André Bruno: fotografia, sociedade e identidade

Marcelle Matias
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 14, 2019

A fotografia tem um grande potencial de gerar encantamento e levantar questionamentos a respeito da sociedade e da subjetividade humana. Considerada uma forma de se comunicar, de se contar uma história ou denunciar e/ou editar a realidade, a fotografia — com sua capacidade de transmitir uma dimensão de sentidos e expressões — pode ser utilizada de diversas maneiras e, também, para várias causas.

No dia 23 de abril os discentes de Licenciatura em Educomunicação da Universidade de São Paulo, receberam André Bueno como convidado da professora Maria Cristina Castilho Costa (vice-chefe do departamento de comunicações e artes da Escola de Comunicações e Artes) André é fotógrafo e educador. Seu trabalho com a documentação autoral, através das imagens, revela dimensões familiares, históricas e sociais de seu lar e de seu cotidiano. Seu trabalho enquanto professor envolve produções fotográficas e a educomunicação. Além disso, o artista já chegou a trabalhar na Câmara Municipal de São Paulo, fazendo registros fotojornalísticos.

A fotografia pode ser entendida como uma magia — por emocionar ao passo que conta uma história, uma realidade, por uma imagem -, uma forma de reafirmação da identidade e uma forma de se praticar e refletir a Educomunicação. a foto traz consigo sentimentos nostálgicos, sentimentos mais perceptíveis, principalmente, tratando-se da foto revelada, aquela que são guardadas em álbuns ou nos baús da família. A magia está nessa eternização dos momentos a partir de um click. Analisar uma caixa cheia de fotografias torna-se um lazer, algo especial e mágico, traz uma sensação de atravessar um túnel do tempo.

Além disso, a fotografia está vinculada com movimentos sociais, resistência, protagonismo e formação cidadã. Os celulares permitiram que as pessoas adquirissem um olhar naturalmente fotográfico e estético e ajudaram no processo de democratização de ideias através das imagens. Desta forma, a fotografia — fortemente inserida nos movimentos sociais — auxilia na circulação de acontecimentos, ao mesmo tempo que preserva uma visão única (a do fotógrafo).

Como não podemos estar presentes em todos os acontecimentos, em todos os lugares, temos de confiar nos relatos. O mundo que nos é trazido pelos relatos, que assim conhecemos e a partir do qual refletimos, é um mundo que nos chega editado, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas, às vezes milhares de mediações, até que se manifeste no rádio, na televisão, no jornal. (BACCEGA, 2004, p.6)

Através da circulação de territórios, realizando fotografias de parques, da cidade, com as técnicas de colagens, André experimenta diversos tipos de linguagens na hora de produzir uma imagem e expressar sua identidade. Parafraseando o convidado: “a fotografia é transformadora, ela nos desperta uma percepção de um mundo. Isso é muito transformador e a gente carrega isso com a gente”. Nós somos as imagens que carregamos com nós. Essas imagens interagem com a formação de nossa identidade, como se fosse um constante reencontro, pois somos diariamente rodeado por imagens e, também, as produzimos.

“Se eu perdesse todas as minhas fotografias hoje, eu perderia, talvez, metade de mim porque minhas histórias a partir das imagens”,

A fotografia é um reencontro com a própria identidade ou com as identidades passadas. As fotos nos ajudam a ver quem éramos no passado e quem somos agora, elas resgatam o ser atual e o ser antigo — o que já foi, o que mudou e o que está em constante mudança. Além disso, com a foto, podemos ver como as vidas das pessoas estão entrelaçadas com determinados segmentos e/ou causas sociais. Podemos lembrar de Tina Modotti (1896–1942) e suas lindas fotografias que retratam a beleza e resistência do povo mexicano — principalmente de mulheres e mães do México — , Marcos Palhano (uma das referências de André) e suas fotos que retratam culturas populares e cultos de origem Africana.

A Educomunicação — área que preserva a importância da coletividade, afetividade, engajamento social, da formação cidadã, arte e educação — considera a identidade do ser humano uma discussão rica, que permite encontrar respostas, reflexões e caminhos para entender assuntos e problemáticas que norteiam a sociedade e a complexibilidade da comunicação e das mídias. Considerando que a fotografia traz consigo sensibilidade, nostalgia, afeto, expressão de identidade, engajamento, resistência e comunicação, é nítido que sua utilização pode complementar as ações transformadoras, tão valorizados e fortemente alicerçados nos objetivos da Educomunicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACCEGA, Maria Aparecida. Comunicação/Educação: apontamentos para a discussão. Revista Comunicação, Mídia e Consumo. ESPM. V.1, n. 2, 2004.

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