Como estão sendo planejadas as iniciativas em Jornalismo digital no Brasil

Os empreendimentos do Jornalismo digital no Brasil têm clareza de objetivos, a missão de cada iniciativa é bem definida, eles pensam nas fontes de recursos, mas o planejamento do negócio digital é precário. Tanto que dois terços das iniciativas pesquisadas não elaboraram um plano de negócios (BP), como se pode ver no gráfico a seguir.

O sucesso de um empreendimento não está condicionado à elaboração de um BP — nesta pesquisa há vários exemplos de empresas que cresceram sem que essa etapa de planejamento tenha sido elaborada formalmente -, mas começar um negócio sem ter um plano de negócios equivale no Jornalismo a publicar um texto que não responda às perguntas exigidas pelo lide. A grosso modo, o BP é uma entrevista detalhada que o empreendedor responde sobre seu projeto e seus planos para sobrevivência e crescimento. Por que ele está empreendendo? Para quem ele vai oferecer o produto de seu trabalho? Como ele fará isso? De onde virão os recursos? Quanto espera faturar? Quando deve revisar seu modelo?

Uma boa notícia é que os empreendimentos mais recentes, surgidos a partir do início de 2015, já inverteram essa lógica. Das 17 novas iniciativas que surgiram nesse período, 10 elaboraram um plano de negócios contra 7 que não fizeram um BP antes de iniciar as suas atividades. Embora o gráfico não apresente esse comportamento como tendência, é possível acreditar que haja uma mudança nesse quadro motivada por maior interesse dos empreendedores, mais informação disponível e menos preconceito por parte dos jornalistas com questões negociais e financeiras.

Outra informação que a pesquisa revela é que 57,1% das empresas que começaram com 3 sócios fizeram seu plano de negócios, enquanto 42,9% não. No total, 14 empresas iniciaram as suas atividades com 3 sócios. Com um número maior de participantes, que possam dedicar ao menos parte de seu tempo ao negócio, a divisão de tarefas é facilitada. Os empreendedores individuais, pela falta de tempo e de repertório, acabam por focar sua atenção nas atividades para as quais têm mais competências e a principal delas no caso dos jornalistas é a produção e edição de conteúdo.

Um gráfico que resume esse comportamento dos empreendedores individuais é o que mostra o tempo dedicado ao planejamento da iniciativa antes de seu lançamento. Quase a metade dos empreendimentos individuais foram lançados no máximo 3 meses depois do início do planejamento. Essa dinâmica, possível nos meios digitais pela baixa incidência de barreiras de entrada e pela possibilidade de início de um negócio com investimento próximo de zero, é um risco. O baixo investimento no tempo dedicado ao planejamento pode cobrar sua conta num futuro muito próximo quando os cenários começarem a se materializar de modo diferente daqueles sonhados no início.

De um modo geral, considerando todas as iniciativas pesquisadas, o tempo gasto em planejamento segue sendo baixo. Mais da metade das iniciativas planejaram por até 6 meses o empreendimento antes do início das atividades e 20,3% o fizeram por mais de 1 ano. A pesquisa não detecta o quanto desse tempo foi dedicado integralmente ao planejamento. Embora seja possível admitir que na maioria dos casos o tempo efetivamente dedicado ao planejamento tenha sido pequeno, é certo que algumas iniciativas mais recentes operaram por períodos de 3 a 6 meses, já produzindo e avaliando seu trabalho antes de levá-lo a público.

Para finalizar esse capítulo, outro dado preocupante se une ao primeiro gráfico apresentado nesta página. Em 66,1% das iniciativas, nenhum dos sócios teve qualquer apoio de profissional especializado antes de começar seu empreendimento. Os jornalistas têm um desafio enorme no mundo digital de ampliar muito seu repertório, incorporando competências que antes não pareciam necessárias. Agora elas são obrigatórias. Quebrar o preconceito e adquirir conhecimento em áreas como Planejamento, Finanças, Estatística e Marketing já é fundamental para sobreviver no ecossistema digital. Para empreender, mais ainda.

Este post foi publicado originalmente em interatoresUP! e faz parte de uma série de publicações com os resultados da pesquisa Empreendimentos digitais do Jornalismo brasileiro.

Veja também a entrevista com Claudia Belfort, criadora do Ponte.org, que fala sobre o lugar do sonho no Jornalismo.

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