David Bekcham: a queda e a redenção
Na Copa de 1998, o astro inglês David Beckham vinha de temporadas incríveis pelo Manchester United e era a esperança do English Team de um título na França.
Mas a coisa não andou bem para o “Spice Boy”. Nas oitavas de final contra a Argentina, após ser provocado por Diego Simeone aos 2 minutos do segundo tempo, foi expulso e a Argentina eliminaria os ingleses nos pênaltis.
Para Beckham, esse momento foi o de maior arrependimento na carreira: “Quando olho para a minha carreira e falo sobre arrependimentos, eu queria que aquele cartão vermelho nunca tivesse acontecido”, disse durante a participação do Podcast The Overlap, apresentado por Gary Neville.
A vida dele nos dias seguintes à eliminação não foi fácil. Ele sofreu muitas críticas em seu país, especialmente ao voltar das férias:
“Lembro de voltar [da Copa do Mundo] e andando pelo aeroporto, ser absolutamente abusado por um repórter de TV na época dizendo como decepcionei meus pais e meus avós”.
Beckham conta que foi a torcida e os companheiros de Machester que o ajudaram a levantar a cabeça e dar a volta por cima.
“Na manhã seguinte, Sir Alex Ferguson me telefonou e disse: ‘Você está bem, filho?’. Eu disse ‘Sim, estou’, e acho que fiquei emocionado com ele, acredite. O técnico me disse: ‘Não se preocupe sobre isso. Vá para longe algumas semanas e volte ao clube. Você tem a nós’. Era tudo que eu precisava ouvir”, contou Beckham.
“Todos os jogos naquela temporada, exceto claro quando jogávamos em Old Trafford, foram horrendos. Todos os programas de debate, em qualquer lugar que eu ia, cada vez que colocava gasolina no meu carro, eu sofria um abuso. Fosse em Manchester, fosse em Londres, não importava”, afirmou. “Mas o que me fez aguentar aquela temporada em particular foram os torcedores do United”.
A história não poderia ter terminado melhor naquela temporada 1998/99. O Manchester United terminou com os três principais títulos da temporada: Premier League, Copa da Inglaterra e Champions League, com a épica vitória no Camp Nou contra o Bayern de Munique, além de derrotar o Palmeiras na final da Copa Intercontinental.
Mas ainda faltava a redenção em uma Copa do Mundo e quis os deuses do futebol que ela acontecesse quatro anos depois.
Argentina e Inglaterra caíram no mesmo grupo e fariam o segundo jogo. A Argentina venceu seu primeiro jogo do grupo ao bater a Nigéria por 1 a 0 e a Inglaterra empatou com a Suécia. A partida seguinte seria tudo ou nada. Para os argentinos significava a classificação antecipada, para os ingleses, evitar a qualquer custo a eliminação precoce.
Até que aos 44 minutos do primeiro tempo, Michael Owen é derrubado na área e David Beckham pega a bola para bater a penalidade.
Do apito do juiz autorizando a cobrança até o chute, foram dez segundos onde Beckham olhava para a bola e respirava fundo.
Um filme deve ter passado em sua cabeça. Ele correu e não bateu bem, é verdade. Uma bola rasteira no meio do gol, levemente à direita que por pouco não foi defendida com os pés pelo goleiro. Mas foi forte, com raiva, em desabafo, como foi sua comemoração: correu pra sua torcida, mostrou e beijou a camisa — naquela partida vermelha, como a do Manchester United — e gritou, várias vezes, visivelmente emocionado.
A Argentina perderia aquele jogo e empataria o seguinte, terminando o grupo com quatro pontos e uma eliminação precoce. A Inglaterra empatou mais uma vez no terceiro jogo do grupo e ficaria com a vaga somando cinco pontos. O gol de David Beckham fez a diferença.
Em entrevista para o The Sun, David lembrou que mais uma vez Simeone cruzaria seu caminho e que antes da cobrança daquele pênalti, fez de tudo para desconcentrar o camisa 7 inglês.
“Simeone tentou muita catimba para me desconcentrar antes de eu bater, mas eu já esperava por isso. É parte do futebol. Então, no intervalo ele mostrou como é um verdadeiro cavalheiro ao vir me cumprimentar e apertar minha mão”, contou Beckham.
Ele também revelou que ao final do jogo Simeone veio mais uma vez falar com ele e desejar sorte no restante da competição: “Mesmo chateado com a derrota, ele me disse ‘Boa sorte’ e foi verdadeiro. Eu sempre disse que ele é um grande jogador e ele sempre disse que eu era bom também. Nós agora temos um saudável respeito um pelo outro”.
E ainda falou sobre o ocorrido de 1998: “Eu já fui perguntado inúmeras vezes se eu já perdoei o que ele [Simeone] fez na França em 98. Você tem que perdoar e ser perdoado. Não existe rancor entre nós. Apenas respeito mútuo entre duas pessoas que consideram a outra como bons jogadores e profissionais”.