Web3: Surgimento e desafios na sua adoção

Nos últimos meses temos falado muito a respeito das tecnologias de registro distribuído e blockchain: das as possibilidades e benefícios que elas trazem, da relevância que elas têm ganhado nos últimos anos/meses, de como irão mudar o futuro dos serviços financeiros e logísticos, dos programas de aceleração de startups voltadas a essa tecnologia nos que a Elo participa, do real digital e a iminente adoção massiva da tecnologia, e da procura das suas aplicações práticas no dia a dia.

O desenvolvimento dessas tecnologias tem dado passo à nova fase da internet, a web3. Mas quão próximos estamos de sentir o impacto dela no nosso dia a dia? Nesta matéria veremos alguns desafios que ainda têm que ser superados na adoção massiva da web3.

Antes de tudo, o que são a web1, web2 e web3? Esses são termos utilizados para diferenciar as três fases da internet:

Na primeira delas (web1) — no surgimento da internet — o correio eletrônico surgiu como uma nova linha de comunicação, alguns serviços de consulta tornaram-se disponíveis digitalmente (Bibliotecas, diretórios, mapas, etc.), e a internet tornou-se uma fonte de informação útil onde nós usuários fomos maioritariamente consumidores de conteúdo fornecido por um grupo diminuto de usuários. A fase de “só leitura”.

Na segunda fase (web2) — a fase atual — a internet tornou-se mais interativa, fácil de utilizar, e acessível pela massificação do uso de dispositivos móveis (95% dos usuários de internet utilizam algum dispositivo móvel). Além disso, a própria evolução desses dispositivos facilitou a produção de conteúdo multimídia; assim os usuários ganhamos a capacidade de produzir e compartilhar conteúdo, e até de ser recompensados com o reconhecimento pelo conteúdo compartilhado (em formato de likes ou seguidores) e inclusive com recompensas econômicas (monetização de canais ou conteúdo). Nesta fase, proliferaram-se as redes sociais e criaram-se comunidades, fóruns de diálogo e discussão, plataformas de trabalho colaborativos, etc. Essa seria a fase de “participação social”.

E finalmente a terceira fase (web3), que ainda encontra-se em desenvolvimento apesar de ter sido “conceptualizada” há quase 10 anos. Ela está estreitamente relacionada com a tecnologia de registro distribuído e blockchain e diferencia-se da fase anterior pela descentralização, transparência de dados, e programabilidade. Para exemplificar essa diferença podemos comparar o serviço de um banco e a rede blockchain:

O banco é um ente centralizado, a informação do registro de uma conta é armazenada no seu banco de dados, assim como o histórico das transações e catálogo de serviços e produtos; as tarifas pelos serviços são determinadas pelo próprio banco (seguindo a regulação governamental e as tendências do mercado). Os usuários dependem das medidas de segurança que o banco adota para evitar algum tipo de vazamento de dados, e indisponibilidade de do serviço. Num outro aspecto, os usuários não têm meios para saber se o banco tem reservas suficientes para garantir a segurança da sua operação (mesmo que as regulações governamentais disponham medidas de segurança) e evitar, por exemplo, episódios de pânico financeiro e insolvência.

Por outro lado, temos uma rede blockchain pública, nela os usuários utilizam chaves de acesso privadas sem necessidade de expor sua informação pessoal e compartilham apenas chaves de acesso públicas para conseguir transacionar com os pares. A chave pública é gerada por um algoritmo criptográfico que faz com que seja teoricamente impossível descobrir a chave privada a qual ela corresponde. Essa rede é composta por nós (computadores conectados na rede) que armazenam, validam e retransmitem as transações realizadas e que geralmente recebem algum tipo de recompensa por esse serviço (mineração). Como o registro de transações nesta rede é distribuído e atualizado em cada nó conectado, torna-se virtualmente impossível ter indisponibilidade do serviço e fraudação de transações. O custo por transação ajuda a recompensar aos nós da rede, e é determinado algoritmicamente pela demanda na própria rede: ele é maior se houver muito tráfico de transações. Finalmente, o registro de transações é público, pelo que qualquer transação relacionada a atividades ilícitas pode ser rastreada até a origem.

Criptoativos como NTFs podem ter funções especiais como:

  • dar ao usuário o poder de decidir se permite o monitoramento das suas transações, o que permite personalizar sua experiencia na internet (Sugestões de compras, descontos e programas de recompensa, etc.),
  • atestar a propriedade de conteúdo digital único ou de propriedade intelectual,
  • armazenar outros criptoativos numa coleção personalizada

Os Smart Contracts (‘contratos inteligentes’ em tradução livre) permitem oferecer e adquirir produtos e serviços na base de regras algorítmicas, o que elimina o fator confiança. Como o histórico das transações na rede é público, é possível compartilhar e consultar ele para fazer uma avaliação de crédito assertiva na que o limite e taxa de juros sejam calculados em função desse histórico.

