Um cão de faro
Uma história de Emilio e Débora Garofalo
Linguicinha nasceu numa casa muito amorosa, numa família com duas crianças de 9 anos, as gêmeas Maria e Júlia. Linguicinha era o mais novinho de uma ninhada de cinco filhotinhos. A casa ficou muito feliz com a chegada desses fofinhos. Todos amavam bichos na casa.
O Linguicinha era marrom e branco. Ele tinha uma manchinha na cabeça. Ele gostava muito de ficar com a língua de fora mesmo que não estivesse com calor.
O Linguicinha recebeu esse nome por ser meio maluquinho. Vamos contar algumas das bagunças que ele aprontava. Uma vez, ele pegou um rolo de barbante e começou a brincar que nem se fosse um gato. E ele desenrolou o barbante inteiro pela casa. Mas não foi só isso. Pois o barbante enroscou no pezinho do móvel da televisão. Então, quando as pessoas chegaram e tropeçaram no fio de barbante, aquilo derrubou a televisão nova, que explodiu em muitos pedacinhos.
Uma outra bagunça que ele fez, foi um dia em que o pessoal estava fazendo um churrasco, e esqueceu o pratinho de coração e linguiça na mesa. Então ele olhou, subiu pelo banquinho e comeu toda a linguiça. Aí, começaram a chamá-lo de Linguicinha.
Quando ele começou a crescer, todo mundo percebeu que o faro dele era muito, muito bom. Todos os seus irmãos eram bons de faro, mas ele era muito melhor do que o normal. Ele conseguia sentir o cheiro de qualquer coisa, mesmo a distâncias muito grandes. Às vezes ele começava a latir pois tinha sentido o cheiro de seus donos lá da entrada da rua. Ele era o primeiro a latir, e só quando as pessoas chegavam bem mais perto, é que os outros cachorros percebiam e latiam também.
Ele era tão bom nisso, que suas donas pensaram em levar o Linguicinha para fazer um treinamento no Corpo de Bombeiros. Ele podia ser muito útil procurando pessoas que estivessem perdidas. Podia ser pessoas perdidas no lago, numa floresta, ou mesmo num prédio desabado.
Ele era tão bom que os bombeiros quiseram treina-lo. Só que as meninas queriam ficar com ele, então fizeram um acordo que ele trabalhava no Bombeiro de manhã, enquanto elas estudavam, mas de tarde ele voltava para brincar com elas e dormir em casa.
Os bombeiros aceitaram, pois nunca antes tinham visto um cachorro tão bom de faro quanto ele. Nem mesmo os Labradores, os pastores ou qualquer outra raça. Aquele Shih-Tzu era especial.
Mas teve um dia em que o Linguicinha estava doente e teve que ir para o veterinário. Ele estava com alergia de pele muito forte. A veterinária fez alguns testes e descobriu que ele era alérgico a grama, e tinha muita grama lá nos Bombeiros.
As veterinárias se chamavam Verônica e a Carina. Elas são muito boas e simpáticas. A Carina já tem dez anos de carreira, e a Verônica tem quatorze. Elas cuidam muito bem de todos os bichinhos. Elas passaram um remédio que era um pouco caro, mas que valeria muito à pena pois o Linguicinha iria ficar muito bem com esse tratamento.
E assim a vida ia, Linguicinha de manhã ajudando os bombeiros e de tarde levando uma vida mais brincalhona. Tudo isso mudou, quando os bombeiros descobriram que em algum lugar no Lago Paranoá havia um tesouro misterioso. Ninguém sabia como esse tesouro era, e nem como tinha chegado no lago. Afinal, ao menos que a gente saiba, não existem piratas no Lago Paranoá. Isso é um grande mistério.
Como o Lago era muito profundo, eles chamaram o melhor dos farejadores, claro, o Linguicinha. Eles subiram numa lancha e foram procurar o tesouro. O primeiro lugar que eles procuraram foi debaixo da Ponte JK, que é uma ponte muito bonita e grande. E era inclusive bem perto da casa da família do Linguicinha.
Assim que eles chegaram nessa região, o Linguicinha farejou alguma coisa. Ele ficou muito agitado e começou a latir, um latido roquinho e muito gostoso. Claramente ele tinha encontrado alguma coisa.
Os bombeiros ficaram bem animados achando que tinham encontrado o tesouro logo na primeira tentativa! Mas foi bem diferente. Na verdade, o que o Linguicinha encontrou foi uma baita peça de metal que tinha caído na água na época da construção da ponte. Foi muito útil ele ter farejado aquilo, pois aquele pedação de metal era um risco para os barcos e pessoas passeando de pedalinho e nadando por ali. Então acabou sendo bom. Mas todo mundo queria mesmo era o tal do tesouro.
Naquele dia não fizeram mais nada, já estava na hora do Linguicinha ir para casa brincar com as meninas, e descansar do jeito que ele gostava, que era de barriga para cima.
No dia seguinte, saíram mais uma vez numa missão de busca. Dessa vez, tentaram outra parte do lago, lá para junto do hospital Sarah Kubitschek, na parte norte. O pessoal do barco estava animado, mas um pouco decepcionado com a primeira busca. A tratadora do Linguicinha era a Rita. A Rita era muito cuidadosa com os cachorros e também era muito corajosa e destemida. Ela tinha 24 anos e o cachorro favorito dela era o Linguicinha. Ela gostava tanto dele que queria adotar ele, o Linguicinha.
Naquele dia, a Rita estava com ele no barco, e mais dois bombeiros mergulhadores. É muito perigoso e difícil ser um mergulhador, e eles têm muitos equipamentos especiais de segurança.
Passearam de barco por umas duas horas, sem nada acontecer. O Linguicinha tomava sua água geladinha e descansava. Até que, do nada, ele começou a latir muito empolgado. Claramente eles tinham achado alguma coisa, e ficaram torcendo para ser o tesouro.
Os mergulhadores desceram, e perceberam que tinha algo muito pesado lá no fundo. Com a lanterna conseguiram ver que era um baú, desses de filme de pirata mesmo.
Eles precisaram chamar pelo rádio um outro grupo com um barco maior que tivesse um guindaste para puxar o tesouro. E assim que puxaram aquele baú, todos ficaram de boca aberta pois era um tesouro de verdade, cheio de moedas de ouro, taças de ouro, pedras preciosas e colares e joias. Aquilo tudo devia valer muitos milhões de reais.
Linguicinha ficou muito famoso, sua foto saiu até no jornal e sua família foi entrevistada na televisão. Toda a equipe dos bombeiros foi homenageada. O cachorrinho ganhou uma medalha de honra por sua coragem e serviço. Só que continuava um mistério: de onde veio esse tesouro? Mas isso, é uma história para outro dia.
