A Vila Belmiro estava pronta para comemorar

Fernando Saol
encarnado
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6 min readMay 29, 2019

Só não avisaram Pompeia.

A cobiçada Taça Brasil

O America encerrava o ano de 1960 de maneira histórica, sendo campeão
estadual no fim daquela temporada. O título carioca classificava a equipe rubra ao maior torneio nacional da época, a Taça Brasil. Criada para indicar um clube brasileiro para disputar a Taça Libertadores da América, a Taça Brasil, na sua terceira edição, encontrava dificuldades para organizar um regulamento adequado às dimensões continentais do país. Lembrando que na década de 1960 o Brasil não era a nação mais integrada do mundo. Longe disso.

A Taça Brasil era o maior campeonato nacional da época

A maneira encontrada para que a competição fosse disputada foi formar chaves regionais. Na Zona Norte: Bahia, Santa Cruz-SE, Campinense, CSA, Fortaleza, ABC, Clube do Remo e Moto Club. Pela Zona Sul: America, Fonseca-RJ*, Cruzeiro, Santo Antônio-ES, Palmeiras, Coritiba, Grêmio e Metropol. O campeão de cada Zona avançaria às semi-finais, onde já estavam classificados o Santos, por ser o campeão paulista de 1960, e o Náutico, campeão pernambucano de 1960.

Lembrando que o Fonseca era o campeão fluminense de 1960 e o America era o campeão do então Distrito Federal de 1960

A temporada do America não era das melhores. Apesar do forte time montado pelo técnico Lourival Lorenzi, os rubros vinham de um começo irregular de campeonato carioca e uma participação ruim no Torneio Rio-São Paulo. Antes do torneio nacional, a equipe havia disputado 09 partidas em competições oficiais, com apenas 02 vitórias e 07 derrotas. Um retrospecto que não animava a torcida nem a crítica esportiva. Vale ressaltar que no título carioca de 1960, o America só havia perdido uma partida, com 16 vitórias durante o campeonato.

Time campeão carioca de 1960

O primeiro confronto seria contra o Fonseca, de Niterói, campeão fluminense do ano anterior. Jogando fora de casa, no estádio Caio Martins, a equipe conseguiu um empate, resultado que levaria a decisão da vaga para o Maracanã, onde os Diabos Rubros fariam 3x0 na equipe niteroiense. Os gols foram marcados por João Carlos, Nilo e Antoninho. Na segunda fase, o Cruzeiro seria um adversário mais qualificado. Curiosamente, o início conturbado no campeonato carioca não se refletia na Taça Brasil. Três dias depois de perder para a Portuguesa pelo estadual, o America venceria o Cruzeiro no Maracanã por 2x1. No jogo da volta, em Belo Horizonte, um empate de 1x1 garantiria o America na terceira fase, onde enfrentaria o campeão da Taça Brasil de 1960: o Palmeiras!

Escudo do Palmeiras (1961)

O Palmeiras que defenderia o título da Taça Brasil, era o vice-campeão da Taça Libertadores da América de 1961, perdendo o título para o Peñarol e tinha em sua equipe jogadores como Djalma Santos e Julinho Botelho. Não era à toa sua alcunha de Academia. Um time que fez história no futebol brasileiro e mundial.

O America não ficava para trás. Tínhamos jogadores do quilate de Pompéia, Djalma Dias, Jorge, Amaro e João Carlos. Provavelmente era o melhor America de todos os tempos.

Djalma Dias, o craque sem Copa

Um empate no Pacaembu de 1x1 e uma vitória rubra no Maracanã por 2x1, colocaram o America naquele que seria um dos jogos mais difíceis do ano. O adversário era velho conhecido: o Santos. Pelé de um lado, Quarentinha do outro.

No primeiro semestre, pelo Torneio Amistoso de Guadalaraja, America e Santos empatariam em 3x3, com dois gols de Quarentinha e um de Antoninho pelo lado rubro. Pelo lado santista marcaram Coutinho, Pepe e Dorval. Os mexicanos tiveram a chance de ver um equilibrado jogo valendo o título do Torneio. O empate favorecia o Santos e o America ficou na segunda colocação.

O segundo confronto do ano se deu pelo Torneio Rio-São Paulo e a vitória acachapante do Santos por 6x1 mostrava toda a superioridade daquela verdadeira seleção que era o Peixe.

Na semi-final da Taça Brasil seria diferente?

As equipes já se conheciam muito bem. Nos últimos 05 confrontos entre as equipes, o Santos havia vencido 04, marcando 22 gols. O America venceu 01 jogo e marcou 15 gols. Placares movimentados e gols com certeza não faltariam nesses dois novos encontros.

O primeiro jogo seria em São Januário e pelo começo das equipes, parecia que o final seria diferente. O empate no primeiro tempo dava a entender que o equilíbrio permaneceria. Então Pelé com 02 gols e Pepe com 03, transformaram a partida num espetáculo. Ao fim da partida, com vitória de 6x2 pro Santos, o Peixe foi aplaudido pelos torcedores rubros, cientes do espetáculo que tinham presenciado. O jogo de volta, em São Paulo, não passaria de uma mera formalidade.

Paulistas não esperavam a vitória do America

A manchete do jornal Folha de S. Paulo do dia 21 de Novembro de 1961 refletia o inesperado resultado do Santos na segunda partida da semi-final. O time que goleava passou 90 minutos sem um único gol. A partida teve uma peculiaridade: a expulsão de Pelé. Muitos torcedores consideram esse o motivo principal da derrota. Porém, a expulsão só veio a ocorrer aos 31' do segundo tempo. A linha de defesa do America se superou naquele jogo, com atuações exemplares de Pompeia, no gol e de Jorge, Djalma e Wilson Santos na zaga.

Defesa voadora de Pompeia na partida vencida pelo America

O gol de Fontoura aos 42' da primeira etapa foi uma pintura. Após cobrança de falta realizada por João Carlos, a bola sobrou na área para o meio-campista rubro, que deslocou a zaga, apontou para o canto esquerdo e nem deixou Láercio sair na foto. O goleiro santista não tinha culpa. Com o resultado de 1x0, coube a Pompéia, numa exibição épica, fechar o gol rubro. Suas defesas voadoras garantiriam mais uma vez o resultado favorável para o Diabo.

O Santos, time das goleadas, clube que possuía uma seleção, era derrotado em plena Vila Belmiro. Pelo regulamento, a igualdade de pontos conquistados forçava uma terceira partida. O desempate do confronto seria no Pacaembu.

O terceiro jogo foi mais um espetáculo Santista. Apesar do resultado de 6x1 pro Santos, o America equilibrou a partida durante o primeiro tempo, com direito a defesa de Pompeia a uma penalidade máxima cobrada por Pelé. Quarentinha marcou o único gol americano, naquela que seria a última participação do America na Taça Brasil. O Santos seria campeão daquela edição e das quatro edições seguintes.

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