Essa nova fase da internet, seria então caracterizada pela colaboração entre os próprios usuários para dar sustentabilidade a rede, a descentralização de governança e propriedade, e a programabilidade de serviços; a fase “colaborativa e executável”.

Interoperabilidade

Muitos serviços são nativos à Web3, como as criptomoedas ou NFTs, mas as entidades financeiras tradicionais utilizam sistemas centralizados que não conseguem se comunicar (ainda) com redes decentralizadas. Atualmente é possível negociar criptoativos com moedas fiat mediante as corretoras, que possuem uma reserva de criptomoedas que são oferecidas aos correntistas. Alguns bancos digitais oferecem também a possibilidade de comprar as criptomoedas mais populares (Bitcoin, Ether, stablecoins pareadas com o dólar, etc.), mas no Brasil ainda são escassas as lojas que aceitam pagamentos com alguma criptomoeda e menos ainda sem ajuda de algum intermediário (gateway). Inclusive, a própria negociação de ativos nativos de diferentes redes blockchain é desafiadora; a forma mais comum seria por meio de uma corretora que ofereça ambos os criptoativos que pretenda se transacionar, mas a transação em si aconteceria não aconteceria na rede desses criptoativos.

Com a chegada das CBDCs -O Real Digital no caso do Brasil- os bancos tradicionais deverão encontrar uma maneira de conciliar o sistema financeiro tradicional com a tecnologia blockchain e ativos tokenizados que permita a operação entre usuários do mesmo e diferentes bancos.

Escalabilidade

Mesmo se duas partes envolvidas numa transação quisessem utilizar algum criptoativo como moeda de negociação, a taxa cobrada pela rede e a velocidade de transação podem se tornar impeditivos para sua viabilidade. No começo desse ano a rede Bitcoin tinha uma média de 7 transações por segundo (TPS), enquanto a rede Ethereum chegava a 27; uma quantidade surpreendentemente baixa se consideramos que elas são as maiores redes descentralizadas com usuários no planeta inteiro. Segundo a Febraban, o Brasil teve 24 bilhões de transações em tempo real só no PIX no ano 2022; o que seria equivalente a 761 TPS. Se somadas as transações via TED, cartão de débito, boleto, DOC e cheque chegaríamos a 1436 TPS.

Diversas soluções estão sendo desenvolvidas para aumentar a capacidade das redes, como a mudança do algoritmo de consenso, incremento do tamanho dos blocos processados, processamento de transações em camadas secundarias (rollups), etc. A escolha da rede Hyperledger Besu para o piloto do Real Digital foi determinada em parte pelas ferramentas de escalabilidade e privacidade.

Privacidade

A transparência de transações nas redes blockchain tem gerado diversas posturas dentro desse assunto. Mesmo que os usuários da blockchain sejam identificados por chaves criptográficas e nenhum tipo de informação pessoal esteja exposta na rede, existe o receio de que ter o histórico de transações completo disponível na rede possa comprometer de alguma maneira a privacidade dos usuários.

Soluções como o protocolo Zero-Knowledge Proof (protocolo de conhecimento zero, em tradução livre) propõem a validação das transações sem necessidade de revelar o conteúdo da transação em si, só evidências de que a transação é válida.

Experiência do Usuário

A transição da web1 à web2 tem se caraterizado pela simplificação da experiencia do usuário, desde a facilidade da navegação na rede até a fluidez dos aplicativos. As redes blockchain trazem algumas complicações inerentes à tecnologia que podem criar resistência na sua adoção. Por exemplo:

Nós, usuários da web2 estamos acostumados ao processo de tradicional de login como a combinação de um usuário e senha. Nas wallet de criptoativos, a gestão de acessos é um pouco diferente, ela gira em torno das doze ou vinte e quatro palavras aleatórias que formam a ‘Seed Phrase’ ou frase de recuperação: uma única wallet pode conter várias chaves privadas que funcionam como contas independentes e cada uma delas pode conter uma coleção de ativos diferente; porém, todas essas chaves privadas são geradas a partir da ‘Seed Phrase’ por meio de um algoritmo matemático que transforma as palavras num conjunto ordenado de chaves alfanuméricas. Então ter a ‘Seed Phrase’ roubada outorgaria acesso a todas as chaves privadas que essa carteira pode armazenar e, portanto, aos ativos contidos na wallet.

Diversas startups e hubs de inovação estão trabalhando no desenvolvimento de soluções que ajudaram a superar esses desafios e fornecerão ao usuário maior acessibilidade aos serviços na web3 e uma experiência mais amigável neles. O time de inovação da Elo faz parte desse entorno de desenvolvimento, no primeiro semestre desse ano participamos no Batch#2 do programa de aceleração Next da Fenasbac, e atualmente estamos participando da avaliação de inscrições no Batch#3. Conheça os desafios do programa aqui! Tem até o dia 31/07 para realizar a inscrição de startups. Não perca a chance!

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