Comprei uma impressora 3D

Rafael Madeira
O futuro é agora
Published in
4 min readApr 24, 2013

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— Caralho. Que foda. Foi fácil de instalar?
— Foi. Veio com 4 CDs, mas só precisou mesmo de um.
— Imprime alguma coisa aí pra eu ver.
— Já abri o software, só esperar carregar. Demora um pouco.
— Beleza. Já imprimiu alguma coisa, antes?
— Já. Quando você instala, ela imprime uma pulseira, pra calibrar.
— É? Legal, cadê?
— Quebrou.
— Ah. Como é o material?
— É um polímero. Plástico. Ela vai aplicando um líquido de camada em camada.
— Como que o líquido fica em camadas?
— Ah, seca imediatamente.
— Que demais. Mas aí não dá pra fazer nada muito complexo, né.
— Dá pra fazer umas pulseiras. Eu vou fazer pra vender. Ela vai se pagar sozinha.
— Saquei.
— Pode deixar que te dou uma.
— Não precisa.
— Relaxa.
— Ok.

. . .

— Abriu. Aqui você faz os designs, tá vendo.
— Ah, vem com um editor 3D. Foda. E o resto das abas?
— Ainda não sei, só precisei usar essa. Tenho que ler o manual.
— Imprime uma coisa aí.
— O quê? Tem uns modelos, escolhe um. Vai ser um presente.
— Ah, não. Faz uma surpresa pra mim, então. Quero ficar tentando adivinhar o que ela tá imprimindo.
— Tá. Olha pra lá, então. Deixa eu ver...
— Dá pra escolher a cor?
— Dá sim, tem plástico de várias cores.
— Eu quero uma coisa verde, então.
— Ah. Não, aqui não dá pra escolher cor, não. Eu comprei só o polímero sem pigmento, mesmo. É mais barato.
— Ah, beleza.
— Mas tecnologicamente, dá, sim. A tecnologia tá aí.
— Que foda.
— Só acho que não dá pra usar mais de uma cor no mesmo objeto.
— Sei.
— Ainda.

. . .

— Pronto. Botei pra imprimir.
— Posso olhar?
— Pra tela? Não. Se eu mudar de janela o computador trava. Fica vendo a impressora.
— Beleza.
— O espetáculo vai começar.

. . .

— Nada ainda?
— Não sei o que houve, o trabalho aparece aqui na fila de impressão.
— Ela nem faz barulho.
— Cliquei várias vezes e nada.
— Aí, será que dá pra imprimir uma impressora 3D na impressora 3D?
— Peraí, vou cancelar aqui.
— Atualmente eu sei que não, porque ainda tem a placa lógica.
— Não cancela, a buceta.
— E a parte elétrica. Mas em algum ponto isso tem que virar um problema pros fabricantes. E aí, como vai ser?
— Espera, tenho que ler o manual.
— Que foda que vai ser.

. . .

— Reiniciou aqui, liga a impressora na tomada de novo.
— Liguei.
— Vamos ver se agora vai.
— Tá fazendo barulho.
— Eita.
— Que foi?
— Diz que tá sem polímero.
— Ué. Você não imprimiu só uma vez?
— Pois é. Não sei o que houve.
— Desligo e ligo de novo?

. . .

— Agora vai.
— Tá mexendo, o bagulho! Que foda.
— Foi.
— É normal, o barulho?
— Olha lá! Como o líquido já sai duro.
— Como assim.
— Olha, pô.
— É líquido. Líquido sai líquido.
— Ué.
— O quê?
— Tá errada a impressão. Peraí.
— Ué, tá imprimindo.
— Tá fazendo a impressão de teste de novo.
— A pulseira?
— É.
— Ah, deixa.
— Não, eu vou te dar teu presente.
— Não precisa.
— Cala a boca.
— Sério. Eu só quero ver imprimindo.
— Espera, porra.

. . .

— Que foda.
— Foda, né?
— Foda.
— Já sabe o que é?
— Menor ideia.
— Vai ver.
— Mas olha, é assim mesmo, o barulho?
— Ih...
— O que deu ali?
— Não sei. Peraí.
— Tá tremendo.
— Ah, caralho.
— Que foi?
— Polímero preso.
— Quê? Onde?
— No biquinho que aplica. Tenho que limpar, peraí.
— Dá pra continuar de onde parou?
— Não. Puxa o objeto.

. . .

— Tsc. Impressão de teste de novo.

. . .

— Meu Deus.
— Que bizarro.
— Parece um feto abortado.
— Não sei o que houve.
— Era pra ser o quê?
— Um pente.
— Nossa. E por que tem um olho?
— Deve ter descalibrado. Tenho que ler o manual.
— Começou a imprimir de novo.
— Porra. Putz. Vai imprimir todas as vezes que eu cliquei, agora.
— Cancela.
— Tô tentando, não vai. E esse plástico é caro pra caralho.
— Puxo a tomada?
— Não. Se já começou, deixa mais uma. Vê se agora vai.

. . .

— Ah, puta que o pariu.
— De novo?
— Desliga. Desliga essa porra.
— Não, deixa.
— Filha da puta.
— Espera. Tu não ia vender isso? É só deixar ela trabalhando sozinha.
— Pode crer. Porra, pode crer.

Epílogo

— E tá na constituição.
— Pra variar.
— Já viu o novo de Game of Thrones?
— Não.
— Vou botar pra gente ver.
— Beleza. Tu curte aquela ruiva do Jon Snow?
— Ah, vai tomar no cu, cara, sério.
— Que foi?
— Mudei de janela.
— Ih, olha, um pente.

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