Levou 24 anos para que o Uruguai perdesse a sua primeira partida em uma Copa do Mundo.

Os campeões de 1930 não estiveram nem em 1934 e 1938 como revide ao boicote que as seleções europeias fizeram à Copa em sua casa. Os melhores do mundo privaram o torneio de sua presença e só voltariam a disputar o Mundial novamente em 1950, no Brasil, onde ganhariam novamente.

Já em 1954, ainda contando com a base campeã no Maracanã, chegaram como favoritos ao título ao lado da seleção húngara que encantou o mundo neste mundial.

Foi por isso que quando a semifinal entre ambas chegou, muita gente considerou essa partida como a final antecipada.

E quando o jogo chegou, ele realmente foi emocionante. Como dizem na gíria: foi de matar. Só que nesse caso, literalmente.

O jogo foi épico como se esperava

Um panorama rápido sobre essa partida que contava com as duas principais escolas de futebol do momento. Apesar de as duas equipes estarem sem seus principais jogadores (Puskas machucado pelo lado húngaro e Varela também lesionado pelo lado Celeste).

A Hungria trouxe pra 1954 um sistema de jogo que sufocava os adversários no começo do jogo, graças a revolucionária preparação que consistia em fazer aquecimento antes das partidas, algo novo para a época. Com o corpo preparado, os magiares iam pra cima e aplicavam goleadas atrás de goleada. Por isso, os Uruguaios comemoram não ter levado mais de um gol nos primeiros 20 minutos.

No entanto, levariam o 2 x 0 logo no começo do segundo tempo. Mas não se renderam. E foi aí que entrou a figura marcante da partida: Juan Hohberg, o homem que morreu e ressuscitou em campo.

Morreu, mas passa bem.

Hoje a gente lembra a história e até se permite rir — com respeito — de quão inusitada ela é.

Mas a gente pensando melhor, ela é um pouco triste.

Quem não se lembra do caso do craque dinamarquês Eriksen, que caiu desacordado em campo e precisou ser socorrido às pressas com direito à massagem cardíaca durante a Euro 2020? Foi exatamente o mesmo que aconteceu com Hohberg, mas de maneira ainda mais dramática.

Depois de abrir o 2 a 0, a Hungria tirou o pé e o Uruguai cresceu. Aos 31 minutos Hohberg (que fazia sua estreia na Copa) diminuiu, após lançamento de Schiaffino, tocando na saída do goleiro.

O jogo ficou emocionante daí em diante e a Celeste foi pra cima com tudo. Dez minutos depois, uma confusão daquelas na área, a bola sobrou novamente pra Hohberg que marcou o gol de empate.

Seja pela emoção, cansaço pela partida de recuperação ou tudo misturado, o fato é que na comemoração do gol, onde ele foi soterrado pelos colegas, ele ficou inerte; seu coração parou ali. Juan Hohberg perdeu o pulso por alguns segundos (de acordo com notícias da época, ele teria ficado “morto” por quinze segundo ao todo).

Acabou sendo reanimado pelos médicos e ficou de fora dos quatro minutos finais da partida. Engana-se quem ache que ele foi para o hospital em seguida. Com seu gol salvador, o jogo foi para a prorrogação e ele voltou a campo para continuar a disputa.

E por pouco ele não fez o terceiro gol. Durante a prorrogação ele chutou uma bola na trave.

A Hungria faria mais dois gols e terminaria com o sonho do tri uruguaio.

Hohberg participou também da disputa do terceiro lugar, onde marcou o único gol do desmotivado Uruguai na derrota por 3 x 1 para a Áustria. O atleta ainda jogou pelo Uruguai até 1959; seu país acabou não se classificando para a Copa de 1958.

Após encerrar a carreira como jogador, ele seria o técnico do Uruguai na Copa de 1970, terminando o mundial em quarto lugar.

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Raphael Evangelista
Enciclopédia das Copas

Escrevo algumas coisas. Já fui redator lá naquele site das listas, adoro pizza, cachorro quente e paro a vida por um mês a cada quatro anos para ver a Copa.