Ponto de vista no audiovisual

Nas artes visuais ou na fotografia, o ponto de vista é crucial para delimitar qual deve ser o objeto de foco do espectador. O quadro é delimitado ali, com a imagem congelada, para apreciação de quem o observa. O audiovisual, no entanto, se difere exatamente por sua qualidade de mudar o ponto de vista constantemente. O ato não é mais de contemplar, e sim de assistir, pois as imagens mudam constantemente, trazendo uma narrativa que levará o telespectador a passar um período mais prolongado apreciando a obra. Em outras palavras, a obra audiovisual, ao contrário das artes visuais e da fotografia, não é “estática” do ponto de vista imagético.

Entretanto, as primeiras filmagens realizadas (que ainda não contavam com áudio) seguiam as mesmas regras dessas outras artes, procurando mostrar, em movimento, um fragmento da realidade com dimensões espaciais bem demarcadas, que não se movimentavam. Entender isso é crucial para perceber a revolução que o curta “A chegada do trem na estação”, dos irmãos Lumière, de 1895, trouxe à história do cinema e à percepção da mente humana sobre as possibilidades de captação da realidade. Embora tenham mantido uma câmera imóvel para captar um momento de um espaço delimitado dentro do quadro, foi nesse curta que se quebrou as “quatro paredes” da câmera, por assim dizer, trazendo à tona a perspectiva de que a história filmada não se limita ao que está dentro daquele quadro: o tempo e o espaço continuam além dele.

A partir dessa experimentação e exploração artísticas e dos desenvolvimentos tecnológicos posteriores, surgiram os diversos quadros e planos que conhecemos até hoje e que compõem todos os filmes feitos até agora. A maneira de se narrar através do audiovisual ganhou técnicas e, em mais de 100 anos de cinema, teorias que explicam o efeito que as escolhas dessas possíveis maneiras gera na leitura e na interpretação dos telespectadores.

Os planos são responsáveis por guiar a atenção de quem assiste à obra, não só por delimitar o que se vê, mas também como se vê. O Grande Plano Geral pode mostrar o cenário e o contexto em que as personagens estão inseridas enquanto o Plano Detalhe foca em uma particularidade da cena à qual o telespectador deve prestar atenção. O Plano Médio ou Médio Longo aproximam personagem e telespectador a um ponto em que parece haver intimidade entre eles, quase como se houvesse uma conversa entre amigos.

Tudo isso é parte da maneira como se conta a história e, consequentemente, faz parte da narrativa audiovisual, dando a ela as características de uma linguagem própria, que nem a literatura, nem a fotografia ou pintura foram capazes de fazer. Antes, o audiovisual se mostra como uma junção dessas artes, além, é claro, da música (e do som para todos os efeitos). Não é para menos ter sido reconhecida como a sétima arte, trazendo influências de todas as seis anteriores que a geraram.

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