Educomunicação: a teoria na prática.

Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 25, 2019

“Ainda que complexa e abrangente em sua concepção, a Educomunicação deve ser introduzida nos espaços educativos a partir das condições específicas que caracterizam os diferentes ambientes, e, especialmente, a partir das alianças possíveis de serem feitas entre os agentes sociais que atuam em determinado espaço educativo.” ¹ Prof. Ismar de Oliveira Soares

A afirmação acima aborda a importância da Educomunicação, campo teórico-prático do conhecimento que alinha os ramos da Educação e Comunicação, para um desenvolvimento efetivo da aprendizagem. Nessa perspectiva, há elaboração de diferentes estratégias para que o ensino aconteça, principalmente frente aos novos contextos tecnológicos e às demandas sociais existentes.

É com base nessa concepção que Carlos Lima, coordenador do Núcleo de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, apresenta seu trabalho nas escolas de São Paulo, capital. Tais trabalhos relacionados às escolas públicas não são apenas de cunho administrativo: Carlos se propõe a visitar as escolas nas quais interfere, a fim de intermediar e preparar as instituições de ensino para que consigam aplicar a teoria educomunicativa.

A primeira concepção do coordenador é a de adequação de espaços para que eles se tornem potentes. Um espaço potente é aquele que consegue, de fato, estabelecer a comunicação tecnológica de maneira efetiva, ou seja, é pensado para que aquele que quer ser visto consiga, de fato, ser enxergado. Como no contexto da Educação, muitas vezes, não há essa visão, caberia à Educomunicação esse papel de formar conexões entre os sujeitos, pois de nada adiantaria o uso da tecnologia sem o fator humano.

Esse fator, contudo, tem sido esquecido. Frequentemente, as escolas e os estudantes não encontram apoio em outras formas pedagógicas e os alunos sentem isso, demonstrando um crescente número de transtornos psicológicos. Nesse sentido, percebe-se que a falta de comunicação efetiva tem criado problemas, mas é exatamente por isso que a Educomunicação surge como campo necessário, com profissionais para auxiliar no processo de transição para uma educação mais democrática e dialógica.

Para facilitar essa aproximação, Lima atua em atividades exercidas com foco no protagonismo estudantil, como trabalhos com rádio — Educom.rádio -, cinema, jornal, atividades lúdicas, enfim, ações que requerem a participação do aluno, não apenas como receptor de informações, mas como produtor dos conteúdos que impactam na sua formação.

Esse processo precisa da formação do professor, contudo. Dessa forma, o Núcleo de Educomunicação também tem o objetivo de promover mudança de cultura do docente, haja vista que muitos dos mestres não se sentem confortáveis em mudar suas práticas pedagógicas ou, ainda, não tiveram a formação para aplicar essas novas técnicas.

Os inúmeros projetos, por sua vez, não deixam de passar pelo preconceito existente. A Educomunicação pressupõe uma gestão democrática e, como tal, também remete a um ensino democrático, o que não acontece em muitos institutos que procuram a Secretaria para aplicar práticas pedagógicas, já que existe preferência por instituições municipais não periféricas como receptoras, o que nem sempre é possível. Também há o caso daqueles que desejam aplicar os projetos em números reduzidos de instituições, apenas para fins de divulgação.

Com isso, nota-se que a teoria educomunicativa é aceita, mas na prática acontece a centralização do ensino: aqueles que mais precisam, devido a problemas infraestruturais, acabam ficando sem acesso, dificultando o processo de disseminação de aprendizagem. Entretanto, ainda que haja aqueles que se mantém distantes devido aos empecilhos ou por questões diversas, há também os projetos que, de fato, são encaminhados para as escolas, são realizados magistralmente e retornam de maneira positiva.

Ainda durante a discussão, Carlos Lima levanta a reflexão de como a Educomunicação será parte da vida profissional daqueles que escolheram essa graduação como trajetória. Tal pensamento mostra-se pertinente principalmente porque, como o autor que abre esse ensaio já havia dito, a Educomunicação é uma teoria que deve se adequar a ambientes de ensino e que pode aparecer nos mais diversos formatos. Dentro dessa lógica, o profissional educomunicador — ou o professor que se tornará educomunicador também — precisará compreender as diferenças que existem entre o ensino tradicional e o novo ensino.

Por fim, é perceptível que não só a práxis deve ser campo da compreensão, mas também os meios e a quem ela se destina, pois de nada adianta o conhecimento ser novo se esse for para ser disseminado apenas para aqueles que sempre detiveram o privilégio de conhecer tudo que foi disponibilizado.

Fontes

¹ <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/28.pdf>

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Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas

Escrevo diários desde os 12 anos. As palavras me salvaram a vida inteira. Resolvi escrever mais, para me salvar mais um pouco. <3