A arte no audiovisual

Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 5, 2019

“A arte existe porque a vida não basta”.

Devido às inúmeras formas de arte, percebe-se que Ferreira Gullar, autor da frase acima, notou que durante muito tempo a vida sozinha, apenas ela, não foi suficiente para muitos. Assim, há anos, o homem busca representar sua realidade, a fim de retratá-la conforme ocorre ou, o que seria mais adequado, do modo como ele interpreta. Nesse contexto, as mais variadas formas artísticas aparecem para dar corpo às interpretações e contar uma história.

É com base nessa relação que César Bargo traz para a aula do dia 14 de maio a palestra sobre “Cinema e Educação” ou, como ele mesmo estabeleceu, a palestra sobre o Audiovisual. Bargo, então, aborda a história das representações a partir das pinturas rupestres, pinturas essas que, se vistas hoje, podem trazer inúmeras significações — principalmente porque tudo que é analisado se baseia nas experiências individuais e gera, por conseguinte, probabilidades infinitas de interpretações. Dessa forma, as pinturas surgem com a finalidade de contar algo, de informar aos outros possíveis situações ou deixar registrado um fato, mas que estão sujeitas aos olhares viciados da atualidade.

Nesse sentido de demarcação, o homem aprendeu a contar histórias a fim de expor si mesmo. Contudo, essa subjetividade não é apenas marcada pelo autor da obra, mas possui interferência do receptor dessa, visto que, como a arte trabalha a representação, muitas vezes tal representação sofre interferência do espectador, pois esse, como dito anteriormente, carrega um repertório muito particular, o qual influi — direta ou indiretamente — na interpretação do elemento criado.

Com essa dialogia, então, uma nova linguagem surge e, consequentemente, novas narrativas. Dessa maneira, conforme a tecnologia avança, as máquinas não servem apenas para produção industrial, mas também se tornam alvo de desenvolvimento para fazer a retratação histórica. A máquina fotográfica é um dos instrumentos inventados, a fim de fixar no tempo, de modo quase instantâneo, uma situação passageira. A angulação, o foco, entre outros elementos, são maneiras de gravar a realidade, porém, sempre são marcadas pelo interesse daquele que detém o poder da máquina.

Esse uso, expõe Bargo, também acontecerá com o objeto criado pelos irmãos Lumière, os quais criam o cinematógrafo, percursor do das câmeras de filmagem da atualidade. Nesse cenário, então, o cinema aparece em todo seu esplendor, dando movimento às histórias que precisam ser contadas pelos homens, garantindo, desse modo, outra maneira de narrar: a narrativa cinematográfica.

Ainda que o mecanismo seja novo, as intenções são as mesmas e a subjetividade entra em cena mais uma vez. As histórias são contadas de acordo com o interesse — mostrados por César Bargo em dois vídeos que retratam a importância do foco para a narração de histórias. Outro ponto também abordado pelo professor foi a questão do como se contar uma história, o que influi diretamente na forma de representação.

Munidos desses artifícios, então, a percepção e o recorte se tornam instrumentos de uso e, consequentemente de manipulação, afinal, todo discurso é ideológico e serve a um interesse. Assim, as escolhas narrativas são feitas de modo a demarcar a intenção do autor ou detentor da mensagem e, agora, as máquinas são o intermédio — o que gera mais uma forma retratação, haja vista que as lentes também distorcem o real. Para auxiliar nesse uso, as técnicas de mediação são criadas, a fim de desenvolver essa relação de registro e exibição.

Com toda a manipulação e subjetividade criadas por meio da reprodução de fatos e eventos, Bargo expõe de fato uma palestra de audiovisual, mas permeada por reflexões e, com isso, permite que Ferreira Gullar seja interpretado mais uma vez: a vida não basta porque é genérica e a arte é individual.

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Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas

Escrevo diários desde os 12 anos. As palavras me salvaram a vida inteira. Resolvi escrever mais, para me salvar mais um pouco. <3