Anticoncepcionais masculinos: por que o assunto ainda é pouco falado?
Saiba a opinião de uma profissional da saúde, de uma feminista e de um homem heterossexual
Por: Bruna Biachin
Uma pesquisa feita, recentemente, pela designer alemã Rebecca Weiss, indica grandes chances de revolucionar o mercado farmacêutico. Estamos falando do COSO, um tipo de tigela de ultrassom para uso doméstico na qual o homem banha os testículos a cada dois meses para impedir a mobilidade dos espermatozoides.
A ideia foi pensada por Rebecca após um câncer no colo do útero, causado possivelmente, segundo os médicos, pelo uso contínuo da pílula anticoncepcional. A designer finalizou o projeto em parceria com cientistas americanos e ganhou o prêmio nacional do James Dyson Awards.
Em uma publicação feita pelo Instagram do jornal O Globo, alguns internautas comentaram sobre a notícia. Um deles escreveu:
“Mas não se sabem os efeitos colaterais. Que baita descoberta, eim”, e recebeu a resposta de uma mulher: “será que dá trombose? Depressão? Retenção de líquidos?? Aaa não, isso quem dá é a pílula”, ironizou ela.
Apesar de alguns comentários extremamente negativos, a grande maioria (entre homens e mulheres) parece apoiar a ideia, mas ainda com muitas dúvidas sobre se haveria efeitos colaterais. É o caso do Engenheiro Eletrônico, Victor Hollanda:
“Eu acho que eu preferiria continuar no clássico, usar camisinha. Não sei ainda muito bem quais seriam as consequências para os homens. Mas é algo a se pensar, não acho que se deva deixar toda a responsabilidade para a mulher, se ela aceita tomar (a pílula), caberia ao homem também aceitar”, disse ele.
A camisinha segue sendo o anticoncepcional mais recomendado por especialistas, pois além da gravidez, evita DSTs. Contudo, as pílulas anticoncepcionais, o DIU e outros hormônios femininos funcionam como um complemento à prevenção e, em alguns casos, como o único método contraceptivo.
A bailarina Giulia Castilho possui histórico de trombose na família e levantou uma reflexão importante sobre o machismo, que pode estar atrelado ao desenvolvimento dos métodos:
“Conheço várias mulheres que sofreram consequências ruins, por exemplo o desenvolvimento de cistos ou câncer, facilitados pelo uso da pílula. Acredito que os métodos são, em sua maioria, feitos para mulheres porque muitos deles foram pensados por homens e eles não querem sofrer os efeitos colaterais impostos para as mulheres.”
Segundo a residente de Ginecologia & Obstetrícia do Hospital Federal da Lagoa, Tamar Garfinkel, é fundamental avaliar se a mulher possui alguma contraindicação para o uso de anticoncepcionais.
Ela afirma que existem mais contraceptivos femininos que masculinos por questões multifatoriais “O cerne da questão para mim é que é a mulher quem vai carregar o bebê por 9 meses e vai passar por todas as modificações inerentes à gestação, ao parto e ao pós-parto, por isso, essa preocupação recai mais sobre ela.”.
Questionada sobre se o COSO vingaria no mercado farmacêutico, ela comenta que existe uma barreira a ser enfrentada devido ao histórico de baixa adesão da população masculina a serviços de saúde e a tratamentos em geral.