornou para a cidade de Vaucouleurs, provavelmente recebendo algum recurso de sua família para se manter, e assim continuou pregando que havia recebido uma missão de Deus para ajudar o delfim da França em conquistar seu trono e derrotar a invasão inglesa. Sua história começou a se espalhar por todo o povoado, e assim conquistou a simpatia de Jean de Metz, escudeiro de Robert de Baudricourt, que apoiou sua causa.

Com sua fama, conseguiu ser transferida para onde estava a corte francesa, e em 13 de fevereiro de 1429, Joana d’Arc foi escoltada para se encontrar com o delfim Carlos em seu castelo em Chinon. Sua fé cega em Deus e sua crença em ter sido enviada pelo Arcanjo São Miguel, surpreendeu a todos, mas ainda assim, custou para que o futuro rei acreditasse em seus relatos.

Se aproveitando de sua estadia em Chinon, Joana convenceu o rei a tentar retomar Orleans de volta, que estava possuída por sete fortes ingleses, apesar de relutante ela afirmou que dessa vez seria diferente. Para poder seguir com a missão, foi transferida para ser testada e analisada pelos clérigos, que se certificaram de sua fé cristã. Também quiseram se certificar de que ela era virgem. Apesar de ter acompanhado as tropas francesas em direção a Orléans, Joana não participou do fronte de batalha, apenas servia como símbolo de esperança e acompanhava a tropa quase como um ídolo.

Incomodou em parte o exército, já que por ser uma camponesa que não possuía sangue nobre, o fato de dispor do título de cavaleiro, inclusive recebendo armadura e o brasão de armas de um, além de acompanhar o exército, foi algo não apenas inusitado, mas que não agradou parte do comando militar.

Porém, a guerra beneficiou a mesma, já que em questão de três dias os franceses já haviam conseguido retormar três fortes, algo que em meses não haviam logrado. Isso fez com que vissem Joana como um amuleto, alguém que lhes trazia sorte. E assim continuou acompanhando o exército até o fim da tomada do forte de Les Tourelles, fazendo com que os ingleses se retirassem do território. Sua fama como heroína, assim como suas aparições, começaram a crescer cada vez mais, tanto pelo país como para os ingleses, que começaram a se incomodar com tamanha fé por parte de Joana D’arc.

Sua verdadeira missão aconteceu, quando ao retornar para Chinon, ela recebeu a tarefa de realizar a coroação do delfim Carlos, que tradicionalmente era realizada em Reims, pois o rei Clóvis I do Francos (c. 466–511), foi ali coroado em 496, por São Remígio. O desafio se encontrava na estrada do palácio até a cidade, que estava dominada por tropas inglesas.

Com a vitória das tropas em Orléans, a população e a coroa estavam confiante que Joana realmente possuía um poder oriundo de Deus, e que suas alegações eram verídicas. Por isso mesmo, junto a três generais franceses, ela partiu para abrir os caminhos para a coroação. As batalhas se desenrolaram entre 11 a 17 de junho de 1429. Os franceses obtiveram vitórias consecutivas em Jargeau, Meung, Beaugency e Patay. (MADDOX, 2012, p. 432).

Na batalha de Patay, o Conde Suffolk e o Lorde Talbot foram feitos de prisioneiros, e assim várias lendas surgiram a respeito dos feitos dos franceses. A coroação do Rei Carlos foi realizada em Reims, e assim pode-se considerar que esse é o ponto mais alto da rápida ascensão de Joana.

Apesar de ter criado expectativas quanto ao rei, não conseguiu realizar sua terceira missão, que era unificar toda a França. Em dezembro de 1429, o rei concedeu a Joana o título de nobre e lhe deu a autorização para portar brasão de armas e o sobrenome de Lys, porém ela ainda se auto intitulava com o sobrenome D’arc.

A traição de Joana foi sua queda, indo em contra a decisão do rei de não realizar mais nenhuma guerra, Joana contratou em Maio de 1430 uma tropa de mercenários, e junto com seus irmãos, realizaram uma guerra nas cidades que ainda eram dominadas pelos borgonheses. No dia 23 de maio de 1430, Joana foi capturada e feita de prisioneira durante 1 ano, a partir daí sua vida muda completamente. Sua prisão é suspeita, pois ela já era uma nobre e apesar de supostamente ter sido bem tratada durante este tempo, é suspeito o fato de nenhum nobre francês pagar seu resgate. No fim, o responsável por libertar, mas também por condenar Joana foi Pierre Cauchon, bispo de Beauvais. (MADDOX, 2012, p. 437).

Porém, a coroa inglesa ofereceu 10 mil francos para ter Joana como prisioneira, e lembrem-se que eu havia dito antes, ela era o pesadelo para a coroa da Inglaterra, e considerada uma das piores bruxas, já que além de ser mulher e usar uma armadura de cavaleiro, algo que era proibido, foi o ícone da vitória francesa sobre os soldados ingleses.

Inquisição

Por fim, chegamos a trágica morte desta significante mulher e considerada bruxa por muitos clérigos da Europa. Joana foi transferida para Rouen, na Normandia. Os interrogatórios do seu processo inquisitorial iniciou no dia 21 de fevereiro de 1431, e muito do que se sabe de sua história de vida veio destes interrogatórios que chegavam a durar horas.

Joana negava revelar o teor de suas conversas com São Miguel Arcanjo, porém afirmava com muita persistência que era enviada por Deus e havia sido instituída da missão de libertar seu país, ao qual foi um dos argumentos que pesaram contra ela, além de terem acusado de que a mesma desrespeitava a autoridade religiosa. Outro fato, foi que os inquisitores acusaram Joana de manter contato com demônios, já que ela sempre dizia escutar vozes de anjos e espíritos acolhedores.

Desde 1326 a Igreja através da bula Super Illius Specula, associava a feitiçaria com “Satanás”. Sua principal acusação, que veio principalmente dos ingleses, mas também dos franceses, alegavam que as vitórias dos soldados com Joana eram oriundos de práticas de bruxaria.

Sua morte foi o espelho de uma carreira que ascendeu rápido, e que foi desvalorizada logo após ter conseguido feitos para o Rei, pelo fato de ser pobre, mulher e camponesa iletrada, um reflexo das disparidades sociais daquela época. Sua história só foi reconhecida mais de um século depois, quando se tornou mártir pela própria instituição que a crucificou e queimou viva.

Por seus inimigos religiosos: HOMENS CRISTÃOS!

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Denise Maliska
Espaço livre do oculto

Escritora e poetisa. Escrevo, linhas, devaneios e tudo o que me resta. Sem mais descrições.