Audiovisual e a Educação: com Claudia Mogadouro e César Bargo

Marcelle Matias
Encontros com a Arte e os Artistas
4 min readJun 24, 2019

O que seria o cinema, senão uma forma de contar histórias? O ser humano, desde a tenra infância, sente a necessidade de contá-las, sejam elas fantasiosas, sejam mitos, ou acontecimentos vivenciados por ele próprio. São com essas histórias, que o indivíduo desenvolve sua linguagem e sua leitura de mundo. Contar histórias, é uma atividade intrinsecamente ligada à vida cotidiana do ser humano.

O cinema possui grande potencialidade artística, não é à toa que é considerado a sétima maravilha do mundo. Porém, uma de suas características mais marcantes, e pouquíssimas vezes lembrada por diversos profissionais, é sua forte contribuição para a educação. Com o cinema, é possível se exercitar leitura crítica de mundo.

César Bargo e Claudia Mogadouro foram convidados pela professora Maria Cristina Castilho Costa (vice-chefe de departamento do Centro de Comunicações e Artes da ECA-USP), para ministrar algumas aulas da disciplina CCA0300- Atividades Teórico-Práticas de Aprofundamento III e apresentar seus trabalhos e perspectivas em relação ao audiovisual.

Claudia de Almeida Mogadouro, a convidada da aula realizada no dia 04 de junho, é Doutora e Mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Gestão de Processos Comunicacionais Escola de Comunicações e Artes da USP. Suas pesquisas atuais englobam os seguintes temas: História da Cultura Brasileira, Formação Audiovisual de Educadores, Cinema, Educação e Transdisciplinaridade. Além disso, Claudia é atuante do Grupo Cinema Paradiso.

Cesar Bargo Perez é coordenador da Assessoria de Relações Institucionais da Universidade Católica de Santos e professor titular das disciplinas de Plástica em Arquitetura, Telejornalismo e Análise da Imagem em Jornalismo e Prática de Tradução Simultânea. Além disso, ele é pesquisador do OBCOM (Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura) da Escola de Comunicação e Artes da USP desde 2015 e atua em projetos de registro audiovisual documentário. Foi convidado para ministrar a aula do dia 14 de maio.

Mogadouro nos apresenta as potencialidades do cineclube para a formação educacional e sua contribuição para o desenvolvimento de leitura crítica. Ela relata seu gosto pelo cinema desde sua juventude. Enquanto adulta, a alternativa que ela encontrou para se fortalecer de angústias cotidianas foi montar, junto com seus colegas, encontros que aconteceriam quinzenalmente, para debaterem sobres os filmes que estavam em cartaz. E assim, nasce o Grupo Cinema Paradiso.

O cinema, além de instigar a leitura crítica de mundo, incentiva o desenvolvimento de uma criticidade na linguagem cinematográfica. Perez nos mostra o teste de percepção Whodduniy, em que a composição do cenário muda constantemente; na cena, o que antes era um vaso com rosas, em questão de segundos, torna-se um outro tipo vaso com outros tipos de flores. Para perceber as 21 mudanças feitas no cenário, é preciso que o telespectador exercite sua observação aos detalhes. Ele enfatiza a ideia de que o cinema seria uma “ilusão em movimento”, um recorte editado da realidade.

Ambos os convidados trouxeram-nos a ideia de que o cinema, por ter a polissemia e a capacidade de gerar emoções e identificações com nosso cotidiano, é uma ferramenta potente para práticas pedagógicas, apesar de não ser uma opção bem vista de início.

O cinema e a educação se relacionam há muito tempo, mas nem sempre é uma relação amistosa ou mesmo igualitária. Como em um relacionamento amoroso, onde há um ciumento no casal, parece que a escola quer “dominar” ou “controlar” o cinema (MOGADOURO, 2011, p.15).

Além disso, os docentes defendem que a utilização da linguagem audiovisual deve ser utilizada ativamente em sala de aula, não apenas como um complemento. A ideia é estimular a percepção crítica das pessoas, através do estudo de produções cinematográficas — por que uma trilha sonora é composta por uma determinada melodia em um certo tipo de ação? O que isso gera em quem está vendo o filme? Por que enxergamos um personagem como bandido e outro como herói? Como um cenário conseguiu mudar 21 vezes? Por que, as vezes, levamos uma ficção cientifica muito a sério? A resposta educomunicativa está em fazer com que o sujeito apodere-se do discurso.

A Educomunicação é uma área cheia de complexibilidades, pois conseguimos encontrá-la em diversos lugares e ações: em uma sala de aula, em uma roda de conversa, em um ponto de ônibus, em um intervalo de almoço, em uma conversa entre duas pessoas sobre um filme em cartaz. Eu, que sempre gostei de assistir de tudo e enxergar discussões enriquecedoras em todos os gêneros de filmes, sempre tive o desejo de contribuir para a construção de espaços que estimulem discussão através do audiovisual. Porém, não sabia como estruturar tais ideias.

Achei os dois encontros enriquecedores para minha formação. Eu estava quase desacreditando da possibilidade dos filmes adentrarem em futuras práticas pedagógicas estruturadas por mim, pois eu estava cedendo ao mesmo discurso que criticamos diariamente, que prega que o audiovisual seria algo muito fantasioso, que causaria a falta de atenção ou esvaziaria o objetivo concreto da aula. Ao final dos encontros, com a Mogadouro e o Perez, pude reencontrar a contribuição e a essência dos filmes para a práticas transformadoras e continuar crendo que a educação pode atingir vários horizontes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MOGADOURO, Claudia de Almeida. Educomunicação e escola: o cinema como mediação possível (desafios, práticas e propostas). Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) — Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-23092011-174020/publico/TESE_MOGADOURO_CLAUDIA.pdf. Acesso em: 5 jun. 2019.

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