A existência do artista

Naib S.
Encontros com a Arte e os Artistas
2 min readJun 25, 2019
foto por @amelibre.

O que te torna alguém? Considerando que somos seres sociais, nossa existência é reafirmada e ressignificada através do outro. Existimos porque outros existem e presenciam nossa existência. Nessa relação dialética as construções sociais do ser se emaranham nas milhões de conexões que a sociedade cria diariamente.

Angélica existe pelo outro. Existe como fotógrafa pela classe inteira de ouvintes de uma universidade, e também por seus 2 mil seguidores do Instagram. Apesar disso, ela ainda não enxerga a si como tal. Essa identificação é construída a partir do sentimento de reconhecimento, em que aquele artista percebe como o outro o enxerga.

A questão mais ampla do cenário do reconhecimento é que não basta apenas resolver uma equação matemática para chegar ao resultado esperado.

2 mil seguidores + 1 turma = reconhecimento enquanto fotógrafa

foto por @amelibre.

Esse reconhecimento é cultural, e reforçado — ou menosprezado — por uma indústria muito maior. Algumas artes, influenciadas pelo capital social e simbólico, tornam-se excessivamente seletivas em relação à quais artistas serão reconhecidos e canonizados dentro do Circuito das Artes.

Isso se dá por diferentes fatores.

Um deles, a elevação de uma arte em detrimento de outras, o que ocorre através de uma escolha arbitrária e pouco plural das manifestações artísticas que serão renomadas na História da Arte.

Outro, com o capitalismo, que, ao monetizar e limitar socialmente o acesso democrático dessa arte, se restringe a espaços elitizados, pouco acessíveis e, muitas vezes, com impedimentos físicos, como catracas, bilheterias e seguranças.

Em detrimento dessas complicações do mundo da arte, artistas como Angélica têm dificuldade em reconhecerem-se como os artistas que são.

O espaço no Circuito das Artes não é convidativo e, muito menos, inclusivo.

Angélica por @victorgalva1.

Por isso, precisamos de mais artistas como Angélica. Que formam uma rede de resistência às opressões do próprio mundo artístico. Mundo esse que afasta as manifestações de artistas independentes, reforçando sua hegemonia.

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