Eleições e empoderamento LGBT: Renata Peron (SP)

Danilo Motta
Empoderamento LGBT
Published in
4 min readSep 6, 2018

A entrevistada da vez é a assistente social Renata Peron. Ela é candidata a deputada federal pelo PSOL de SP, sob o número 5002. Confira o nosso papo:

Por que você quer ser deputada federal?

Eu quero ser deputada porque durante os 25 anos que eu votei num homem branco, cis, hétero, esperando que as pautas da comunidade LGBT fossem priorizadas, até hoje nunca foram. Nós não temos uma lei que criminalize a LGBTfobia, não temos uma lei que permita que os casais homoafetivos possam ter direitos iguais… Essas conquistas que nós tivemos até hoje, foi o STF que nos proporcionou, mas [vindo] do próprio estado e do Congresso Nacional, que são os elaboradores das leis, nunca tivemos. Para além disso, é também para lutar em prol dos direitos das minorias, dos negros, da população em situação de rua — eu sou assistente social — e acho que é de suma importância que a gente possa ter entendimento sobre a questão da representatividade. Ela é de suma importância.

Como avalia a importância de candidaturas LGBT?

No momento que estamos vivendo hoje, com o conservadorismo em alta, é de suma importância que a gente tome para nós a responsabilidade e saiamos de cima do muro. Não dá mais para o movimento LGBT esperar que uma outra pessoa que não seja do próprio segmento LGBT possa fazer alguma coisa por nós. Nós já votamos por muitos anos nesses que eu citei acima, e nossas pautas nunca foram apresentadas sequer. Então é chegado o momento, e nós estamos sentindo isso desde as últimas eleições. Agora aumentamos, nós temos 94 pessoas LGBTs pelo Brasil, segundo o grupo Aliança, que são candidatos, porque nós realmente estamos cansados de esperar que os outros façam por nós. Então é de suma importância esse empoderamento da comunidade LGBTI+.

Quais projetos devem ser priorizados em um eventual mandato?

Nós temos três. Um seria o mandato participativo. A gente vai realizar audiências públicas em várias cidades do estado de São Paulo para decidir as pautas do mandato e a destinação das verbas das emendas parlamentares. Como você sabe, um deputado federal tem um valor que varia de R$ 800 mil a R$ 6 milhões anuais que você pode utilizar da melhor maneira que você quiser. Então como nossa ideia é de um mandato participativo, que a gente possa viajar para as cidades do estado de São Paulo e ver no que pode ser investido, entre cultura e educação. Outra seria uma reforma politica. A gente quer apresentar um projeto de lei para facilitar a adoção dos mecanismos de participação popular: plebiscitos, referendos… Acho que isso seria uma das ações importantes, porque aí abrangeria todas as pessoas, não um recorte exclusivo. Agora, claro, a gente quer também criar um marco protetivo para as identidades de gênero, como assistência social, moradia, sistema de saúde, regular os direitos das pessoas trans, travestis e transexuais, pois nos temos a autorização de nome e sexo, mas não é lei. Então essas seriam as três pautas, para além das tantas outras que nós temos. Outra coisa que eu acho importante frisar: nós não achamos justo um deputado ganhar R$ 33 mil. Então juntamos um grupo de oito candidatos estaduais e federais e criamos a “dobradona”. Nossa ideia é criar um projeto de lei que reduza pela metade o salário dos deputados estaduais e federais. E para provar que a gente vai seguir isso, enquanto esse projeto não for aprovado, durante os 4 anos os oito vão doar metade desse valor — ou pro póprio estado, ou revertendo em ações. A gente quer, por exemplo, doar para instituições que cuidam de LGBTs, do movimento negro… aí depende de cada um, mas assumimos o compromisso de que metade desse dinheiro nós vamos doar.

Quais os desafios para os LGBTs em SP?

Um dos principais desafios para nós da comunidade LGBT é a gente aprender a palavra representatividade. Acho que temos até o conceito, mas não internalizamos de fato. Nesse atual momento de quebra dos direitos e do não cumprimento da constituição, em que, de 2013 pra cá, a gente está vendo o conservadorismo avançando muito. Acho que o principal desafio da comunidade LGBT é compreender isso e se unir de verdade em prol de uma causa chamada coletividade. Acho que a gente ainda não tem consciência de que a coletividade é que vai resolver as coisas. Nós já estamos acostumados pelo próprio sistema capitalista que nos temos, de não aprender que coletividade é muito mais importante que individualidade. Então acho que um dos principais desafios é a gente não ter , inserido em nós, a questão da representatividade.

Por que a escolha pelo PSOL?

No PSOL, eu me senti mais acolhida quando cheguei aqui. E pelas pesquisas que eu vi em outros partidos, eu senti que ele está mais aberto a aprender, a respeitar as diferenças, acho que esse é um ponto importante. Não que ele já faça isso e compreenda as diferenças da comunidade LGBTI+, mas está propício a aprender com essas trocas e respeitar as diferenças. Acho que esse é um ponto importante.

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