Demitida, eu?

Maria Izabel Guimarães
. em espiral
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2 min readApr 14, 2018

Sair forçosamente de qualquer situação da vida nunca é fácil. O fim de um relacionamento, o rompimento de uma amizade ou uma demissão são sempre difíceis de lidar e de engolir.

No âmbito profissional a coisa pode ser bem complicada.

Para quem está de fora, nem tanto. Nestas horas, é comum ouvir frases como: “poderia ter acontecido com qualquer um”, “a vida é injusta mesmo”, “logo logo você arruma algo melhor” ou, ainda, “tem algo muito bom esperando por você lá fora”.

Tudo verdade.

Pena que, quando se trata de subjetividades, tudo seja sempre bem mais complexo.

Uma demissão mexe diretamente com a autoestima. Faz você repensar se, em algum momento, foi de fato competente. Faz você se cobrar sobre o porquê de não ter tido atitudes diferentes. Sobre porque não fez mais e melhor.

Não importa o quanto você tenha se doado ao longo de meses ou de anos, você sempre vai achar que poderia ter feito diferente. A verdade é que, sim, você poderia. Poderia em outro contexto e em outro cenário. Talvez pudesse em um ambiente de mais transparência, mais suporte e menos politicagem. Mas a gente lida com o que tem.

Leva um tempo até a gente se desligar do que foi e do que teve. Certas fichas vão caindo bem devagar e é aí que a parte divertida começa.

Se você passou muitos anos em um mesmo trabalho, indo todos os dias e passando horas e horas em um mesmo ambiente, é bem provável que você tenha esquecido, ao menos um pouco, de quem você é.

O tempo vai passando, a culpa vai sendo substituída pela boa e velha lucidez que sempre vem nos avisar de que não, não temos superpoderes. E a vida volta a ter cores. Cores novas, cores antigas que ressurgem, cores que estavam abafadas e voltam a se revelar mais intensas do que nunca.

É nesta hora que lembramos do que gostamos, de como chegamos lá, de porque estamos aqui. Se tudo der certo (e em geral dá — sou otimista), você finalmente entenderá que este “lá” não se refere a uma empresa ou a um cargo. É de um “lá” diferente que estamos falando. Este “lá” é um lugar que representa autorrealização, sensação de dever cumprido e desejo de ir sempre adiante. Não tem nada a ver com currículo. Tem a ver com propósito pessoal.

Sim, eu sei que em um mundo que se divide entre “winners” e “losers” fica difícil ter certos tipos de clareza. Isso vem com o tempo, com as reflexões que muitas vezes somos forçados a ter e, também, com a maturidade. Não é fácil. Mas vale, vale mesmo muito a pena rever certos conceitos, e deixar a bagagem um pouco mais leve para seguirmos em paz nesta louca viagem: a vida.

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Maria Izabel Guimarães
. em espiral

Jornalista, leitora, aprendiz de dançarina e apaixonada por aprender.