Na memória de todo brasileiro o dia 30 de Junho de 2002 é inesquecível. Foi nessa data que pela última vez o torcedor comemorou uma conquista de Copa do Mundo da Amarelinha em cima da Alemanha com dois gols de Ronaldo Fenômeno.

E foi nesse mesmo dia, , a quase 5.000 quilômetros de distância, em Thimphu, a capital do Butão, uma nação situada nas fendas do imponente Himalaia, outro jogo icônico de futebol começou diante de uma multidão de 15.000 pessoas. O país anfitrião, Butão, enfrentou os visitantes Montserrat, uma ilha no Caribe, em um confronto entre as duas equipes menos bem classificadas do mundo no ranking da FIFA.

O jogo em si não foi nada memorável e tecnicamente era absurdamente distante da decisão que acontecia no Japão. Em vez disso, o que mais marcou foi o carisma envolvido nessa outra decisão que ficou conhecida como “A Outra Final”.

Em 15 de maio de 2002, quando a última data FIFA antes da Copa do Mundo foi divulgada, o Butão estava classificado em 202º. O futebol do Butão demorou para ser desenvolvido se comparado ao restante do planeta. A pequena nação do Sul da Ásia começou a formar sua equipe nacional apenas nos anos 1960 e o histórico de pesadas derrotas a cada amistoso ou competição mostravam que o esporte ainda não gerou frutos e isso explicava a posição do país no ranking da FIFA

Nesse mesmo momento, Montserrat ficou em 203º — e último — no ranking. O programa de futebol em ascensão da nação no início dos anos 1990 foi interrompido abruptamente em 1995, quando uma catástrofe vulcânica tornou dois terços da ilha inabitáveis. Mais da metade da população deixou suas casas e migrou para outros lugares, deixando para trás ruínas cobertas de cinzas. Quando Montserrat retornou ao futebol em 1999, eles enfrentaram dificuldades.

Somados, Butão e Montserrat tinham apenas duas vitórias em sua história conjunta. Enquanto a maioria das pessoas consideraria as duas equipes de futebol irrelevantes, a dupla holandesa Johan Kramer e Matthijs de Jongh as achou intrigantes.

Kramer e De Jongh viram a Holanda, sua amada seleção, perder a chance de ir à Copa do Mundo da FIFA no Japão e na Coreia do Sul após uma desastrosa participação nas eliminatórias; sem uma nação para torcer, os dois tiveram a ideia ousada de organizar um jogo entre as duas equipes menos bem classificadas do mundo no mesmo dia da final da Copa do Mundo.

O Butão aproveitou a oportunidade para chamar a atenção do mundo para seu palco. Montserrat viu o jogo como uma chance de desviar a mente de sua população das recentes erupções vulcânicas na ilha e enviou sua equipe das praias quentes do Caribe para o país nas altas montanhas.

O jogo não foi lá essas coisas, como era de se imaginar e Montserrat concedeu um gol cedo, marcado por Wangay Dorji terminando o primeiro tempo em 1 a 0. Ele também marcou mais dois gols no segundo tempo, quase espelhando as façanhas de Ronaldo em Yokohama, marcando aos 67 e 78 minutos, enquanto o gol de Dinesh Chhetri aos 76 minutos acrescentou brilho à contagem. O Butão venceu a partida por 4 a 0 e se tornou o campeão mundial do universo paralelo.

Essa curiosa história também foi parar no cinema e virou o filme “A Outra Final” (2003), que você pode assistir aqui.

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Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas

Escrevo algumas coisas. Já fui redator lá naquele site das listas, adoro pizza, cachorro quente e paro a vida por um mês a cada quatro anos para ver a Copa.