Sobre mágoas e solitude.

Ana Carolina Saldanha
Encontro Literário
2 min readJun 17, 2020
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Quando alguém me magoava, eu costumava fazer de tudo para contornar a situação, arranjando justificativas e afirmando que aquela pessoa era incrível. Que apesar da mágoa que me entregou, não quero a fora da minha vida, e isso só culminou tristezas em meu peito.

Praticar o perdão é necessário, mas compreender quando alguém é apático com a tua existência também.

Eu sempre joguei para de baixo do tapete toda dor que as pessoas me faziam sentir, em doses pequenas, ao ferirem com pequenas farpas minha alma doída. Isso sempre foi mais medo de ficar sozinha, de não ter a quem contar as pequenas novidades do dia. Fosse daquele café que tomei e me causou uma azia aperreada às saídas numa sexta à noite num barzinho da esquina.

Encarar o peso que sempre me encaixei em ser, sozinho, não era uma opção.

E por isso, segurei nas mãos de espinhos daqueles que se diziam estarem comigo. E no final, foi apenas troca de vivências ignorantes, meu amor próprio se derramava toda vez que assistia a minha sabotagem contínua. Só fui feliz quando passei a frequentar aquele boteco com a companhia de uma caneta e papel. Quando ria isoladamente da minha cara de pau em reclamar da dor no estômago, mesmo bebendo desenfreadamente várias xícaras da borra, me senti leve após soltar, aos poucos, quem me prendia no chão. Abraçar a escrita me ensinou a ser solitude.

— quantos espinhos tuas mãos já sentiram?

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Ana Carolina Saldanha
Encontro Literário

escritora no @poeiradosentir, em todas as redes. escrevo poesia e dou umas voltas pela prosa.