Descoberta
Descubro-me…
Descubro-me…
Descubro-me…
Gosto de repetí-la assim, em silêncio
Sílaba por sílaba
Gosto de ouvir cada som
Pois é assim, devagarinho, que me reconheço. Reconheço-me apenas quando os barulhos calam e dão espaço a estes novos tons
Fecho os olhos para ouví-los e, então, posso ver-me em todas as cores
Estiveram sempre aqui?
É este estar em silêncio que colore o meu dia. É ao não ouvir que me percebo
Ontem não me sabia. Hoje, descubro-me
Como quem desvenda um segredo. E este segredo é dito assim, como um cochicho, um assobio que passa quase como um sopro de vento…
Vento de grama verdinha molhada de chuva
E então, descubro-me chuva, terra molhada e terreno fértil
Cubro-me de todas estas cores, danço todos estes sons… cubro-me de terra úmida
Pois é assim que sou
É assim que sei ser
Devagarinho
Discretamente
Como música de fundo, segredo ao pé do ouvido, ou livro bom na cabeceira.