FAKE NEWS: ameaça à todos!

Vitória Braga
EM ALTA
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5 min readNov 22, 2018

Por Ana Julia Ramos e Vitória Braga

Fake news foi eleita a palavra do ano de 2017 pelo Dicionário Collins. O termo pode ser traduzido em sentido literal como ‘‘notícia falsa’’ e caracterizam-se por serem notícias criadas propositalmente para serem disseminadas, principalmente na internet. Considerada uma forma de imprensa marrom (sensacionalista), é um termo datado do século XIX, de acordo com o dicionário Merriam-Webster. Resgatado nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, esse tipo de publicação tomou um papel de protagonismo em diversos debates envolvendo jornalismo.

As informações falsas têm o intuito de polemizar ou difamar a imagem de alguém. Essas notícias tiveram uma expansão nos últimos meses, no Brasil e no mundo. As redes sociais são os principais canais para aumentar a circulação das notícias falsas. Na última eleição conseguirmos observar esse crescimento, e o Whatsapp foi a principal ferramenta que influenciou para a ampliação dessas notícias.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts ( MIT, sigla em Inglês), revelou que 126 mil notícias falsas circularam pelo twitter entre 2006 e 2017, além de serem tuitadas 3 milhões de vezes, fazendo com que as notícias falsas se espalhem 70% mais rápido do que as notícias verdadeiras, porém segundo ComScore, o brasileiro tem costume de ficar mais tempo no Whatsapp do que em outras redes sociais, o que faz com que as fake news ganhem mais visibilidade sendo compartilhada nos grupos, de forma ainda mais fácil.

Ampliação das fake news em grupos de Whatsapp. Arte: Vitória Braga

As fake news podem ser usadas para atrair pessoas a um determinado site, ou fazê-las acreditarem em certa afirmativa, reforçando alguma crença. Um estudo do Instituto Ipsos na pesquisa ‘‘Global Advisor: Fake News, Filter Bubbles, Post-Truth and Trust’’, divulgou alguns dados sobre fake news em 27 países de diferentes continentes. No Brasil, 68% dos entrevistados afirmaram que são capazes de identificar uma notícia falsa. Em contrapartida, 62% afirmam já terem acreditado em alguma notícia que não era verdadeira, e, só depois, descobriram a sua não legitimidade.

A disseminação de fake news está ligada com a crise enfrentada atualmente pelo jornalismo, segundo o professor de Teoria da Comunicação (UFBA) Wilson Gomes. “A crise de credibilidade do jornalismo é parte do problema das fake news [notícias falsas, em inglês]. Se o cidadão acha que, para uma coisa gozar da credibilidade do jornalismo, basta parecer jornalismo, do ponto de vista da diagramação e da retórica factual, então, ele não distingue mais o que é jornalismo”, afirma o professor (em https://goo.gl/9tTdMu).

A propagação de notícias falsas podem custar a credibilidade da mídia, mas também trazem ameaças para jornalistas, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), mais de 140 jornalistas sofreram nessa eleição, seja por contexto político, fake news.

Combate

De acordo com Luiz Fernando de Toledo, repórter do Estadão, o termo ‘‘fake news’’ é errado, porque ‘‘se é news, é notícia, e se é notícia, não pode ser falsa’’, sendo assim, o termo desinformação é mais bem utilizado nesse caso. Para a identificação de conteúdo enganoso, deve-se verificar a procedência do veículo que divulgou a notícia, se o texto está escrito corretamente, se possui muitos adjetivos (indícios de que pode ser uma matéria falsa), muita interpretação e/ou opinião. “Geralmente se uma notícia é muito bombástica a chance é muito grande de a informação ser falsa ou ela ser simplesmente enviesada”.

O Manual da Credibilidade divulgou um ‘‘glossário da desinformação’’, no qual explica detalhadamente as definições e termos usados na desordem da informação. Além do glossário, o site conta com um manual para identificar conteúdos falsos e como a desinformação se deu ao longo da história.

Existem na internet algumas ferramentas que ajudam a combater e monitorar conteúdos. O site CrowdTangle ajuda a identificar sites e perfis que mais compartilham algum link ou termo de determinado assunto. No Brasil, existem algumas agências de checagem, ou seja, especialistas (em grande parte jornalistas) que utilizam de alguns meios para comprovar a veracidade de uma notícia; as mais conhecidas são Lupa e Aos Fatos.

Nesse debate todo sobre desinformação, não há leis que punam quem dissemina conteúdos ilegítimos. Luiz Fernando diz que no período eleitoral de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral removeu conteúdos da web que foram comprovadamente considerados falsos, ‘‘mas foram exceções, foram poucos casos, porque esbarra muito na questão da liberdade de expressão’’.

Com o crescimento do uso de tecnologias de primeira mão, como a inteligência artificial (IA), nos últimos anos tivemos uma ampliação de discurso de ódio na internet, de notícias falsas. Assim, agências especializadas como aos fatos utilizaram a tecnologia ao seu favor, criando a Fátima bot, que é um robô que responde tweets dos usuários que divulgam fake news, divulgando links que já foram comprovado se a matéria era verdadeira ou não.

Funcionamento da Fátima

Desinformação nas eleições

As eleições presidenciais no Brasil em 2018 foram permeadas por discussões acerca de conteúdos falsos disseminados com a intenção de prejudicar candidatos. Foram compartilhados áudios com teorias conspiratórias, fotos com montagens, textos atribuídos a determinadas pessoas que nunca sequer se posicionaram sobre o assunto.

Uma das principais informações falsas compartilhada foi o ‘‘Kit Gay’’, livros supostamente adquiridos pelo Ministério da Educação para ensinar sexo às crianças. O presidente eleito Jair Bolsonaro acusava outro presidenciável, Fernando Haddad, da criação do kit. Nesse material, constava uma cartilha, nomeada de ‘‘Aparelho Sexual e Cia.’’, que seria distribuído para crianças de seis anos. Na verdade, o ‘‘kit gay’’, fazia parte do projeto Escola Sem Homofobia e servia para a formação de educadores. O Tribunal Superior Eleitoral ordenou que Jair Bolsonoro retira-se os vídeos que mencionava o kit. Assim como ataques ao candidato Fernando Haddad, também existiram mentiras acerca de Jair Bolsonaro, mas em menor quantidade. A notícia que dizia que Bolsonaro era investigado por dinheiro sujo em campanha, por exemplo, não era verídica.

Após o primeiro turno das eleições, surgiu a denúncia da Folha de S. Paulo de que empresários apoiadores de Bolsonaro (entre eles, Luciano Hang, dono da Havan) compraram um pacote ilegal de mensagens contra o Partido dos Trabalhadores para serem enviadas via WhatsApp. Os compradores teriam gasto R$ 12 milhões para divulgação em massa de mensagens contra o PT. O PT foi ao TSE pedindo investigações em relação à denúncia. A Polícia Federal abriu inquérito para investigação do esquema.

Você sabe identificar uma FAKE NEWS?

Arte: Vitória Braga

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