Tatadrama: brincadeira, subjetividade e educação

Marcelle Matias
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 14, 2019

Aprendemos com o filósofo Vygotsky que o brincar é essencial para o processo de desenvolvimento infantil e o aprendizado. Mas, aprofundando a discussão e refletindo sobre nós mesmos: quando, na verdade, deixamos de lado a nossa parte criança?

Na graduação de Licenciatura em Educomunicação, discutimos, constantemente, o desenvolvimento e o aprendizado do indivíduo desde a tenra infância, e é claro que isso envolve as brincadeiras que fizeram parte de seu mundo lúdico e infantil. O lúdico, dessa forma, não deve ser ausentado quando se pensa Educomunicação, uma área fortemente associada aos direitos da criança, e assim: seu direito de brincar e aproveitar sua infância plenamente.

No dia 2 de abril, a professora Maria Cristina Costa Castilho (vice-chefe do departamento de Comunicações e Artes da ECA-USP), docente responsável pela disciplina CCA300 — Atividades Teórico-Práticas de Aprofundamento III, levou os alunos e alunas do curso de Licenciatura em Educomunicação para o harmonioso Espaço Events. O Espaço Eventos foi pensado para ser um local disponibilizado para psicólogos, terapeutas, profissionais da área da educação, etc. e que queiram alugá-lo a fim de realizar algum tipo de atividade (em grupo ou individualmente). Lá, conhecemos Elisete Leite Garcia.

Psicodramatista socioeducacional e formada em comunicação social, Elisete nos apresenta o método Tatadrama. Iniciado como pesquisa em 2002, o método consiste em um conjunto de técnicas que estimulam a imaginação. No início da aula, Elisete nos instiga a pensar o porque escolhemos a licenciatura em educomunicação como caminho para a nossa formação.

Logo em seguida, somos levados a realizar uma série de exercícios lúdicos, envolvendo, no final da atividade, a confecção de uma boneca de pano — onde poderíamos enfeitá-la da maneira que mais nos identificássemos, inserindo todos os nossos sentimentos e objetivos pessoais.

O brincar é uma forma poderosa de conhecermos o outro e, principalmente, a nós mesmos. Como já dizia Platão: “Você pode descobrir mais de uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa”. O método Tatadrama, por sua vez, acaba fazendo surgir um espaço de reflexão sobre nossas próprias histórias de vida: quem somos, para onde queremos ir e o/os motivos.

Durante a atividade, a subjetividade é valorizada e acaba percorrendo todos os movimentos teatrais realizados, preenchendo as transformações que são feitas nas bonecas de pano e, assim, contribuindo para as trocas de valores e afeto. Diante de todos os sentimentos que o Tatadrama me proporcionou, consegui, de certa forma, “voltar ao passado” e resgatar minha criança que por muito tempo esteve escondida dentro de mim — por conta dos problemas diários, das agitações da rotina, da constante cobrança de ser forte e responsável todos os dias.

Fui para a casa mais confiante, mais esperançosa. Considerei aquele dia importante para minha formação e uma das aulas mais destacantes da disciplina, pois permitiu-me pensar, com mais profundidade, a graduação em Educomunicação em si, nos horizontes diversos que seu paradigma pode proporcionar, que o afeto e a emoção podem (e devem) estar ligados às práticas pedagógicas. Esse é um dos meus objetivos enquanto educomunicadora. A aula me fez sentir mais confiante pela minha escolha, por meus planos, me fez sentir mais esperançosa por um futuro melhor, por uma educação melhor.

Por mais que todas as pessoas, um dia, “crescem”, não há um dia que não estejam aprendendo. E só de pensar, que o brincar foi importante para o desenvolvimento de todos, torna-se imprescindível resgatar, sempre que possível, a criança que existe dentro de cada um.

Ao final da noite, saímos do Espaço Events com os corações aquecidos e conformados com a ideia de que, muitas vezes, as boas decisões que tomamos em nossas vidas são direcionadas e/ou influenciadas pela nossa criança interior.

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