Cineclubismo de mãos dadas com a Educomunicação.

Vanessa Ereia
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 24, 2019

O encontro sobre Cineclubismo contou com a presença de Claudia Mogadouro, Pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP (NCE) e do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP (OBCOM). Ela também é organizadora do Grupo Cinema Paradiso, que há 24 anos reúne amantes do cinema para assistir e debater sobre filmes, contando com a participação de pessoas de diversas idades.

(Imagem 1: Claudia Mogadouro em Aniversário de 18 anos do Grupo Cinema Paradiso no CineSesc— 05/ago/2013)

Mas o que é um cineclube?

É uma organização da sociedade civil que reúne pessoas para seguirem uma programação de filmes e atividades decididas pelos participantes, engajados em um espírito comunitário. Os participantes fazem uma leitura crítica dos filmes e promovem um debate para discutir os pontos de vista do grupo sobre a narrativa cinematográfica que escolheram.

Mogadouro iniciou a palestra com sua experiência antes do cineclubismo. Contou ter passado 20 anos sendo bancária, uma atividade que já não lhe satisfazia, gostaria de se envolver com a educação e algo que promovesse a comunicação entre as pessoas. Em sua adolescência, o movimento cineclubista estava crescendo nas cidades que tinham faculdades e ela não perdeu tempo em participar de um cineclube com filmes clássicos. Então, mesmo bancária, Mogadouro resgatou a paixão de adolescência e fez um grupo com amigos, que como ela, sentiam falta de comunicação no trabalho, o cinema gerava conversa.

Este grupo ganhou mais participantes e popularidade e se tornou o cineclube Cinema Paradiso, com encontros realizados até hoje na casa da mãe de Mogadouro, onde as pessoas decidem os filmes a serem assistidos, assistem separadamente durante o intervalo de 15 dias e se encontram para demonstrarem suas resoluções de uma forma dialógica, com todos tendo a oportunidade de expressar a sua opinião e discuti-la para sintetizar mais reflexões.

Foi na especialização em ciências da comunicação que a convidada percebeu que o que fazia no cineclube poderia ser associado à educação. “Descobri que fazia educomunicação no cineclube”, como afirmou Mogadouro. No mestrado, aplicou o formato do cineclube em uma escola utilizando uma novela. Ela notou resistência da escola em relação ao uso do audiovisual como ferramenta educativa, mas explicou que, professores não trabalham novela na escola pois não têm formação para isso e não por não ser de seu interesse. Por essa percepção, começou a dar oficinas de cinema para professores, o que vem executando ainda nos dias atuais.

Em seu doutorado, ela se deleitou à pergunta “como o cinema na educação pode abrir para o diálogo?” pensando através disso qual o espaço da dor na escola, por ter reunido em suas experiências vários momentos em que os alunos acessavam seu emocional no cineclubismo.

Para terminar o encontro, ela passou para o grupo o curta-metragem “Recife Frio”, um filme que retrata problemas sociais por meio de uma ironia com o Estado do Recife, que é famoso pelas temporadas tropicais, sendo atingido por uma frente fria de longa duração. No debate com a turma de Licenciatura em Educomunicação, houve várias interpretações diferentes e Mogadouro salientou neste momento que é relevante dar importância à produção do filme como uma leitura crítica dos meios e ao uso do filme em sala de aula se esquivando de ser apenas uma ilustração do conteúdo de uma matéria.

Considerando o papel histórico do cineclubismo em representar resistência à ações que oprimem a liberdade de expressão — exemplo dos cineclubes do século XX, na França, contra o nazismo e no Brasil, sendo fechados como ameaças na Ditadura Militar — associar essa atividade com a educação é oportunizar que pessoas se reconheçam como cidadãos políticos e valorizem seu espaço de fala. A dialogicidade dos cineclubes é correspondente aos métodos educomunicativos interessantes à utilização em sala de aula: fazer a leitura crítica dos meios de comunicação, abrir um espaço democrático de compartilhamento de opiniões, promover um espírito coletivo e que respeita cada qual com suas reflexões, sem dúvida são aspectos que conectam o cineclubismo à Educomunicação.

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