A representatividade negra e lésbica de Laís Matias
A representatividade tomou conta do espaço acadêmico com a convidada Laís Matias, artista visual que trabalha com as representações da mulher negra lésbica. Estudante das artes, trouxe uma reflexão acerca das artes acadêmicas e dos espaços hegemônicos que precisa enfrentar para tornar seu trabalho reconhecido. Laís trouxe uma perspectiva da arte como construção coletiva, através de uma dinâmica artística que refletia o dia-a-dia de cada um dos alunos envolvidos, criando um espaço de compartilhamento e expressão únicos.
A problemática racial e sexual trazida pela artista era o background de sua trajetória com a arte, que dialogava com as diferentes vivências que permeavam o seu ambiente acadêmico. Estudante de uma universidade pública, esperava encontrar referências representativas de sua existência como mulher negra e lésbica, mas encontrou um currículo eurocêntrico e heteronormativo. Esse, talvez, tenha sido a principal motivação para que Laís produzisse, o que carinhosamente chamarei, sua arte-resistência. A palavra “sapatão” encontrou espaço e conforto somente no meio lésbico, ainda causando desconforto se utilizado fora desses espaços “seguros”, e sua arte é capaz de transmitir esse termo, reforçando a existência e desmistificando sua pejoração negativa das mulheres sapatonas.
A arte da representatividade lésbica tem ganhado cada vez mais espaço, tendo como exemplo a artista Elayne Baeta, que também tem ganhado espaço no Instagram com suas ilustrações rotineiras sobre relacionamentos LGBTs, principalmente os lésbicos.
Laís como mulher negra explora também as questões raciais de ser mulher e lésbica. Dentro do contexto LGBT, sabe-se e discute-se a solidão da mulher negra, e sua voz artística é sua arma contra as máscaras de preconceitos existentes dentro dessa comunidade.
O encontro rendeu ótimas discussões acerca de regras técnicas enrustidas no preconceito, sobre o papel do artista independente na contemporaneidade e sobre como a virtualização das relações são uma plataforma que facilita o diálogo entre arte e comunidade. A dinâmica proposta foi inteligentemente pensada por ela, e talvez o grupo nem tenha percebido, mas a união da sala foi instantânea ao juntarmos-nos para desenharmos sobre o nosso dia. Geralmente falamos sobre ele, mas desenhar? Laís nos conectou através da Arte naquela noite. Queria eu ser instigada todos os dias a me conectar comigo e com o outro através Dela.