Wild Is The Wind

Mariana Martins Vieira
encaixando as lampadas
4 min readJan 15, 2020
Claude-Joseph Vernet
The Shipwreck
1772

For my love is like the wind

Coloquei para repetir no meu Spotify enquanto escrevo, para não me perder do sentimento. Mas, antes disso, coloquei para repetir eternamente em mim. Por que? Porque não tive escolha. David Bowie, querido, ouvi você cantando que seu amor é como o vento e que o vento é selvagem e isso acabou comigo. Eu também já tinha ouvido Nina Simone cantar esse verso anos atrás, então, o despedaçamento foi duplo, por duas almas musicais que eu venero.

And wild is the wind

Acontece que eu coleciono musicas que convidam minha alma pra dançar. Dançar como um balé, nos anos iniciais de seu nascimento, que chocava as pessoas nos teatros com a precisão poética dos seus giros na ponta do pé, que mais lembram um furacão pela força do sentir que causa em nós. E minha alma rodopiou como um furacão com Wild Is The Wind.

Give me more than one caress

E wild is the wind, não é? Acho que era isso que os compositores — Ned Washington e Dimitri Tiomkin — sentiam quando escreveram. O furacão selvagem estraçalhando tudo. (Eu não escuto uma boa música sem saber o nome do compositor). E por que ela conseguiu acender o furacão também em mim?

Satisfy this hungriness

Todos os versos são de um magnetismo gigantesco, porém, acho que só esses que derramei entre os parágrafos bastam para sentirmos a profundidade. É uma música visceral. Eu amo coisas viscerais. Fazem-me entrar em contato com meu inner self. Ele tem sede de visceralidade. Por isso o satisfy this hungriness cabe tão bem em mim. Minha fome de vida, ou de além-vida, é um vazio maior que eu.

With your kiss my life begins

E, às vezes, eu acho que o amor é o único alimento que sacia a alma. Não, não aquele amor de comédia romântica ou aqueles trágicos de dramas adolescentes. Um amor transcendental, sobre o qual eu sempre escrevo. Não um amor feito para preencher vazios, ou para cumprir a obrigação copulatória da vida. Um amor feito para transcender a vida. Essa música fala justamente dele.

Don’t you know you’re life itself?

Wild. Por que tem que ser wild? Para que se possa quebrar as barreiras do mundo físico, acredito eu. Quantos não padeceram buscando isso? Eu padeço todos os dias. A intensidade que pulsa em mim, vinda da fonte de força vital da vida, pede que eu transcenda. Pede que eu atravesse o mundo, ou os mundos, como o vento: wildly. E que encontre o quê? Ainda não encontrei, não sei. Um amor que seja selvagem como o meu.

You’re spring to me, all things to me

Será que é tão wild assim ou eu que tenho mania de poeta de hiperbolizar os sentimentos? Ou, então, sou jovem e inocente demais para me desprender das ilusões netunianas? Acho que todo poeta é netuniano por natureza. E minha natureza é selvagem como as poesias que dedilho no papel. Por isso, minha alma dança ao ritmo dos meus versos.

Let the wind blow through your heart

Dançar não é criação humana. O balé pode ter sido, mas a dança, não. O universo inteiro, na sua ritmada existência, dança. Vibra. Por isso é tão potente o efeito que uma música como essa causa em nós: leva-nos ao inner self conectado ao todo. Por isso, ainda mais potente seria um amor com a selvageria que essa música fala. Seria a fonte da conexão vibratória de cada bóson e férmion da existência.

We’re like creatures in the wind

Por isso, não é hipérbole da jovem poeta. É o reconhecimento de que a vida é um furacão na forma de um fractal que se multiplica pelo espaço-tempo. E que o amor é o vento selvagem que dá forma a ele. E, cada vez eu escuto a vibração do amor, minha alma nasce, ganha vida e dança. Rodopia. Transcende.

Obrigada, Ned, Dimitri, Nina e Bowie. Essa música é como o vento. E faz de mim mais vento, mais selvagem. Ela me faz vibrar com o beijo artístico que dá luz à minha vida e satisfaz minha fome de amor.

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