Cineclubismo, Educomunicação e Recife Frio

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O “Encontro com a arte e artistas” da aula de ATPA III no curso de Educomunicação, ECA-USP, do dia 04 de junho foi com a Cláudia Mogadouro. Ela é formada em História, doutora e mestre em Ciências da Comunicação, onde também trabalha no Núcleo de Educomunicação na formação de professores para maior entendimento do cinema. Seu trabalho é demonstrar a necessidade de debater sobre cenas, diálogos e momentos cinematográficos específicos. Mogadouro, participa desde o início do projeto Cinema Paradiso, um cineclubismo que já dura a quase 24 anos, sendo o mais antigo do Brasil desta categoria. Este projeto iniciou sem pretensão nenhuma de continuidade, mas permaneceu para ocorrerem debates e reflexões.

O cineclubismo surgiu na França no século XX com o intuito de novas visões acerca do cinema, visto que naquela época o meio cinematográfico era visto apenas como entretenimento. Esta prática cultural começou apenas com a elite intelectual francesa, entretanto, nas demais fases dessa prática houve transformação quanto à consolidação de novas percepções sobre o cinema mundial.

Curiosamente, na época da Segunda Guerra Mundial, os cineclubes foram interrompidos. Porém, após o final da guerra, o movimento cinematográfico e suas discussões voltaram a acontecer.

No Brasil, o cineclubismo surgiu nos anos 50 ligada aos movimentos sociais em geral, principalmente, os movimentos estudantis, mas também pela igreja progressista brasileira. Nos anos 80, mesmo com o cineclubismo um pouco enfraquecido, ele ainda se permaneceu. Destarte, tudo isso contribuiu para a inserção do cinema nas escolas.

No âmbito escolar, os filmes começaram a ser levados com os mesmos objetivos do cineclubismo: o filme é passado e discutido em conjunto. Esse tipo de prática contribui para a formação de todo e qualquer indivíduo, onde a reflexão crítica, formação cultural e opinião individual são desenvolvidas.

Em Educomunicação, discute-se todas as questões que o cineclubismo promove, ou seja, este pode ser considerado uma prática educomunicativa. Os filmes, além de contribuírem para a formação pessoal, corrobora também para aprimoramento dos conhecimentos das matérias escolares.

Para além das escolas, o projeto VideoCamp — Filmes que transformam segue na mesma lógica dos cineclubes. Disponibilizado em site, o projeto VideoCamp é para a participação de pessoas que queiram ver filmes de temáticas específicas. Alguns educomunicadores trabalham nesse projeto, onde eles selecionam e formam materiais para melhores formas de debate ao fim dos filmes. O objetivo do “VídeoCamp” é tornar mais acessível e compreensível as mensagens transpassadas pelos enredos e personagens. Dentro dessa lógica, é perceptível a comunicação como forma de educação assim como no Cinema Paradiso no qual Cláudia Mogadouro faz parte.

Outro exemplo de discussão e debate de filmes é o CINUSP da Universidade de São Paulo. Criado na cidade de São Paulo e de forma gratuita, tem como objetivo expandir a cultura cinematográfica tanto para os universitários quanto para os demais públicos. Os filmes apresentados em uma sala de cinema, possui uma programação variada que é debatida e estabelecida por professores e alunos da USP por meio de seminários, parcerias com festivais de cinema e pré-estreias.

Para se discutir com os alunos da Educomunicação, a doutora em Ciências da Comunicação trouxe o curta-metragem Recife frio, o mais premiado de todo Brasil. Esse curta, ficção científica de 2009, escrito por Kleber Mendonça Filho, conta a falsa história de um novo clima em Recife que tem como finalidade viabilizar maior criticidade sobre a narrativa criada.

Por fim, vê-se a primordialidade da interface Cinema e Educomunicação. O encontro com a Cláudia Mogadouro, os debates e o curta-metragem Recife frio promoveram maior abertura acerca da relação entre essas duas áreas. Essa relação é de extrema importância para desenvolvimento pessoal, social e político.

Referências

CINUSP “Paulo Emílio”. Disponível em: http://www.usp.br/cinusp/. Acesso em: 08 de junho de 2019.

Documentário Recife Frio. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=U9mu2TJ0scY. Acesso em: 08 de junho de 2019.

O movimento cineclubista brasileiro e suas modulações na recepção cinematográfica. Disponível em: http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1434480954_ARQUIVO_Omovimentocineclubistabrasileiroesuasmodulacoesnarecepcaocinematografica.pdf. Acesso em: 08 de junho de 2019.

Videocamp — Filmes que transformam. Disponível em: https://www.videocamp.com/pt. Acesso em: 08 de junho de 2019.

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