Uma reflexão acerca da ausência da dança na (minha) vida.

Naib S.
Encontros com a Arte e os Artistas
3 min readJun 25, 2019

A minha experiência mais recente me reconectou com uma experiência ainda neste semestre em que tive que lidar novamente com a vergonha e o medo do desconhecido. O processo desse dia foi muito anterior ao estar efetivamente na sala de aula. Foram 7 dias com a mensagem na cabeça de que na próxima aula deveria vestir roupas confortáveis e me preparar para dançar. E o meu primeiro pensamento: meu deus!

Roupas confortáveis: check. Preparação psicológica: not-check. Estava muito nervosa com a possível exposição, e confesso que as coisas não melhoraram com o passar da aula. No primeiro momento descobri uma funcionalidade incrível de uma simples bolinha, que me causou uma sensação indescritível de vida. Meu sangue circulando, meu corpo esquentando e ativo. Coisa que há tempos não sentia, foi estimulado por Camila Bronizeski nessa noite.

O desconforto do grupo em tirar seus sapatos e o medo com o chulé foi engraçado no primeiro momento, e pensei em quantos tabus ainda carregamos sobre nosso corpo e seus modos de existência. Mas nem imaginava ainda o que estava por vir para me tirar totalmente do eixo.

A dança sempre entrou nas atividades do que chamo de “Crenças limitantes” da minha vida. Nunca fui incentivada às artes, muito menos a dança. Movimentar meu corpo ainda está muito ligado ao esporte, a uma intensidade diferente do sincronismo, do tempo e de passos. Ironicamente, algumas semanas antes tentei exercitar minha dança, tentei criar ritmo, melhorar minha coordenação motora na sala de casa, exaustivamente a ponto da minha impaciência ser mais gritante.

Nesse momento de reflexão, enquanto leio esse texto, percebo a importância do movimento corporal fazer parte do currículo escolar. O dançar envolve além de todas as questões biológicas, as questões sociais dos movimentos, da interação com o outro e o olhar. A arte ensina a coragem — o que me faltou em muitos momentos -, a enxergar (ou não) a timidez como uma barreira muito menor do que realmente é, e a entender que se comunicar vai além do uso das palavras.

Essa ausência da dança na minha vivência tornou a experiência com a Prof.ª Camila terrivelmente assustadora, principalmente considerando o olhar do outro sobre mim durante todos os meus passos. A insegurança de me expressar era constante, ainda não consegui entender, apesar de levantar algumas suspeitas, como o medo de revelar coisas que nem eu ainda havia descoberto na minha comunicação corporal, ou o medo do julgamento do outro, que não existe apenas nos meus momentos de expressões artísticas.

Ao final, a gratificação de conseguir completar um passo, de chegar ao final da música tendo encarado o olhar do outro, foi instantânea, ao passo que uma combinação estranha de querer trabalhar essa minha ausência de contato com a dança e também nunca mais querer reviver àquela situação de pico de timidez e estresse ao ter que dançar publicamente. O que a Camila trouxe como experiência, ao final me trouxe uma reflexão maior sobre um sentimento que foi constante ao longo dos encontros do semestre, e me fez querer realizar um fechamento falando sobre isso, e não somente sobre a experiência da dança em si.

A timidez e a insegurança em experienciar o novo estiveram presentes em pelo pelo menos três encontros, o que me fez questionar quais experiências proporcionamos nas escolas, e também a fala de Bourdieu sobre capital cultural, em que crianças que não possuem a oportunidade de terem contato com o incentivo do seu lado artístico podem tornar-se adultos inseguros e bloqueados na criatividade, que não enxergam suas potencialidades e possibilidades. Acredito que ao final dessa autoreflexão, tomarei uma ação que me tirará de uma atual inércia.

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