Renata Pallottini: “É escrevendo poesia que o poeta pode perceber quem é”

Radhi
Encontros com a Arte e os Artistas
2 min readMay 29, 2019

É sempre muito bom ouvir alguém apaixonado. Essa é uma das impressões que saltam do encontro com a poetiza Renata Pallottini. Como é bom ouvir alguém que está encantado pelo mundo, principalmente nesse momento histórico de desencantamentos e desilusões. A paixão de Renata pela palavra, — e pela palavra toda: na forma, na tradição, no corpo, no conteúdo — contagia. Ela quer contar tudo: da métrica, da tradição, dos gregos, da semiótica, dos velhos poetas, dos novos, da psicanalise… Tudo é importante, porque poesia e paixão estão misturadas, são a como a mesma palavra escrita de outro jeito.

Em termos pedagógicos, o exercício de apropriação da palavra é primordial para uma compreensão profunda do mundo a nossa volta. Penso aqui nas pequenas experiências que tive nos últimos anos dando aulas. Duas experiências que me marcaram muito, e que acho que contemplam as questões que o encontro com a poetiza me despertam, foram: o privilégio de auxiliar jovens não-alfabetizados no português a escrever, e dar oficinas de escrita criativa para adolescentes.

É sempre latente a mudança que se opera na forma de organizar o pensamento, ou mesmo no modo de se perceber no mundo, que se dá após o trabalho escrito (e particularmente no trabalho de escrita autoral). Durante rodas de leitura e escrita, vi jovens se abrirem para o mundo e para si mesmos. A palavra “empoderamento” anda desgastada, mas a força que vi se exposta nas mãos trêmulas e suadas dos educandos que seguravam as folhas de caderno enquanto mergulhavam em si mesmos, na escuta de si mesmos, era imensa. Após o processo — e não só de escrita mas de leitura e escuta do outro — a sensação de encantamento ficava no ar por algum tempo. As conversas ficavam mais longas, mais profundas. A vontade de se expressar ia aumentando. Outras palavras iam se somando ao vocabulário, ao passo que a forma de ver o mundo ia mudando. Enfim, se existe alguma conclusão a se tirar da costura entre essas experiências, e a visita de Renata talvez seja a da importância da apropriação criativa da língua, por meio da palavra, para a apropriação do mundo — e não só no campo da compreensão racional do mundo, mas do encantamento com a vida que também é fundamental.

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