Temos uma história magnífica
E conhecemos pouco nossa própria trajetória.
Lembro com clareza o primeiro jogo do America que assisti em um estádio. Pela Taça Guanabara de 2005, eu sai de casa num sábado à tarde, para acompanhar Botafogo x America. A emoção era dupla, assistir meu time de coração pela primeira vez ao vivo e conhecer o Maracanã. Maraca que ainda ostentava linhas de 50 anos atrás. Só de entrar no Estádio Jornalista Mário Filho foi de arrepiar, coisa que fica guardada como lembrança na memória e volta e meia é revisitada. Não sei como é o estádio atualmente, pois não pisei lá após sua reforma para a Copa de 2014.
O cenário para aquela era partida era incerta. Abertura de campeonato, ausência de notícias aprofundadas sobre o time, de enorme só a expectativa. O tom encarnado da camisa, visto de cima, era uma coisa maravilhosa. Curiosamente fui ao estádio vestindo a camisa azul comemorativa do Centenário, com o número 10 nas costas e o nome “Diko” estampado. Coisa de adolescente. Conhecia pouco o elenco do nosso time e por triste fato, sabia o nome de todos os jogadores do Botafogo. O jogo começava e era difícil eu prestar atenção à partida. O Maracanã me seduzia, a festa da torcida alvinegra era muito bonita e a primeira vez que ouvi a torcida americana entoado o grito de Sangue foi mágico. O hino então, nem se fala. O jogo foi bem injusto comigo. Perdíamos de 3x0 e eu torcia para que o jogo terminasse sem mais sofrimento.
Foi quando uma reação começou. O time começou a jogar bem e animava a torcida. O grito de Saaaaaaaangue ecoava e refletia nos pés de Willian, de Guto! Como a memória brinca com a gente. Nas minhas lembranças, Guto abalava a lateral alvinegra, infernizava a zaga adversária. Tinha feito um gol. Gol que lembro com todas as cores, pena que não as cores rubras. A exibição de Guto, que pra muitos deve ter sido nada demais, pra mim foi gigante. Meses depois, Guto iria jogar no Bahia pelo Campeonato Brasileiro da Série A daquele ano. O gol que eu jurava que ele tinha feito naquele Botafogo 3x2 America, foi marcado pela camisa do Bahia. Na falta de time para acompanhar no resto do ano, eu acompanhava Guto pelo Baêa.
Aquele jogo de 2005, mesmo com a derrota, despertou em mim o sentimento da arquibancada. Claro que nunca vamos ao estádio esperando o pior (tem torcedor que vai, sabemos), mas a partir daquela tarde eu passei a frequentar os jogos do AFC sempre com esperança, sempre torcendo. De lá pra cá, o percurso foi doloroso, estamos na Segundona mais uma vez, testemunhamos jogos que deixaram cicatrizes, como a derrota na final da Taça GB 2006, as derrotas para CRAC e Bragantino pela Série C de 2007 (pra mim, as piores)…
A vida nos afasta das grandes paixões. Os jogos nas tardes de quarta-feira também. Mas uma hora ou outra, sempre voltamos a Edson Passos. E voltamos mais uma vez, agora para deixar registrado nossa paixão, como foi no passado com o site ANR — America na Rede (que faz uma falta imensa). O Encarnado nasce num momento em que a torcida carece de conteúdo sobre o America e procura no seu passado glorioso, motivos para continuar. Outras iniciativas surgem, como o Museu da Memória Americana, ainda no Facebook. Somos irmãos e queremos a mesma coisa para o nosso time: reconhecimento e valorização. Nosso interesse é histórico e passional.
E lá vamos nós novamente, recomeçar na Série B1. Nossa estreia foi com vitória e esperamos conquistar o acesso no fim do campeonato. O America nunca estará sozinho.