Um time de designers que não usa post-its

Silvio Genesi
EmCasa
Published in
4 min readMay 8, 2020

Em todos os lugares que eu trabalhei como designer, sempre tive as tarefas muito bem definidas. Era claro quando eu tinha que entrar e o que eu tinha que fazer. As demandas surgiam. Os PO’s organizavam as reuniões de planejamento e depois disso o time começava o processo de design thinking ou partia direto para os desenhos.

Trabalhei em empresas muito grandes e startups. E em todos os casos, esse modelo estava presente. Isso começou a me incomodar um pouco. Com o tempo, esse padrão tornava o trabalho um pouco repetitivo e criava uma estrutura onde as equipes não sabiam muito como lidar com ideias que estavam fora do escopo inicial, em termos de execução em eventuais mudanças de direção.

Isso me levou a questionar o meu papel na empresa. Eu tinha algumas outras habilidades, que eram pouco aproveitadas. Não que as pessoas precisassem parar me ouvir ou aceitar todas as minhas sugestões, mas ser parte de um roteiro de trabalho definido e mais duro, tirava a possibilidade de contribuir no todo e me colocava para atuar em uma parte especifica do processo.

Ok, mas o que isso tem a ver com os post-its?

Ao longo do tempo, minha experiencia com post-its eram sempre isoladas. Ou eu desenhava sozinho, ou com outros designers. Poucas pessoas paravam para conversar comigo sobre o que estava acontecendo. Isso centralizava bastante o entendimento do sistema na minha mão, reforçava esse isolamento, e me jogava cada fez mais para esse lugar, onde eu só fazia “a parte do design”. Isso ficava muito claro quando tínhamos reuniões separadas por área.

Eu comentei sobre isso com alguns colegas e descobri que boa parte deles se sentiam como eu me sentia também. E foi exatamente nesse momento que surgiram as primeiras conversas com a EmCasa. Como a vaga seria, entre outras coisas, para gerenciar os designers da empresa, fazia muito sentido tentar colocar em prática o que eu tinha entendido sobre a minha forma de atuar e como eu gostaria que as coisas acontecessem. Cortando para agora, já na EmCasa, resolvemos testar algumas coisas.

O que temos feito por aqui é quebrar um pouco essa forma de atuar dos designers. Estimulamos que eles sejam pares dos PM’s, além de adotar uma postura mais corpo a corpo no dia a dia com os stakeholders. Isso tem trazido resultados interessantes até o momento. As discussões de priorização são mais completas. Ao invés do designer esperar para ouvir o que o PM vai passar, ele já traz algumas opiniões formadas pela convivência mais próxima com a operação da empresa. Isso traz insights de tudo. PM’s falam de design, designers falam de negócios e por ai vai. Nossos mapas de jornadas e fluxos ficam abertos para qualquer pessoa ver e opinar. Os designers só param na mesa para desenhar. Todo o resto do tempo eles estão circulando pela empresa e conversando com as pessoas. É lindo de ver:)

Até agora, na minha avaliação, isso tem dado muito certo. Estamos melhorando como designers, entendendo mais de negócios e se envolvendo com dados para criar as métricas que queremos olhar.

Do trabalho em si, eu nunca fiz parte de uma equipe que tivesse tanta influencia na empresa, nunca vi designers com tanto contexto de negócios e nunca tinha lançado tantas coisas relevantes em um espaço tão curto de tempo.

Em termos de ferramentas — que substituem os post-its — trabalhamos com muita lousa branca e Miro. Temos várias reuniões curtas que acontecem ao longo dos nossos sprints. Normalmente elas viram mapas de jornada. Gostamos muito do Miro para digitalizar e compartilhar esses mapas. Temos vários deles, definindo desde fluxos de telas até propostas de mudança na operação.

Agora mesmo, os designers estão redesenhando uma estrutura de atendimento. Eles estão criando uma jornada nova, que irá melhorar a gestão da nossa carteira de clientes que precisam vender o imóvel. Estávamos recebendo algumas reclamações pela demora nos agendamentos e esclarecimento de dúvidas em geral. Eles estão reorganizando os times que vão assumir essa função. Como esse gerenciamento de carteira é feito no Salesforce, eles estão juntos com os analistas, preparando tudo que precisa ser criado e ajustado lá dentro.

Nossa reunião antes da Covid-19, para compartilhamos os trabalhos feitos durante a semana.

Nossa reunião semanal para compartilhar o que cada um fez durante a semana.

Estou muitíssimo empolgado com o caminho que estamos seguindo e acho que estamos criando uma cultura muito particular, que forma profissionais mais completos do que eu era antes de gerenciar essa equipe.

Não tenho nenhuma pretensão de declarar guerra aos post-its, mas aqui nós realmente não estamos usando. Acho que em algum momento provavelmente iremos usá-los. Mas dessa vez eles não irão mais representar esse isolamento que eu senti um dia.

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