O primeiro passo da busca

Ata do dia 28-06-2014

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A conversa começou com uma apresentação breve de todos os participantes, o seu interesse pelo tema da educação. Como participantes, estiveram presentes 6 professores e os restantes 7 eram interessados no tema da educação.

Encontro ocorrido no passado dia 28 de Junho de 2014, no Espaço Bela Vista 79

O facilitador do encontro deixou claro que não é professor, apenas um cientista cognitivo interessado em processos de aprendizagem e de ensino, que desenvolveu um programa de tutoria cognitiva. O título da conversa surgiu da sua experiência profissional. Nas raízes deste interesse, está a aplicação de um projecto na ASSACM, no bairro da Cova da Moura (iniciado em 2012 e ainda a decorrer). O programa educacional da Hikari começou focado em memória e atenção e evoluiu para processos de resolução de problema, laboratório da linguagem, treino de competências psicossociais e tutoria.

As primeiras questões colocadas à audiência foram: quem ensina? Quem aprende? A primeira intervenção, marcou a posição de que todos aprendemos e todos ensinamos. Houve acordo entre os participantes e o assunto passou a ser que a escola desempenha um papel fundamental nas aprendizagens. Permitindo a cada participante a oportunidade para deixar fluir as suas ideias.

Uma das participantes, psicóloga de profissão, salientou a importância de pesquisar novas formas de aprendizagem e os processos mentais de quem ensina, de quem aprende, como se aprende. Sabemos que a pessoa tem de estar disponível para aprender, surge a necessidade de que também é estar disponível para ensinar? Existem coisas específicas para ensinar. Nem toda a gente está disponível para aprender. A forma como se assimilam as aprendizagens deve ser alvo de estudo e atenção.

Uma das professoras presentes chamou a tenção que na escola onde leciona é tudo focado para o exame nacional. Ficou responsável por duas turmas da área profissional e alunos do CEF (cursos de educação e formação de jovens). Houve problemas de indisciplina que nunca tinha visto ao longo da sua carreira, turmas demasiado cheias. Foi percebendo o foco do distúrbio para gerir situações. Sente muita dificuldade em aplicar as mesmas metodologias que no ensino regular. Estas turmas são mais desafiantes e desgastantes. Problema: o programa nacional é igual para todos. Sente que vai precisar de muita reflexão e de estratégias para o próximo ano lectivo. Encontrou grande desmotivação nos alunos durante as aulas (alguns quase deitados nas suas carteiras). Há meia dúzia de alunos que se preocupam, e que virão a fazer alguma coisa no futuro. Mas e os outros? É preciso mudar algo.

Outra professora presente considera-se privilegiada. É professora de alunos do 1º ciclo, num externato. Usa como estratégia, planear as aulas como se os alunos fossem uma tábua rasa, como se não soubessem nada (para desenvolver um plano de instrução passo-a-passo). Tenta perceber quais são os interesses dos alunos. Acha fundamental, promover uma motivação extrínseca para que estes queiram aprender.

O facilitador partilha a sua experiência.

O facilitador da sessão enquadrou a sua experiência e notas soltas que tem recolhido ao longo do ano lectivo, principalmente através de conversas com pais, professores e alunos. Nomeadamente há alunos sobrecarregados com actividades extracurriculares, outros com pouco sentido de compromisso com a sua própria educação (adolescentes), pais com pouco tempo que transferem para a escola a responsabilidade de ensinar tudo, e professores com questões de carreira e muitas burocracias

Uma professora de inglês (em turmas de adultos) interveio com a ideia que muitos alunos não sabem estudar. Apresentam dificuldade em formular ideias claras, não colocam dúvidas e depois esquecem-se do essencial. Tem alunos de 25 anos, que parecem não ter interesse em estudar, querem apenas ter um diploma. A sua opinião é que tem a ver com uma barreira psicológica que produz angústia. Sugeriu que quem ensina deve tomar em consideração estas barreiras psicológicas. Deu o exemplo de um jovem muito inteligente, mas quando tem de estudar entra em angústia e recorre a medicação ou a café. Como estratégia pediu a este aluno para estar apenas 15 minutos sentado para produzir algo (e depois ir fazer outra coisa). E nestes ciclos de 15 minutos o jovem efectivamente conseguiu produzir trabalho. A dificuldade deste processo é que tem de ser treinado e adaptado individualmente. Acrescentar factores psicológicos aos métodos de ensino. Com uma chamada de atenção para a linguagem usada “tens que fazer, tens que ler”, uma exigência estranha a dirigir a uma pessoa sem métodos de estudo e vontade.

