Percepções no audiovisual: da inércia à ilusão

Pedro Augusto
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 25, 2019

O cinema é uma das artes mais prestigiadas na atualidade, contando com uma indústria que movimenta um contingente financeiro gigantesco e, para além do entretenimento, precisa ser entendido e problematizado por seu papel na sociedade contemporânea. Na aula do dia 14 de maio, Cesar Bargo veio dar sua colaboração em mais um encontro da disciplina AACC 3 — Encontro com a Arte e os Artistas, ministrada pela Professora Drª Maria Cristina Castilho Costa.

Cena do filme “A chegada do trem na estação”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CUgvS7i4TDg

Em sua apresentação, Cesar mostrou para a turma o primeiro filme já feito, chamado “A chegada do trem na estação”, de 1895, é uma produção dos irmãos Lumiére e para além de ser um marco histórico na fundação da sétima arte, foi nele que se estabeleceu uma diferenciação essencial do teatro. No cinema, o recorte se faz consciente dos seus arredores, o público sabe que a vida continua existindo para fora dos limites da filmagem, enquanto no teatro é o oposto, as cenas são pensadas para focalizar no “quadro” as ações. No filme dos Lumiére, a movimentação das pessoas é o que mais mexe com essa expansividade, por não estarem em um palco, não sabem ao certo quando surgem ou saem dos limites da câmera.

Outra questão curiosa abordada foi as temáticas dominantes do cinema em seu surgimento. Na sala, o professor colocou isso como um questionamento para a turma e após ouvir respostas como “romance”, disse ser violência, sexo e ação. Surpreendemente ou não, isso diz muito sobre a nossa sociedade por serem temas tidos como tabu. A violência, por mais que permeie as relações sociais a todo momento, é vista como algo que deve ser combatido; o sexo, como algo que não deve ser comentado e a ação, como algo que precisa ser controlada. Me parece que a modernidade e seus conjuntos morais, reguladores e desenvolvimentistas, ao passo que criou o cinema, moldou corpos e conhecimentos, restringindo-os à ficção, negando o ato verdadeiro e oferecendo no lugar dele bilhetes pagos para se sentar e assistir aquilo que não podemos mais fazer.

Fonte: https://castellolopescinemas.pt/wp-content/uploads/2017/06/sala-de-cinema-2.png

Com o tempo, não só o proibido era retratado, como também o impossível imaginável, assim o audiovisual se entrelaçou ao seu potencial de criação e ilusão. Em sala, assistimos alguns vídeos que utilizam dessa artimanha visual, começando com um comercial de carro que traz truques mais conhecidos de ilusão de ótica e realmente conseguem prender a atenção em uma narrativa que provoca o olhar rápido sobre o que é mentira nas situações apresentadas; mostrando também um vídeo sobre um assalto ao banco que brincava com o tamanho dos objetos gerando uma sensação de dessemelhança com a realidade e, para finalizar, uma campanha publicitária que testa o nível de atenção do público aos detalhes e componentes das cenas.

Propaganda do carro: https://www.youtube.com/watch?v=X9TykPkFqe8

Campanha publicitária do detetive: https://www.youtube.com/watch?v=AjBbHbfzwWc

Cena do vídeo “Whodunnit?” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FolUhL5ttw0

Tudo isso prova como a percepção visual não é perfeita, não vemos a realidade de fora, estamos sempre dentro dos fatos e só processamos as informações recebidas após passar por um “filtro” perceptivo, altamente ideológico e subjetivo. O que vemos e o que queremos ver é uma das preocupações principais do cinema, tanto do ponto de vista comercial, que quer criar um produto a ser vendido e para isso precisa gerar interesse; quanto do ponto de vista crítico, que propõe a reflexão sobre aquilo que não nos atentamos em uma rotina acelerada.

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