Da dramaturgia à necessidade da poesia na educação

Renata Palottini, 88 anos, dramaturga, tradutora e ensaísta. Esta foi a convidada para o “Encontros com a arte e com o artista” com os alunos da Educomunicação, ECA-USP. Ela é formada em filosofia pela PUC-SP, direito pela USP e doutora pela ECA-USP. Textos como “História do Juiz” (1957), “A Lâmpada” (1960), “Crime da Cabra” (1965) e “Pedro Pedreiro” (1967) foram espetáculos criados pela autora.

Mesmo com uma grande relação com o teatro e até mesmo com a TV, a especialidade de Renata Palottini é a poesia. Esta arte teve início na sociedade pré-histórica e continua sendo até os dias de hoje a maior demonstração de situações, emoções e pensamentos daqueles que escrevem. De tamanha intensidade, os versos normalmente detém de características singulares, como a particularidade de cada trecho apresentado e certa sincronização de um verso para outro.

Nesta poesia, escrito por Palottini, percebe-se tais características:

“O GRITO

se ao menos esta dor servisse

se ela batesse nas paredes

abrisse portas

falasse

se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse

se ela saltasse fora da garganta como um grito

caísse da janela fizesse barulho

morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro

que a gente pudesse engolir com força

depois cuspir a saliva fora

sujar a rua os carros o espaço o outro

esse outro escuro que passa indiferente

e que não sofre tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo

que se esfrega na parede de pedra

para doer doer doer visível

doer penalizante

doer com lágrimas

se ao menos esta dor sangrasse”

No encontro com os alunos da Educomunicação, ela pontuou sobre a intensidade da poesia bem como nos versos anteriores, demonstrando a grandeza desta arte e explicando sobre as métricas. Para falar de tal temática, contou sobre suas experiências pessoais que provém de grandes resistências vividas na época da Ditadura Militar, como a censura de algumas peças escritas por ela. Sempre persistente em sua paixão pela poesia e arte no geral, até os dias de hoje, Palottini continua colocando seus sentimentos para fora através da escrita.

Esta voz protagonista dentro de resistências e contextos, trazidos por Renata, é perceptível na licenciatura em Educomunicação. Como uma forma de abordar as temáticas de igualdade, diálogo, comunicação e educação, vê-se grande relação com a poesia. Através da poesia, permite que tais características estejam cada vez mais presentes. Os versos podem funcionar como um diálogo ao leitor e também podem ser comunicativos com a temática apresentada e de certo, educativos. Renata, ao trazer sua voz nos versos, traz voz também às pessoas que a acompanham e se identificam com a autora. Essa resistência é de grande potencial e importância para representar pessoas, histórias e sentimentos.

Visto isso, a arte e a poesia devem estar inseridas e em constante diálogo com a educação. Nas escolas e também fora dela, precisa-se deste meio para estimular os indivíduos o entendimento de seus contextos pessoais para também entender o social que todos estão inseridos.

A voz protagonista, a empatia e a transformação: tudo isso a poesia pode abraçar. E todos nós, assim com a Renata, esperamos que esta continue abraçando calorosamente tais aspectos.

Referências

Como e por que trabalhar com a poesia na sala de aula. Disponível em: http://www2.uefs.br/dla/graduando/n2/n2.21-34.pdf. Acesso em: 12 de junho de 2019.

A IMPORTÂNCIA DA POESIA NA FORMAÇÃO DO LEITOR. Disponível em: https://www.unigran.br/interletras/ed_anteriores/n20/artigos/2.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2019.

Carta ao senhor da guerra Renata Pallottini. Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet021.htm. Acesso em: 13 de junho de 2019.

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