Por tudo mais

Maria Izabel Guimarães
. em espiral
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2 min readNov 22, 2017

Não é só pelo portão que foi fechado naquele início de noite, nem por não saber quem o fechou: eu ou você. Também não é por não saber, ao certo, se de fato algum portão foi fechado em algum momento

São tantas portas, tantas janelas, que a gente já nem sabe mais…

É por todo o sentimento desconhecido por mim, mas que já habitava o mundo, a espreita, esperando por ser descoberto

É por essa água que agora transborda e que eu não consigo descobrir onde esteve aquele tempo todo

É por não conseguir tantas coisas
É por me saber impotente

É pela enxurrada em que me transformei
É pelas bordas que nunca mais serão aparadas

É por tudo o que só pude ser depois daquele ranger de portas
É pelo barulho incômodo da dobradiça ecoando em mim

É pelo beijo tímido, com gosto de bebida barata, que me fez luz
É por essa luz que me ilumina em silêncio
É por essa clareira aberta em mim

É por aquele fim tão amargo

É para poder dizer que nunca houve um fim. Você não foi embora. Sei que pensa que foi. Mas não. Você está aqui

É por todos os dias que vieram depois daquela quase noite

É pela presença constante

É por esse segredo que agora escapa por essas letras

É por você não ter sabido de todos os meus momentos que se seguiram àquele choro

É pela altitude do grito que eu não conseguia alcançar

Eu sou um grito. Sou hipérbole. Sou ênfase. Sou força. Sou contida

É pelos verbos não conjugados. É pelos sentidos. Pelos olhos fechados

É por esses olhos meus, tão azuis, que não se querem mais abertos

Pois é assim que tem que ser, para que você viva sempre aqui, nessa imensidão

Nessa solidão silenciosa e quente

Nessa noite de portões escancarados para a vida, vidas, e dias, e dias…

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Maria Izabel Guimarães
. em espiral

Jornalista, leitora, aprendiz de dançarina e apaixonada por aprender.