Uma outra professora dá aulas, tem CCP, dá aulas ensino profissional e técnico. Considera que há alunos que nunca vão ser capazes de cumprir os programas como eles existem. Sugere a adaptação dos mesmos e das exigências em função dos alunos e dos gadgets que eles tanto gostam. Destaca que em aulas procurou mudar os métodos tradicionais (exemplo: interpretar Gil Vicente em vez de trabalhos escritos sobre o autor). Para a execução da sua profissão acha essencial repensar as crenças interiores, ajuda-a comparar as crenças que tinha antigamente com as de hoje. Tomou a decisão pessoal, de focar a atenção nos alunos interessados em aprender para se motivar a si própria. E tem sentido que os alunos inicialmente desinteressados lentamente procuram a sua atenção, e fazem alguma coisa. Prefere tirar conteúdo e dar tempo para os alunos se expressarem. Desistiu de ter calendário para cumprir.

Como se aprende? Onde ocorre a aprendizagem?

Uma intervenção de outra professora é achar curioso que os professores não se queixem mais de falta de apoio, ou supervisão. Propõe que a Educação podia aprender com outras áreas, treino para criar a ruptura com maus hábitos de alunos, possibilidade de reinventar ambiente para ter melhores ferramentas. Considera que muitos professores estão formatados para lidar com situações lineares. Estamos pouco habituados a lidar com situações de ruptura.

O facilitador comentou que a educação é uma área que exige conhecimentos multidisciplinares e acha fundamental a criação de grupos para se pensar a educação. Obviamente este grupos precisam de ser multidisciplinares e críticos.

Outro participante considera que o sistema de ensino não está adaptado à realidade. Tem um filho que chumbou, atitude de grande desinteresse, não perturba, está na adolescência, desmotivado. Os modelos de ensino não estão adaptados para gerar motivação. Preocupa-se com estes alunos desmotivados. Deu um exemplo conhecido seu de um jovem que se tentou suicidar e que era um óptimo aluno. Os pais tomaram a posição, o problema não é nosso, quem é a pessoa responsável? Movendo o assunto da conversa para a participação dos pais na educação dos jovens e a responsabilização do sucesso escolar aos próprios alunos. Afinal não é o professor o único responsável pela educação.

O facilitador promoveu a mudança de tema para a cognição e ciência cognitiva. Comentando que da mesma forma que a psicologia educacional tem produzido conhecimento científico importante para os processos de aprendizagem, a ciência cognitiva tem muito para ser útil. O estudo dos processos de aprendizagem, as representações de conhecimento, a aquisição da linguagem, a construção da percepção do mundo e a forma como a mente funciona como resolvemos problemas são exemplos de conhecimento úteis para qualquer pessoa interessada em Educação. Ligar este tipo de conhecimento à experiência dos profissionais que ensinam, é abrir portas para novas reflexões.

Destacou a importância de filtrar a informação que circula pelas redes sociais, dos mitos que se espalham e do conhecimento que ainda precisa de validação (muitas vezes, tomado como certo). Também clarificou que o conhecimento do cérebro e da mente, apesar de ter aumentado drasticamente, ainda está em fase inicial e temos mais perguntas do que respostas .

Uma professora comentou: as escolas matam a criatividade humana? Ideia que encontra em vários sítios, e o que temos nós a dizer sobre isso? Estará o ensino obsoleto? Talvez estes chavões façam muito mal a professores e a alunos e estejam a fazer mal ao sistema de ensino.

Ficou a proposta da Hikari organizar momentos para trocarmos e desenvolvermos ideias, criarmos um jornal club educacional, desenvolvermos bases de dados abertas sobre conhecimento relacionado com educação e juntos podermos continuar a nossa buscar de aprender e ensinar melhor.

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Jorge Amorim

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Jorge Amorim
Em busca de uma melhor forma de ensinar e aprender

Cientista Cognitivo, co-criador do projeto HIKARI #cognitivescience #education #hikari