CORPO CÔMICO

Caroline Peralta
Encontros com a Arte e os Artistas
2 min readJun 25, 2019

Desde dos primórdios da humanidade, percebe-se vestígios da necessidade dos animais com consciência encontrarem compreender aquilo que não se entende. Um dos caminhos mais mágicos para lidar com o peso do saber da morte é arte, outro jeito mais enigmático e tão interessante de existir é o humor. O riso tem um dos maiores poderes de conexão, já linguagem nonsense possuí o adverso do cotidiano, ao misturando esses dois elementos temos o palhaço, que transforma tanto as pessoas que presenciam a performance,quanto as pessoas que convivem com a sua personalidade e principalmente, transforma a si mesmo.

Sendo a primeira palhaça negra do Brasil, Dona Maria Eliza conseguiu muito além de ultrapassar as barreiras sociais do seu tempo. Se estruturando em um personagem masculino, o Xamego com x, Maria fez grande sucesso no Circo Guarani do qual seu pai era dono.

“Todo mundo quer saber
O que é o Xamego
Ninguém sabe se ele é branco
Se é mulato ou negro”

Conversando com a sua neta Mariana Gabriel, e sua filha Deise Gabriel, entendemos na pratica como o papel do circo-teatro ajudou na unificação da cultura nacional e contribuiu para agregar o imaginário humano, sendo de extrema importância para a humanização do nosso território. O palhaço torna- se um dos símbolos mais significativos, conseguindo com um papelão, espelhos, cordas e criatividade, cria inúmeras ilusões para se conectar com o riso.

Com uma câmera, a magia de sua ancestralidade e muita dedicação, Mariana realizou um incrível documentário sobre as trajetórias da sua avó e família, concomitante a história nacional, como por exemplo da escravidão e os processos musicais, transpassando também pela sua própria subjetividade ao se tornar palhaça.

Temos que aceitar para muito além das nossas belezas e perfeições, as vulnerabilidades que nos torna humanos. O riso com a arte é uma chave que abre uma fechadura imprevisível de nós mesmos, acontecendo por desafiar nosso corpo com histórias do cotidiano e com associações de tão impossíveis/possíveis cria conexões. Precisamos nos interligar nessas histórias, com o país, os coletivos que pertencemos e as pessoas que nos estruturam, que no caso de mariana é sua família. Em meio há tantos espetáculos e câmeras uma das melhores loucuras mais brilhantes da consciência não seria rir para reencontrar?

Sim. Mais de uma vez.

Bisavô, Avó e Mariana Gabriel

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