O deserto nas redes sociais

rosana hermann
Prato cheio de vida 
3 min readMar 27, 2013

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O Instagram é uma rede de fotos com legendas. Quando surgiu, as pessoas tiravam as fotos com seus gadgets móveis e postavam para que os amigos comentassem. Todos seguiam uns aos outros. Éramos felizes.

O Facebook era uma rede de relacionamentos e encontros de pessoas do seu passado, amigos, colegas de escola e familiares. Era emocionante promover reencontros e atualizar informações.

O Twitter nasceu para ser um meio rápido e instantâneo de comunicação e expressão, um gerenciador de momentos, um produtor de informações do ‘agora’. Pessoas trocavam dicas, links, notícias e conversavam publicamente num delicioso broadcast.

O YouTube era pra ser o maior portal de vídeos desde que o primeiro arquivo com aquele elefante no zoológico foi postado. Era você publicando imagens em movimento.

Felizmente, criar e transgredir são capacidades admiráveis dos seres humanos, é assim que evoluímos. É realmente maravilhoso descobrir formas diferentes de usar uma mesma ferramenta. A beleza do cérebro humano está justamente na possibilidade de usar uma faca quando você precisa apertar o parafuso e não encontra a chave de fenda. A arte como um todo se vale dessas genais transgressões de intenção de uso.

E foi assim que o Instagram começou a ser usado para postar textos. Além das imensas legendas com coleções intermináveis de #hashtags, muita gente começou a postar frases edificantes com autores errados e tirar screenshots de parágrafos escritos no celular, publicados como imagens.

No Twitter, que já foi chamado de microblog, passou a ter usuários postando longos bifes de texto, cortados em pedacinhos e numerados para não confundir a ordem da publicação inversa, como se fosse um grande blog administrado por Jack o estripador.

E o YouTube, que aceita vários formatos, foi populado por ppts em forma de vídeos, com slides parados e música de fundo e, algumas vezes, por uma única imagem parada com um som e um título para capturar cliques.

O Facebook, virou um mural de queixas e denúncias, uma plataforma de segredos vitais e intrigas públicas, ao mesmo tempo que a ferramenta tenta virar um feed de notícias e informações.

Aos poucos todos foram usando todas as redes e usando tudo para fazer qualquer coisa, misturando todas as plataformas numa coisa só. Se, de um lado, criamos novas possibilidades geniais, por outro geramos problemas complicados. Hoje, quando você pesquisa vídeos no YouTube, tem que passar por centenas de fotos com efeitos de transição e musiquinha de fundo até encontrar algo que realmente se mova. Você entra no Facebook para saber dos amigos e encontra crimes hediondos, abre o email pra receber um arquivo de trabalho e só tem spam de petição online. Tem dias que parece que alguém pegou um aquivo em power point, tirou o arquivo midi e publicou os slides um a um na timeline do Instagram.

E assim, tudo vai virando um angu de caroço, gaveta de meia com talheres, num mar de usuários tentando comer sopa com tesoura ou reclamando que não está conseguindo assistir o jogo de futebol no forno de microondas. O caos que se instala, começa a fazer com que pessoas fechem os perfis no Twitter, abandonem o Facebook, só abram o YouTube com link indicado e parem de postar fotos no Instagram.

E o que vai acontecer? Não sei. Só sei que muitos lugares do planeta Terra, que um dia abrigavam fauna e flora hoje estão desertos. E foi por causa da ocupação do homem que o deserto se fez.

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rosana hermann
Prato cheio de vida 

physicist, writer, journalist, blogger, scriptwriter, professor, tv hostess, runner, knitter and twitter lover @rosana