A nova versão do palhaço

Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readMay 29, 2019
Fonte: Editora Kapulana

Walter de Sousa é o convidado da noite do 26 de março de 2019. Ele, acompanhado da ilustradora Mariana Fujisawa e da palhaça Gabi Winter, trazem a apresentação do livro Nina tem medo de palhaço, uma obra infantil baseada na história real de um encontro entre Gabie uma criança refugiada.

Assim, o autor relata sua trajetória na vida circense, visto que não possuía nativamente o contato com o circo. Conta, então, quando descobriu que havia peças de teatro encenadas no circo, censuradas durante a época da ditadura, mas pouco ou nada conhecidas na atualidade. A partir desses informes sobre o teatro ser usado como forma de atrair o público, uma breve história sobre o espetáculo circense na cidade de São Paulo é narrada, trazendo curiosidades a respeito — uma das informações relatadas foi sobre a importância do circo como palco para o desenvolvimento de dramaturgas mulheres, demonstrando, assim, a importância desse espaço para além da diversão.

A fala seguinte é dedicada ao palhaço Piolin, figura importante no desenvolvimento das artes circenses, tanto que, inclusive, sua data de aniversário é demarcada como Dia do Circo, 27 de março. Tal artista conseguiu imprimir a brasilidade no desenvolvimento artístico e tal individualidade rendeu um caráter próprio, que o fez se destacar. Desde seu surgimento, a evolução dos palhaços ao longo do tempo foi constante, tanto que o artista na atualidade já adquire outras formas e outros trejeitos — nota-se que o palhaço, hoje, passa valores ligados ao comportamento, como ensinar crianças a aprenderem bons modos e estudar; todavia, o palhaço tradicional era voltado para o adulto e não se preocupava em passar uma imagem de moralidade.

Desse modo, sabendo sobre isso, Walter Sousa relata que sua pesquisa de doutorado, a qual buscava resgatar a memória circense pela análise do material disponível sobre essa história, mas que fora esquecido. Ao encontrar Gabi Winter, profissional formada em teatro, especializada na Europa, começou a trabalhar com o projeto do livro.

Gabi se apresenta então, trazendo as informações a respeito do palhaço moderno, principalmente, aliás, da palhaça moderna e relata sua trajetória para zonas de conflito ou centro de refugiados, lugares nos quais o riso é usado como regeneração afetiva, haja vista todos os transtornos e mazelas vividos pela população. Para exercer essa atividade, trabalha com a Clownbaré e a Palhaços sem fronteiras, duas iniciativas distintas focadas na disseminação da arte e da alegria.

Após a fala de Gabi, Mariana Fijusawa fala sobre o processo de ilustração e de como o livro foi tratado, devido ao público pretendido. As ilustrações são belíssimas e baseadas na palhaça interpretada por Gabi, Jurubeba. A história narrada, por sua vez, é um relato verídico, marcado pela questão de sobrevivência, medos e superação.

A apresentação se mostrou deveras interessante, visto que foi possível reconhecer o papel do circo como foco de mudança, além de visualizar novas perspectivas para uma arte tradicional. O relato de Gabi Winter mostra uma preocupação diferente no que se refere aos necessitados, haja vista que, muitas vezes, há o esquecimento da parte humana daqueles que estão em situação crítica, focando-se apenas nas necessidades realmente básicas e os despojando de entretenimento, como se isso não fizesse parte do desenvolvimento humano.

Ademais, analisar as questões que envolvem a produção literária, principalmente a parte da ilustração e os elementos constitutivos, em conjunto com a lógica utilizada para a criação das figuras, possibilitou conhecer um pouquinho do mercado editorial, ainda que esse passe por um processo crítico no contexto atual.

Em suma, a apresentação do dia 26 trouxe novas perspectivas em relação ao uso de uma figura tradicional em contextos distintos, além de como essa nova exploração pode se estender para outros meios de divulgação.

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Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas

Escrevo diários desde os 12 anos. As palavras me salvaram a vida inteira. Resolvi escrever mais, para me salvar mais um pouco. <3