Como foi o Encontro Anual Drex 2023

Gabriel Rodrigues
Elo — Tecnologia e Inovação
5 min readDec 8, 2023

Ontem estivemos em Brasília para acompanhar o Encontro Anual Drex 2023, um evento organizado pela Fenasbac e pelo Banco Central que teve como objetivo discutir os principais avanços da moeda tokenizada brasileira.

O dia começou com a abertura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que compartilhou a visão e as expectativas do Bacen em relação ao Drex e ao futuro digital do SFN (Sistema Financeiro Nacional). Segundo Campos Neto, um dos principais objetivos da nova modalidade da moeda brasileira é resolver o problema de assimetria de informações que existe no mercado financeiro e, além disso, evoluir questões relacionadas a processos contratuais que possuem um custo de execução relativamente alto. Ele também destacou a possibilidade de poder monetizar ativos de uma forma mais eficiente e, ao mesmo tempo, torná-los verificáveis e divisíveis.

O representante do Bacen também comentou que, na visão da autarquia, “estamos embarcando para um grande marketplace financeiro” em que o consumidor terá mais facilidade para poder comparar produtos e serviços e escolher aquele que o melhor atende. Isso se dará, principalmente, com a possibilidade do próprio consumidor poder monetizar seus dados. Hoje, essa captura de valor está concentrada nas grandes empresas mas a tendência é que isso mudo ao decorrer do tempo e que o consumidor ganhe cada vez mais autonomia e propriedade sobre suas próprias informações.

Campos Neto também disse imaginar que o processo de internacionalização da moeda com liquidação instantânea se dará entre as respectivas moedas de cada país, e não através de uma única moeda global. Para que isso aconteça, é preciso fazer uma taxonomia de pagamentos internacionais, estabelecendo padrões bem claros e definidos entre os países.

O presidente do BC concluiu a abertura informando que assim que as questões de privacidade relacionadas ao Drex forem resolvidas, a autarquia deve criar um grupo de trabalho para avaliar o uso de inteligência artificial em tudo que está construindo hoje, conectando todo o ecossistema.

O papel das instituições de mercado financeiro na transição para a economia tokenizada

A segunda pauta do dia abordou as oportunidades existentes no mercado de ativos financeiros que podem ser endereçadas com a tokenização. Uma das principais dores é o alto custo de emissão devido à grande quantidade de participantes existentes na cadeia que poderiam ter seus papéis substituídos pela tecnologia, gerando redução de custo e aumento de eficiência.

Outra questão entendida como crucial para essa transição é o avanço da regulação. É necessário que essa frente evolua de forma adequada, sem inibir o desenvolvimento de novas tecnologias e proporcionando um ambiente competitivo justo. A expectativa é que com os aspectos regulatórios bem claros e definidos, o mercado de capitais possa expandir através da utilização de protocolos inteligentes e, com isso, aumentar o acesso a crédito para a população.

Por fim, o regulador também pontuou outras questões que considera cruciais para o momento atual do mercado:

· avaliação de riscos operacionais;

· definições de governança e responsabilização dos agentes;

· transações irrevogáveis;

· diferentes tipos de papéis dos participantes;

· necessidade de ter uma jurisdição cross-border global;

A expectativa é que o mercado caminhe para a construção de uma plataforma multiativos que vai além das reservas bancárias, e que o regulador de cada ativo defina lá na frente se a negociação do mesmo será realizada na plataforma Drex ou não.

Ativos digitais alavancando a economia verde

A última pauta da manhã foi sobre o uso de tokenização na economia verde. Há uma visão de que a blockchain pode trazer mais transparência para a cadeia porém, ao mesmo tempo, também há um consenso de que existem outros desafios no tema que não necessariamente serão endereçados com soluções de registro distribuído.

Há questões relacionadas à economia real como, por exemplo, a captura de imagens no processo de tokenização de ativos florestais, que precisam ser sanadas com outras tecnologias para que o mercado como um todo possa de fato evoluir. O desafio é enorme mas entende-se que é possível trazermos mais visibilidade, rastreabilidade e padronização com a combinação de diversas soluções que podem potencializar essa pauta tão importante para o país, principalmente do ponto de vista ambiental.

Finanças “tokenizadas” — privacidade, credenciais digitais e conformidade

O primeiro painel da parte da tarde reforçou a importância do tema privacidade para a viabilização de um novo sistema baseado em finanças tokenizadas. Aqui a visão é que não há grandes diferenças para o sistema tradicional e que o foco deve ser naquilo que ainda não foi resolvido com as tecnologias atuais.

Um dos caminhos é através da utilização de identidades descentralizadas — credenciais digitais que possibilitam provar uma informação sem necessariamente ter de compartilhar dados. Além de aumentar o grau de privacidade nas interações entre pessoas e empresas, a identidade descentralizada também dá maior controle aos donos dos dados, podendo reduzir potencialmente a quantidade de fraudes e roubos de informações sensíveis.

Uma camada de identidade descentralizada também pode servir como base para a construção de produtos e serviços através de contratos inteligentes, trazendo ainda mais robustez e segurança para o ecossistema que está sendo construído pelo Bacen. Aqui é importante destacar a importância de se estabelecer padrões que possam viabilizar a interoperabilidade entre as diferentes credenciais de identificação que irão compor essa camada estruturante.

O papel do regulador na economia digital

O encontro também contou com representantes de outros órgãos reguladores além do Banco Central, como a Susep e a CVM, para agregarem na discussão sobre os aspectos regulatórios da economia digital. Todos destacaram bastante a importância de garantir a segurança do sistema e de olhar para a tecnologia como um meio viabilizador de produtos e serviços financeiros para a população brasileira.

Um ponto ressaltado durante o painel foi o grande valor que a tecnologia de tokenização terá no processo de migração dos ativos reais para o ambiente digital. Na visão do BC, esse valor pode ser ainda mais potencializado se o conceito de componibilidade for bem explorado. A autarquia lançou recentemente uma consulta pública visando avançar na regulação de ativos virtuais.

Fórum Drex

A última agenda do dia contou com uma recapitulação das principais diretrizes do Piloto Drex com destaque para quatro delas:

· não permissão de saldo a descoberto;

· operações finais e irrevogáveis;

· governança das autoridades sobre seus respectivos ativos;

· sigilo e privacidade dos dados;

Além disso, a mesa formada pelo time que está liderando o projeto no Bacen relembrou o maior desafio do piloto: resolver o trilema da descentralização, privacidade e programabilidade. Ou seja, garantir que de alguma forma essas três características sejam atendidas através das soluções tecnológicas que estão sendo avaliadas.

O foco atual está no tema privacidade. Os consórcios estão testando a solução Anonymous Zether e devem terminar essa fase nas próximas semanas. Em seguida, a previsão é que os participantes testem também as soluções Starlight e Parchain, respectivamente. O parecer oficial do Banco Central sobre os testes deve sair em meados de 2024.

Elo e a economia tokenizada

A Elo é uma das empresas que está à frente de várias iniciativas relacionadas aos temas discutidos no Encontro Anual Drex. No início dessa semana lançamos nossa plataforma de soluções para a economia tokenizada e convidamos todos os nossos parceiros a se juntarem a nós nessa jornada. Acesse o site e venha você também transformar o futuro do dinheiro com a gente!

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