“Eu já fui preso aqui umas 3 vezes”, diz Barba, vendedor de bebidas e lanches de uma faculdade

Larissa Darc
Em cada canto
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3 min readDec 5, 2017

Em uma rua deserta da Lapa, bairro da Zona Oeste paulistana, jovens se reúnem ao redor de uma perua branca. Com cadeiras de plástico espalhadas pela calçada e uma televisão pequena de tubo ligada na rede Globo, se acomodam enquanto pedem lanches e cervejas no intervalo das aulas das Faculdades Integradas Rio Branco.

Um homem grisalho, de 68 anos, prepara hambúrgueres e pega cervejas dentro de sua caminhonete e conversa com os clientes bem-humorado. A música fica por conta dos frequentadores, que do funk ao rock se revezam lutando por um espaço no cabo da caixa de som para os seus smartphones. Os mais esnobes ligam o som ainda mais alto em seus automóveis de luxo.

“Eu não me incomodo com o som, mas a polícia passa e manda abaixar”, falou, enquanto conferia o bloco de anotações onde mantém a “conta” de consumo dos clientes. “Eu não gosto de polícia. Eles são muito rigorosos e não tem educação”, confessa, “Eles mandam tirar isso daqui”, disse se referindo ao trailer, “e não querem saber se você tem família para sustentar. Eu já fui preso aqui umas 3 vezes”. Até 2010 o local não tinha licença para funcionar.

Localizada em um lugar de pouco comércio, a instituição de ensino reúne estudantes de classe média em cursos de comunicação e ciências humanas. A falta de bares, restaurantes de preços acessíveis e mercados diminui as opções de convivência entre os alunos que, em maior parte, são jovens na faixa dos 20 anos.

“Eu considero esses moleques os meus filhos. Ai de quem fizer algum mal a eles”, diz Celso Ferreira, conhecido carinhosamente como “Barba”. Nascido na Freguesia do Ó, levou a vida como ferramenteiro. Em paralelo à profissão, trabalhava aos domingos na Feira do Automóvel. Tanto esforço resultou em uma vida confortável para a sua família. “Na época em que eu comprei a minha casa, ter telefone era a coisa mais difícil que tinha. Eu comprei a casa e comprei o telefone à vista”, conta orgulhoso.

As conquistas foram compartilhadas com a sua mulher. Casado há 41 anos, pais de dois filhos e avô de dois netos, atribui as vitórias a ela. “A minha esposa é a maior companheira. Nóis briga junto e batalha junto. Tudo o que eu tenho é graças a ela”, diz.

Em 1998, enquanto passava pela Av. José Maria de Faria, teve uma ideia para ganhar um dinheirinho a mais. “Depois que eu me aposentei, falei: cara, eu não vou mais trabalhar para os outros não”, pensou, e foi para o lugar vender lanches para os motoboys de uma empresa de segurança que existia nos arredores. O lugar, que era ponto de prostituição, só passou a ser endereço de uma faculdade anos depois.

“A minha vida é um livro aberto”, fala despreocupado, “trabalhando aqui consegui trocar de casa. Agora moro no Piqueri e na minha garagem cabem 6 carros”, comenta com um discreto sorriso no rosto, enquanto se apoia na janela com quase 20 anos de histórias nas costas.

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