Minha avó era palhaço…

Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas
2 min readMay 29, 2019

“O mundo é uma escola, a vida é o circo.”

Photo by Becky Phan on Unsplash

Nesse verso da canção Letras, Marisa Monte entrega a ideia de que a vida é a parte divertida do mundo, tão divertida que pode ser comparada ao circo. O circo, por sua vez, é um espetáculo que carrega consigo a certeza da alegria e o fascínio frente às estranhezas, de modo semelhante à vida.

Desse modo, quando Mariana Gabriel e Deise Gabriel se apresentam para narrar a história de Dona Maria Eliza, a primeira palhaça negra brasileira, tem-se a impressão de que o circo não é apenas mantenedor de sentimentos como a alegria e o fascínio, mas também é espaço de transformação.

Dona Maria Eliza interpretou o palhaço Xamego — sim, um palhaçO — em 1940, no Grande Circo Gurany, e foi pioneira nessa questão, burlando vários preconceitos familiares e sociais para que a arte conseguisse ser mantida (o pai de Dona Maria Eliza era dono de circo e, em determinado momento, ficou sem palhaço para seu espetáculo). Ainda que obstáculos fossem ultrapassados, algumas normas não eram tão intransponíveis e, assim, vestir-se de homem para interpretar o personagem foi a estratégia de trabalho.

O documentário que relata a vida dessa artista, “Minha avó era palhaço!”, realizado pela família do Xamego e dirigido pelas cineastas Mariana Gabriel e Ana Minehira, é também um marco, haja vista que não há registros dessa figura, provavelmente pelos esteriótipos e preconceitos socioculturais. Assim, o vídeo permeado pelos depoimentos de filha e neta, bem como dos amigos e colegas de trabalho, retratam a face maravilhosa, mas nem sempre engraçada do circo.

Assim, questões como o racismo e o machismo surgem. Entrementes, a história do circo também é contada, afinal esse é um espetáculo de disseminação da arte e cultura brasileiras, salientando o papel do negro nessa divulgação e também — quiçá principalmente — no trabalho. Nesse sentido, percebe-se que o documentário é feito de forma nostálgica e poética, a fim de retratar uma história de vida que superou barreiras.

Ao final, da apresentação Mariana Gabriel, neta de Xamego, informa que continua a seguir os passos da avó na área circense, aprendendo também a ser palhaça, de modo a manter a arte nas gerações, demonstrando que, embora o mundo possa ensinar as lições duras, há um espacinho divertido na vida que permite usar essas lições para seguir em frente.

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Mariana Fontes
Encontros com a Arte e os Artistas

Escrevo diários desde os 12 anos. As palavras me salvaram a vida inteira. Resolvi escrever mais, para me salvar mais um pouco. <3