“Eu sei que quero voltar e sei que vou voltar. Na verdade não há melhor terra que a nossa.”

JAUPA
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4 min readFeb 21, 2017

O orgulho corvino da Daniela Hilário que deixou o seu porto seguro para estudar Fisioterapia.

Olá pessoal! Sou a Daniela e sou do Corvo, o “rochedo” perdido no meio do atlântico e o concelho mais isolado de Portugal. Com 17 anos tive uma volta de 180º na minha vida quando fiz as malas rumo a Coimbra, à procura de prosseguir estudos e de uma vida nova, que naquela altura todos achamos que merecemos e que faz parte. E faz, claro que faz. A partir daí só temos que aproveitar a oportunidade que nos foi concedida e descobrir a vida académica, bem como o que é estudar a sério. Julgo que o que mais doeu e me fez acordar para a vida foi quando, ao terceiro dia de faculdade, a minha mãe voltou para a ilha e eu deparei-me sozinha num mundo que parecia um universo paralelo. A partir dali todas as decisões que eu tomava tinham consequências só e exclusivamente para mim, e tudo o que eu precisava de ver feito só dependia de mim.

Ilha do Corvo, Açores

Feliz ou infelizmente essa não foi a primeira vez que a minha vida deu uma volta gigante, pelo que já estava minimamente preparada. Com 9 anos fui viver para o Faial, e com muito respeito a essa ilha que foi a minha casa… Sou corvina com orgulho! Adoro o facto de puder dizer que sou açoriana, da ilha do Corvo, o meu ilhéu preferido. Tive a melhor das infâncias, a qual alguns nem chegam a pensar que seja possível, e os que pensam invejam. Lembro-me perfeitamente de sair da escola e ir pelas ruelas “à Deus dará” até o sino da igreja dar as 6 badaladas. Corríamos pelas terras, saltávamos muros, esfolávamos os joelhos todos os dias. É incrível como uma ilha de 17km quadrados é tão pequena e ainda assim se torna num mundo. Toda a gente é família. Nós no Corvo aprendemos a viver isolados em comunidade.

Pensar nas minhas ilhas de bruma é sentir um enorme aperto no peito. (…) É ter ânsia constante de voltar, mas saber que temos que cá estar.

Pensar no Corvo, pensar no Faial, pensar nas minhas ilhas de bruma é sentir um enorme aperto no peito. É sentir a felicidade em saber que vamos voltar e ao mesmo tempo a tristeza de ainda não ter voltado. É ter plena consciência que quando chega o dia de voltarmos a entrar no avião, rumo ao continente, vamos sentir a falta dos pais, dos amigos, dos sítios, do mar. É ter ânsia constante de voltar, mas saber que temos que cá estar.

Uma coisa que sempre me deu força foram os meus amigos. E não estou a falar dos amigos da faculdade (apesar desses também terem sido essenciais, obviamente), mas dos amigos com quem cresci, com quem aprendi tudo, com quem apanhei a primeira bebedeira, e que hoje continuam ao meu lado, todos os dias. “Porque os amigos que fazem na faculdade é que são prá vida”, sim, está bem, mas os que vocês trazem com vocês, aquele bocadinho de basalto que têm sempre junto ao vosso coração, são os amigos de sempre e para sempre. Estou no sexto ano da faculdade e todos os dias falo com os meus verdadeiros e incansáveis amigos. Os do Corvo. 10 corvinos com quem falo todos os dias, nem que seja para dizer tolices das mais estúpidas que existem. Sabemos que ser Açoriano é estar perto mesmo estando longe.

Lagoa do Caldeirão, Corvo

Acabei a licenciatura em 2015 e achei que precisava de mais, não sabia o suficiente (acho que nunca se sabe) e vim, desta vez, rumo ao Porto de forma a começar a aventura do mestrado. E quero mais. Quanto mais melhor. E eu considero-me bastante, talvez demasiado, ambiciosa. Tenho tudo para ir ao infinito e garanto que vou. O futuro dos Açores somos nós, os putos que saem de lá em busca de um futuro melhor.

Os que dizem que não querem voltar nunca, têm que pensar melhor e olhar para dentro de si próprios. Amigos, desenganem-se. Tenho plena consciência que, na minha área, para sentir satisfação profissional, tenho que alargar ainda mais o horizonte, por mais bonito e inexplicável que ele seja visto da praia do Corvo. Tenho que aprender e ensinar o máximo que puder. Mesmo que não pense em voltar nos próximos tempos para lá, no fundo sempre que penso no assunto, o meu corpo treme. Eu sei que quero voltar e sei que vou voltar. Na verdade não há melhor terra que a nossa.

Aproveitem as oportunidades que vos aparecem, cresçam, tornem-se os melhores, quem deixa a sua zona de conforto para trás, o seu porto seguro, é capaz de tudo!

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JAUPA
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- Associação de Jovens Açorianos Unidos Pelos Açores