A representatividade negra e lésbica de Laís Matias

Naib S.
Encontros com a Arte e os Artistas
2 min readJun 25, 2019
Arte por Laís Matias, retirada de seu Instagram @laixxmo.

A representatividade tomou conta do espaço acadêmico com a convidada Laís Matias, artista visual que trabalha com as representações da mulher negra lésbica. Estudante das artes, trouxe uma reflexão acerca das artes acadêmicas e dos espaços hegemônicos que precisa enfrentar para tornar seu trabalho reconhecido. Laís trouxe uma perspectiva da arte como construção coletiva, através de uma dinâmica artística que refletia o dia-a-dia de cada um dos alunos envolvidos, criando um espaço de compartilhamento e expressão únicos.

A problemática racial e sexual trazida pela artista era o background de sua trajetória com a arte, que dialogava com as diferentes vivências que permeavam o seu ambiente acadêmico. Estudante de uma universidade pública, esperava encontrar referências representativas de sua existência como mulher negra e lésbica, mas encontrou um currículo eurocêntrico e heteronormativo. Esse, talvez, tenha sido a principal motivação para que Laís produzisse, o que carinhosamente chamarei, sua arte-resistência. A palavra “sapatão” encontrou espaço e conforto somente no meio lésbico, ainda causando desconforto se utilizado fora desses espaços “seguros”, e sua arte é capaz de transmitir esse termo, reforçando a existência e desmistificando sua pejoração negativa das mulheres sapatonas.

A arte da representatividade lésbica tem ganhado cada vez mais espaço, tendo como exemplo a artista Elayne Baeta, que também tem ganhado espaço no Instagram com suas ilustrações rotineiras sobre relacionamentos LGBTs, principalmente os lésbicos.

A representatividade lésbica de Elayne Baeta. Ilustração retirada de seu Instagram @elaynebaeta.

Laís como mulher negra explora também as questões raciais de ser mulher e lésbica. Dentro do contexto LGBT, sabe-se e discute-se a solidão da mulher negra, e sua voz artística é sua arma contra as máscaras de preconceitos existentes dentro dessa comunidade.

O encontro rendeu ótimas discussões acerca de regras técnicas enrustidas no preconceito, sobre o papel do artista independente na contemporaneidade e sobre como a virtualização das relações são uma plataforma que facilita o diálogo entre arte e comunidade. A dinâmica proposta foi inteligentemente pensada por ela, e talvez o grupo nem tenha percebido, mas a união da sala foi instantânea ao juntarmos-nos para desenharmos sobre o nosso dia. Geralmente falamos sobre ele, mas desenhar? Laís nos conectou através da Arte naquela noite. Queria eu ser instigada todos os dias a me conectar comigo e com o outro através Dela.

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