Gabriel Rodrigues
Elo — Tecnologia e Inovação
4 min readJan 10, 2023

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Qual o papel das grandes empresas no processo de popularização de tecnologias como os NFTs?

Starbucks Odyssey utiliza sidechain Polygon, blockchain de segunda camada da rede Ethereum (Blog Polygon)

Há algumas semanas, a Starbucks, uma das maiores redes de café do mundo, lançou sua plataforma de tokens não fungíveis (NFTs) através de um novo programa de fidelidade chamado Starbucks Odyssey. Segundo a empresa, um dos principais objetivos é proporcionar experiências imersivas relacionadas ao mundo do café, além do acesso a produtos e eventos exclusivos da marca.

O Starbucks Odyssey, que usa a sidechain Polygon (blockchain de segunda camada da Ethereum), é uma espécie de complemento ao já existente programa de fidelidade da rede chamado Starbucks Rewards.

Não é de hoje que a companhia tem se engajado de forma bastante ativa com tecnologias ou modelos de negócio ainda emergentes no mercado. Para citar alguns exemplos:

· ela foi uma das primeiras empresas a disponibilizar wi-fi em suas lojas com o intuito de estimular seus clientes a passarem mais tempo dentro das cafeterias;

· foi precursora no estímulo à utilização de carteiras virtuais para pagamentos de pedidos realizados dentro das lojas;

· e, além disso, logo no início da pandemia, saiu na frente de diversas redes do segmento ao possibilitar que seus clientes recebessem os pedidos em casa via delivery — algo que ainda era novidade em diversos países;

E, aparentemente, com a Web3 não será diferente. A Starbucks se junta ao hall das grandes empresas não-nativas da nova era da internet (Nike, Coca-Cola, Meta, etc.) com o desafio de simplificar o acesso às novas tecnologias descentralizadas. A própria companhia reconhece que o projeto é algo de longo prazo, visto que o mercado ainda está em desenvolvimento e que nem todos seus clientes estão familiarizados com a experiência de utilizar tokens não fungíveis.

Nike bateu recorde de vendas com lançamento de coleção de tênis NFT no ano passado (Nike)

Esse processo de educação do mercado é fundamental para a popularização de novas tecnologias que dependem da confiança e do conforto do público que irá utilizá-las. Tanto a World Wide Web (Web1) quanto as redes sociais (Web2) passaram por isso. Porém, para que esse processo ocorra de forma simples e fluida, essa nova tecnologia deve obrigatoriamente ser útil e conveniente a quem irá utilizá-la, fazendo com que o processo de migração da tecnologia predecessora seja o mais natural possível.

Nesse contexto, o que mais temos visto é o surgimento de diversas iniciativas que envolvem NFTs, smart contracts, DeFi, criptoativos e outros temas relacionados à Web3. E claro, a maioria delas acaba não durando por muito tempo. Parte dessas iniciativas são criadas meramente com o objetivo de gerar buzz, enquanto uma outra parte deixa de existir por um motivo bastante comum em mercados de tecnologias emergentes: não resolvem nenhum tipo de problema.

Após ler as notícias sobre o lançamento do Starbucks Odyssey, fiquei me questionando se ele se enquadra em uma dessas duas categorias (ou em ambas). Será que para oferecer acesso a experiências imersivas ou a produtos e eventos exclusivos é realmente necessário utilizarmos um token não fungível? Um programa de fidelidade Web2 como o próprio Starbucks Rewards já não seria capaz de promover esse tipo de benefício aos melhores clientes da rede de cafés?

De fato, os NFTs possuem propriedades relativamente únicas que, de forma geral, possibilitam a utilização da tecnologia blockchain de maneiras bem interessantes. Apesar de estarem normalmente associados a arte ou a itens colecionáveis, os tokens não fungíveis também podem ser explorados em diferentes contextos ou segmentos de mercado.

Só para citar uma das aplicações que mais me chamou a atenção, imagine, por exemplo, o caso de uma produtora de eventos que passa a emitir ingressos no formato de NFTs, e consegue inibir a ação de cambistas e falsificadores ao vincular esses tokens a smart contracts que restringem qualquer tipo de prática ilegal relacionada aos bilhetes. Além de proteger o consumidor, a produtora também se resguarda de possíveis fraudes e problemas relacionados ao cambismo, ou seja, há um ganho no mínimo razoável para ambos os lados.

Na sua última edição, o festival Coachella contou com a venda de NFTs que davam direito a acessos e benefícios exclusivos aos compradores (Coachella)

Na minha visão, casos de uso como esse possuem grande potencial para acelerar o processo de educação do mercado em relação à utilização de NFTs. Entretanto, a linha que os separa de ações que são puramente de branding é muito tênue. Isso não significa que as empresas não devem explorar novas tecnologias com o propósito de posicionarem suas marcas, mas sim que devem tomar cuidado para não deixar seus clientes vulneráveis ao fomentar ações como essas.

No momento, com as informações disponibilizadas ao mercado, talvez o Odyssey não seja o melhor exemplo possível de uma aplicação prática de um NFT. Porém, dado o recorrente posicionamento assertivo da Starbucks em relação a tecnologias emergentes, em breve o programa deverá ter novidades que contribuirão de forma significativa para a popularização dos tokens não fungíveis e demais tecnologias voltadas para a Web3.

Será que teremos caffè latte em copo personalizado no metaverso?

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