O potencial educativo do audiovisual

Pedro Augusto
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 25, 2019

No texto “Fotografia: uma arte de escolhas” que compõe as minhas reflexões acerca do que foi visto em AACC 3 — Encontro com a Arte e os Artistas, eu trouxe um pouco do meu primeiro contato voluntário com a arte, por meio da fotografia. Nesse texto que encerra o ciclo de relatórios dessa disciplina, falo um pouco mais sobre isso.

Com a virada de ano veio uma nova professora de artes, com propostas diferentes das tradicionais, como as que eu contei no outro texto, o meu apreço pelas suas propostas era grande e a surpresa veio ao saber que o tema central de todo aquele ano em artes seria o Audiovisual. Após esse contato próprio com a fotografia artística no Instagram, essa era uma área que eu admirava muito e participar de um projeto audiovisual na escola foi o próximo grande passo para eu mergulhar ainda mais nisso. Relacionando com as aulas sobre o período da Ditadura Militar no Brasil, em História, a turma (em Artes) se dividiu em grupos e teve que apresentar uma ideia de narrativa sobre esse tema, capaz de ser roteirizada, filmada e editada inteiramente por nós, alunos. Por fim, esse foi um dos trabalhos em que eu mais me envolvi em todo o Ensino Fundamental e foi peça-chave da minha formação básica.

Por saber da importância transformadora do audiovisual na educação, me senti contemplado pelo encontro com Claudia Mogadouro, na aula do dia 4 de junho, que falou sobre cineclubes, seu surgimento, história, envolvimento pessoal e potencial educativo.

Fonte: http://acervo.avozdaserra.com.br/sites/default/files/noticias/lumiar-cineclube_0.jpg

Os cineclubes, em essência, são espaços de debate e compartilhamento de perspectivas acerca de uma produção cinematográfica previamente escolhida e assistida. Não existem regras muito fixas para definir os limites e métodos desse evento, tal liberdade garante que ele funcione de acordo com a realidade e preferências daqueles que participam, o que importa, no fim, é ter gente com vontade de trocar ideias.

A origem dos cineclubes se dá na França, logo após a segunda guerra mundial, em um movimento de resgate da identidade nacional francesa após um período de invasão nazista. Só com essa informação já é possível ver o que muito se diz na educomunicação, que toda comunicação educa e toda educação se dá pela comunicação. Nesse caso, o debate é um espaço-tempo criado para que hajam essas trocas interpessoais, a partir de uma outra comunicação, que é a do cinema, no objetivo de promover uma revisão sobre essa identidade nacional perdida, em certa medida, roubada.

Ocupação da França pelos nazistas. Fonte: https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2011/10/invasao-franca-hitler-paris-307x450.jpg

Pela própria forma como nasceu, o cineclube tem suas bases em um terreno politicamente fértil, ao passo que temas sociais adentram essas conversas, intencionalmente ou não. Por ter aparecido em meio ao século XX, foi uma prática que atravessou regimes totalitários e toda a máquina estatal de censura e controle social, justamente pelo seu caráter mais informal e, ainda assim, politizado, conseguindo realizar uma cena de debate organizado mesmo diante de tantas dificuldades.

Dando continuidade, Claudia passou o curta-metragem “Recife frio”, que, em formato de documentário, trata das mudanças climáticas possíveis em um futuro próximo, com teor de ironia e humor. Com ele, se acirra a relação entre ficção e realidade, utilizando de um medo contemporâneo para justamente gerar reflexão de forma descontraída, o que foi percebido na conversa da turma após assistir o curta e falar sobre seus usos em sala de aula.

RECIFE FRIO. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=U9mu2TJ0scY

Com isso, fica claro o potencial educativo do cinema e como sua aplicação é ampla, podendo gerar empoderamento e protagonismo em trabalhos de produção de curtas (como o que contei), desenvolvimento de diálogos e debates em espaços especiais como um cineclube ou mesmo a utilização do audiovisual de forma expositiva e ilustrativa, mais comum na escola hoje e que mesmo menosprezando tantas potencialidades de linguagem artística, faz parte do processo de interação entre educação e audiovisual.

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