Renovação

Maria Izabel Guimarães
. em espiral
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3 min readMar 30, 2018
Imagem: pgntree

Daí um dia você percebe que cresceu. Bem, na verdade faz tempo que você cresceu.

Digamos então que, um dia, você se lembra de ter crescido. Isto acontece vez ou outra e te faz pensar no que “crescer” significa.

Crescer significa ver que alguns dos seus sonhos foram realizados. E você pode, finalmente, ter novos sonhos.

Crescer é ganhar o direito de escolher novos sonhos.

Talvez esta seja uma das grandes responsabilidades da vida adulta. Escolher sonhos é algo muito importante.

Se eu pude eleger meus sonhos aos 7, 12, 18 anos, por que não poderia fazer isto aos 30, aos 40, aos 80?

Poder, a gente pode. Mas, antes, tínhamos o benefício da ignorância. Sonhos eram apenas sonhos, desejos, vontades vindas não se sabe de onde e movidas por pura inspiração e aspiração, sem o objetivo de serem alcançados ou realizados.

Aos 7 anos sonhos não são metas.

Aos 30 eles compõem sua lista de “to do’s”, de afazeres, de atividades diárias.

O ítem “escrever um livro” está anotado logo abaixo do ítem “declarar imposto de renda” ou “pendurar quadros na parede”. “Aprender a dançar” fica perto de “consertar o carro”, e “passar um ano viajando” ficou abafado ali, logo ali depois daquelas inúmeras planilhas a serem preenchidas.

Na verdade, você pode se considerar feliz se ao menos ainda tiver ítens como “escrever um livro” em sua lista de pendências.

Talvez você já tenha removido todos os sonhos da sua lista e deixado que ela se transformasse em um grande aglomerado de atividades burocráticas.

Talvez você se dê por feliz simplesmente por conseguir cumprir com boa parte destas atividades burocráticas.

Você fica feliz por tomar café da manhã em um lugar gostoso, por caminhar na Paulista no fim de semana ou por tomar um solzinho na rua em frente à empresa em que trabalha no intervalo do almoço.

Mas logo passa a se sentir mal por ter se tornado uma pessoa que trabalha em uma empresa, e que tem apenas curtos intervalos para encontrar prazer. Uma pessoa exatamente como tantas outras pessoas que caminham por São Paulo entre uma obrigação e outra, entre um compromisso “sério” e outro.

Você se tornou igual a todas estas outras e tantas pessoas.

Você, logo você…

Então você se questiona se os sonhos sonhados até então foram os corretos. Se as escolhas feitas antes de ter crescido foram as corretas.

Você certamente vai achar que não, que parte delas foi incorreta e você sentirá vontade de voltar no tempo e fazer escolhas diferentes.

Você vai perceber que só sabe que estas escolhas não foram corretas porque chegou aqui, no seu futuro. E só agora, podendo olhar para trás, pode fazer uma avaliação mais realista sobre sonhos sonhados tão precocemente.

E você decide, então, parar de escolher seus sonhos. Você decide tentar fechar os olhos e simplesmente querer algo, como fazia aos 7 anos, sem porquê nem lógica.

Pois de metas nossa vida “adulta” já está cheia.

O que precisamos é de sonhos.

O que precisamos é da capacidade de sonhar.

E de renovar nossos sonhos sempre que necessário. Ou, simplesmente, quando e sempre que tivermos vontade.

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Maria Izabel Guimarães
. em espiral

Jornalista, leitora, aprendiz de dançarina e apaixonada por aprender.