A luta contra a LGBTfobia nos estádios de futebol: Como combater o preconceito pela raiz

Com tantos casos de LGBTfobia recorrentes na arquibancada, surgem cada vez mais, movimentos organizados por clubes, jogadores e pelas próprias torcidas LGBTQIA+ contra o discurso preconceituoso, dentro e fora dos estádios

Matheus Monteiro
Em Toda Pauta
4 min readNov 24, 2021

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Por: João Fernando

Não é surpresa para ninguém que o Brasil é um país extremamente preconceituoso. Embora LGBTfobia seja crime, a violência e descriminação continuam em constante aumento. Segundo dados anuários do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é mostrado crescimento de 20% no número de ocorrências, sendo no Brasil o país em que mais morrem pessoas LGBTQIA+. Em estatísticas apuradas no site UOL são mostradas que as regiões Norte e Nordeste lideram os casos de LGBTfobia, sendo Pernambuco por sua vez o estado que mais concentra registros de violência corporal (942 casos) e homicídios (69 casos).

No âmbito esportivo não é diferente, em estádios de futebol vemos uma arquibancada repleta de preconceitos enraizados, cantos de torcidas, ofensas à jogadores, árbitros, faixas, bandeiras que exalam a discriminação. Muitas vezes pessoas LGBTSQIA+ deixam de frequentar e até mesmo acompanhar seu time de coração, por medo ou não se sentir confortável em determinada arquibancada. Em contrapartida, com o assunto cada vez mais em pauta dentro do ambiente futebolístico, estão criando cada vez mais, torcidas LGBTQIA+, campanhas promovidas pelos clubes e até mesmo por jogadores, o que ajuda a com a diminuição de casos e propaga um ambiente onde todos possam ver um jogo de futebol sem nenhum tipo de medo ou receio. Toda ação contra esse tipo de preconceito é válida, inclusive as que envolvem denúncias quando ocorre tal ato. No último dia 8 de novembro, o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) aplicou uma multa de R$50 mil no Flamengo, por cantos homofóbicos de sua torcida contra o Grêmio, em partida válida pelas quartas de final da Copa do Brasil.

Imagem: (Divulgação/Site GaláticosOnline.com)

Tayná Depolo tem 25 anos, é torcedora do Botafogo e frequenta estádios de futebol desde pequena. Ao ser perguntada sobre casos de homofobia presenciados, ela respondeu:

“Infelizmente já cansei de presenciar esses atos em estádios, é recorrente. As vezes não é nem direcionado para uma pessoa específica, são cantos e essas coisas. Eu sempre repreendo quando as pessoas puxam esse tipo de canto, e agora principalmente. O mundo está mudando e as pessoas tem que entender isso, é errado e pronto, não tem o que falar. Eu tenho amigos que são botafoguenses e homossexuais que antes não iam para o estádio, hoje com essa luta aumentando, eles se sentem muito mais à vontade para frequentar, sabendo que tem leis que protegem, de fato eles são muito mais presentes.”

Imagem: (Agência 17/ Mineirão.)

Gustavo Ribeiro, também torcedor fanático do Botafogo, é bissexual e conta um pouco sobre suas experiências nas arquibancadas:

“No começo foi muito complicado, até eu me descobrir de bissexual, ficava querendo me enganar com receio por tudo que já havia presenciado nos estádios de futebol. Quando me assumi foi assustador, mas tive bastante apoio dos meus amigos de arquibancada, nunca sofri nada diretamente, mas se eu te falar que não fiquei com medo, estaria mentindo. Sempre rola aqueles cantos homofóbicos, e quando isso acontece, me dá um aperto no coração, é de fato horrível.”

Ao ser perguntado, Gustavo também falou sobre as campanhas promovidas pelos clubes:

“Acho muito importante todo apoio à luta, até mesmo feito pelos jogadores. Nunca vou esquecer quando o Cano (atacante argentino do Vasco da Gama) fez um gol e levantou a bandeirinha do orgulho LGBT, aquilo foi marcante para mim, são essas coisas que quem olha de fora pode achar bobo, mas para nós que sofremos na pele, é muito emocionante. O Bahia é também outro clube que sempre promove essas ações junto de sua torcida, tem camisas e diversas bandeiras apoiando a causa, eles têm meu respeito. No mundo em que nós vivemos a falta de posicionamento mata, quando as pessoas entenderam isso, talvez algumas coisas possam mudar para melhor.”

Fica claro que o propósito de qualquer esporte é justamente a inclusão e união de todos. Natan Freitas, professor de Filosofia e Sociologia, acredita que todos os tipos de manifestações são bem-vindas nesse combate:

“Quando se trata de esporte, todas as manifestações são bem-vindas, estamos falando de algo universal, pois dentro dos clubes existem diversas religiões e orientações sexuais. O que une as pessoas é o amor pelo clube, o estádio deve ser encarado como um ambiente plural e não singular, o crescimento de ações e pessoas LGBTQIA+ frequentando tal espaço, deve ser vista de forma natural, tal como héteros. No século 21 não há mais espaço para isso, na verdade, em nenhum século”.

Imagem:( Reprodução/ Site RevistaHíbrida.com)

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Matheus Monteiro
Em Toda Pauta

Sou um estudante de Jornalismo fascinado pela área do Entretenimento. Editor do blog Consoledando Games, voltado para o público geek.