A garota do ônibus

Rafaela Borges
Encontro Literário
4 min readJul 7, 2020

Como de costume, estava ouvindo uma playlist enquanto andava de ônibus, gostava de ter uma trilha sonora enquanto observava a paisagem urbana se modificando pela minha janela e todas aquelas pessoas cheias de histórias vivendo suas próprias vidas ao meu redor.

A escolhida da vez foi uma playlist que eu tinha acabado de criar, continha a trilha sonora do meu jogo favorito: Life is Strange. Acreditava que aquelas seriam as músicas perfeitas para fazer o que estava fazendo, observar as pessoas e tentar imaginar a vida que elas possuíam.

Havia uma senhora sentada ao meu lado, o ônibus não estava muito cheio, então ela nem optara por um assento preferencial. “O que uma velhinha faz em um ônibus tão cedo? Não são nem 7 horas da manhã. Será que está indo visitar alguém ou só resolver algum problema? Será que têm alguém que cuide dela?” Eu pensava.

Sentada à minha frente, conseguia ver uma menina com o cabelo colorido mexendo no celular, pelo reflexo do vidro, conseguia notar que ela estava sorrindo sozinha. “Será que ela acaba de receber uma boa notícia? Ou uma mensagem a fez se sentir feliz ou amada?”.

Foi quando senti uma vibração no bolso da minha calça, era o meu celular.

Era aquele aplicativo de relacionamentos que eu tinha me obrigado a baixar. Eu praticamente nunca o usava, mas algo de diferente acontecera na última vez que eu o abrira. Havia encontrado um garoto com quem estudara anos antes, há quase 5 anos, para ser mais exata. Na hora estranhei, nunca imaginei que ele utilizaria um aplicativo como aquele, “mas você também não” pensei, e sem hesitar deslizei a sua foto para a direita, porém sem esperanças de que ele fizesse o mesmo.

Uma notificação me chamou atenção, era um match com ele. Sem esperar nem mais um segundo, iniciei uma conversa.

“Oi! Quanto tempo, não esperava te encontrar aqui kkkkk, tudo bem com você?”

Boa parte do tempo, conversamos sobre o passado, a nossa vida na escola e no quanto mudamos através dos anos. Conversamos bastante, todas as lembranças boas daquela época reaparecendo em minha mente. Nós dois nunca fomos assim tão próximos, mas fazíamos parte do dia a dia um do outro e tínhamos algumas lembranças juntos.

Não é nenhuma surpresa dizer que eu o chamei no dia seguinte, usei uma desculpa esfarrapada, mas ele aceitou.

“Eu to entediada e foi divertido conversar com você ontem, me ajuda?”

A partir daquele dia fomos nos tornando cada vez mais próximos, uma amizade forte e honesta foi se criando, conversávamos dia e noite, dividindo segredos e desejos. Começamos a nos ver pessoalmente, porém sempre acompanhados de mais alguns amigos, nunca sozinhos.

Não demorou muito para que algo maior começasse a surgir em nós.

“Foi impressão minha ou você deitou a sua cabeça na minha hoje no cinema?” Perguntei certa vez.

“O quê? Claro que não, só estava coçando a minha cabeça na sua.” Eu não era a única a inventar desculpas mal feitas.

“Ah, claro…”

“E foi você quem disse que estava com medo do filme, por isso deixei você segurar a minha mão.” Ele dizia em meio a sorrisos.

No fundo, nós dois percebíamos que estávamos começando a sentir algo um pelo outro, mas ainda não sabíamos explicar bem o que era. Situações como aquela continuaram a acontecer, até que percebemos que não adiantava mais nos enganarmos.

“Eu acho que eu amo você.” Ele me disse.

“Acho que eu também amo você.”

Continuamos só como amigos, nos amando como amigos, mas sempre com “brincadeiras” em que no fundo dizíamos a verdade. Naquela época, eu já me sentia incrivelmente sortuda e feliz por ter alguém tão especial e carinhoso como ele em minha vida, mas sentia que tudo aquilo era apenas o começo.

Até que um dia aconteceu, sem planejarmos direito, sem pensarmos muito a respeito.

Nos beijamos.

E foi ali que eu percebi: eu já havia me tornado a garota do ônibus.

Olá! Sou a Rafaela Borges, escritora de crônicas, contos, resenhas e aspirante à ilustradora nas horas vagas. Aqui, escrevo de tudo um pouco: reflexões, opiniões, histórias reais e outras que gostaria que fossem.

Escrevo sobre a vida, o que vivi e o que pretendo viver.

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Rafaela Borges
Encontro Literário

Escrevo sobre a vida, o que vivi e o que pretendo viver. Sou escritora e publicitária. @arafaelaborges